capítulo único

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Lily, com sua blusa de algodão esticada sobre a barriga que continua a crescer, parece preocupada. James, sentado tão retesado quanto se poderia estar, as mãos entrelaçadas com força as dela, ouve enquanto Moody despeja detalhes sobre a segurança da Ordem a longo prazo. Sirius observa o jeito como Lily se inclina na direção de James e a maneira distraída com que ele desenha padrões com os dedos na pele dela. Seu olhar navega na direção de Remus pelo vidro da janela, mergulhado nas sombras dos limites da propriedade dos Tonks. Fumaça circula em volta dele, seu fino sobretudo flutua ao vento.

Remus está sendo destruído pela guerra. Mal nutrido, desempregado e a vagarosa debilidade da licantropia haviam desgastado o menino quieto e modesto que costumava espalhar seu próprio tipo de destruição correndo com os pés descalços e leves como uma pena pelos corredores do dormitório.

Sirius havia notado a mudança, assistindo, como um espectador, Remus definhar sob o estresse. Voltar das missões da Ordem com dedos manchados de nicotina e bochechas ocas. Os detalhes da missão tinham sido omitidos para todos os demais. Remus havia simplesmente acenado para Dumbledore depois da última reunião da Ordem e então desapareceu por duas semanas.

Remus se vira quando percebe que Sirius está vindo em sua direção, dá um sorriso forçado e volta a encarar o céu. A lua cheia é em uma semana. Os marotos não se reuniam para uma lua cheia em quase seis meses.

"James e eu vamos para o Três vassoura." Sirius encolhe os ombros, "para relembrar os velhos tempos." Não é exatamente um convite, mas Sirius deixa suficientemente em aberto para ser interpretado como um.

"Se divirtam." Remus traga o cigarro por um longo tempo, tão indiferente, de uma forma que ele nunca poderia ser quando estavam na escola.

O silêncio se estende, se transformando em algo tangível, estranho e consciente. Como eles haviam sido reduzidos a isso, dois homens que haviam desfrutado uma juventude compartilhada, mas estranhos quando adultos? Havia um tempo, não há muito, que Sirius teria jurado pelo túmulo de seu tio Alphard, que os marotos seriam eternos.

Um engano de uma juventude inocente, acreditando que os laços da adolescência poderiam encarar as dificuldades quando adultos. Sirius volta para o calor da pequena casa e assiste enquanto Remus se reduz a uma figura sombria no brilho opaco da fumaça do cigarro na luz noturna.

*****

Remus está correndo entre dois empregos da próxima vez que eles se encontram, na esquina de uma rua menos conhecida de paralelepípedos em Londres. Sirius acabou de sair de um mercado trouxa e vê, pelo canto dos olhos, Remus virando a esquina. Ele olha para as letras espalhafatosas da loja de penhores.

"Quer almoçar?" Pergunta ao invés de dizer olá. Cansado da inconsistência da guerra e procurando, talvez, por algo familiar. Remus concorda com um piscar de olhos vagaroso.

Sirius tenta não notar a revência com que ele segura a xícara, como as mãos dele tremem imperceptivelmente enquanto ele alcança o menu.

"Eu estive longe. Nas ilhas Shetland."

"Escócia" Sirius torce para que sua surpresa pareça apenas uma educada curiosidade.

"Em vários lugares, isolado. Menos um risco para nós." Nós, Sirius pensa e então descarta, prontamente. Remus sempre havia falado de seu pequeno problema com uma exaustão que beirava a amargura. Sirius aperta sua xícara com força.

"Eu estive pensando em ir te ver por flu." Sirius diz, uma pequena mentira que ele nunca se arrependeu de contar como agora.

Remus não parece esperançoso ou triste, ao invés disso, o enorme peso de seu olhar transmite algo próximo de aceitação.

Love, Trust and Other Wartime CasualtiesOnde histórias criam vida. Descubra agora