4. Adoção

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– Então quer dizer que não temos convidados… além de vocês, é claro

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– Então quer dizer que não temos convidados… além de vocês, é claro. – interroga o Sr. Sebastián. Pareceu estar decepcionado.

– É, parece que não. Não conhecemos muita gente por aqui e, as que conhecemos, ou não aceitaram, ou tem compromisso, viagem… – Antonella tenta explicar.

– É verdade… até o Vicente até agora nem sinal de vida. E olha que eu tinha certeza de que ele estaria aqui. – comenta Valerie. Ao encarar a mesa, percebem que o Sr. Sebastián criou grandes expectativas por esta ceia. A comida encomendada por ele dava para o triplo de pessoas, sem contar a que Antonella, Mía e Valerie prepararam.

Após ficar quieto por um tempo, o Sebastián levanta-se e caminha até a janela, onde permanece encarando-a. Com excessão do barulho das crianças correndo, o silêncio ecoava. As três se entreolhavam sem saber se ele tinha ficado chateado. Depois de alguns minutos, ele caminha lentamente até a porta, de onde diz:

– Queridas, aguardem só um instante. Já já estarei de volta.

Sebastián Muñoz entra pela porta acompanhado por 6 pessoas. Não acredito!

Todos parecem estar bastante felizes, conversam sorrindo e cheios de entusiasmo, apesar de um pouco desconfiados. Sr. Sebastián pede que eles aguardem enquanto busca algo no quarto. Minha mãe os recepciona, pedindo pra que sentem no sofá enquanto esperam. Valerie se aproxima de mim e sussurra em meu ouvido:

– Eu acho que conheço esses homens… principalmente aquele ali do canto…

– Sim, eu estou muito surpresa por vê-los aqui. – percebo os olharem nos encarando. – Já volto! – digo, caminhando em direção aos convidados e sento-me ao lado de um deles. – Oi! Que inusitado te encontrar por aqui!

– Digo o mesmo… Não imaginei que fosse ter essa oportunidade hoje! – responde timidamente.

– Fico feliz! Eu acredito que Deus enviou o Sr. Sebastián até voces.

– Sem dúvidas. E por falar em Deus enviar… agradeço pela ajuda de ontem. Fez uma grande diferença para meu dia.

– Fique tranquilo, Tomás! Você não me deve nada! – sorrio. – E os outros, como se chamam?

– Bom, esse é o Jaime, este é o Carlos, o Sr. Manuel, Francisco e Matias. – eu cumprimento cada um deles. Valerie, que antes estava encostada observado, não aguenta e se aproxima para tagarelar com os homens. Todos eles eram moradores de rua, os mesmos que costumávamos ver diariamente e ajudar quando era possível. O Sr. Sebastián também os conhecia, visto que é um velho morador do bairro.

–  Caros amigos, aqui estão algumas toalhas e roupas, são minhas, espero que sirva. Não é possível comprar nada hoje, as lojas estão todas fechadas!

– Pra nós, é suficiente! – responde Carlos, que aparentava ter uns 40 anos.

– As roupas não cabem em mim, senhor, mas não precisa se preocupar, as minhas foram adquiridas ontem! – comenta Tomás, o único jovem entre o grupo.

– É meu jovem, observei da minha janela ontem que um pequeno anjo fez-lhe este favor. – diz sorrindo pra mim. – A sua ação foi o que mais me motivou a convidá-los a estar aqui conosco hoje, visto que nossos convidados não tiveram interesse em jantar com este velho aqui. – todos riem. Um por um, eles caminham até o banheiro para tomar um banho. Minha mãe se oferece para dar um pequeno jeito na barba e cabelo de todos, e assim faz. Às 21h30, quando o sol já estava para se pôr, nos sentamos à mesa para finalmente jantarmos.

– Garoto, você me parece tão jovem… Como veio parar nessa situação? – indaga o Sr. Sebastián. Creio que esta era uma pergunta que todos queríamos saber.

– Bom, na verdade eu não sou chileno, mas sim argentino. Não conheci meu pai, pois ele abandonou minha mãe desde muito cedo. Assim, minha mãe fazia o que podia para cuidar de mim na Argentina. Eu estudei lá até os 19 anos, quando minha mãe mudou para cá após ser transferida do emprego. Era perder o trabalho ou mudar-se, ela não teve opção. Infelizmente, depois de 2 anos a empresa faliu e ela foi demitida. Não tínhamos casa própria. Os aluguéis começaram a acumular e as coisas foram ficando difíceis. Minha mãe não conseguiu outro emprego à tempo, então fomos despejados da casa e tivemos que morar na rua. Eu era um jovem forte, mas minha mãe já tinha 54 anos. Com a chegada do inverno, ela ficou doente, creio que uma pneumonia, e faleceu no ano passado… – sua voz fica embargada. Todos o encarava atônitos. Não imaginávamos que a vida do Tomás tivesse sido tão difícil, mas agora entendemos o porquê de ele realmente parecer diferente dos outros naquela mesma situação.

– Sabe, eu tenho muitas riquezas, mas elas não puderam me sustentar quando meu mundo caiu... também perdi alguém muito especial para mim, me trouxe muita dor, mas entendi que, enquanto eu estiver vivo, posso ser benção para a vida dos outros. Por isso, todos vocês a partir de hoje tem uma casa e comida. Não terão que passar mais frio, fome, sede, pois eu estou adotando vocês. Minha casa é a maior do prédio, e existem quartos pegando poeira. São seus, ainda que eu venha a falecer. Organizarei a papelada antes de partir.

Depois de ouvir aquelas palavras da boca do Sr. Sebastián, todos ficamos emocionados. Alguns daqueles homens desabaram em choro, enquanto outros não tinham palavras para agradecer.

– Senhor, eu tenho 67 anos de idade, e em todo esse tempo, nunca vi bondade tão grande quanto a sua. Não sei como te pagar pelo que está fazendo por nós. – diz o Sr. Manuel, o mais velho do grupo.

– Não precisa. Eu aprendi muito com o senhor Jesus, com Deus, nesses últimos tempos. Muitas vezes, a Antonella, a Mía,  a Valerie e o Vicente vinham me visitar para falar sobre a Bíblia, mas eu nunca aprendi tanto com eles por suas ações do que por suas palavras. Eu que sou imensamente grato!

O Lugar Onde Termina A Terra - CONTOOnde histórias criam vida. Descubra agora