— Desmatamento, incêndio florestal, atentado ao patrimônio público, vandalismo... Por Deus! Onde vocês estavam com a cabeça? Foi pra isso que saíram de casa? Para virar delinquentes juvenis que são expulsos de todos os lugares porque não sabem agir como seres humanos racionais e pensantes? — Minha mãe, também conhecida como o adulto responsável que veio nos buscar, continua com o sermão que começou no momento em que o Sr. Yin e o diretor do acampamento nos deram as costas e sairam de suas vistas.
Agora dentro do carro, ela falava sem parar do quanto estava decepcionada com tudo o que fizemos e como nós estávamos enrascados, dizendo que provavelmente ficaríamos de castigo pelo resto de nossas vida, o que todos sabemos que não é verdade, porque vamos ser liberados de qualquer castigo por conta do bom comportamento que nós vamos fingir ter, mas que na verdade não existe e é pura atuação.— Foi só uma árvore, então acho que não se encaixa no crime de desmatamento florestal. — Yugyeom se defende, mas minha mãe apenas olha para ele pelo espelho retrovisor, puta da vida, o que faz ele soltar uma risadinha sem graça e virar o rosto em direção a janela do carro, parando de falar e fugindo como um grande frango. — E eu não sou realmente o culpado, eu estava apenas dirigindo o carro, quem derrubou a árvore foi Deus.
— E o incêndio atingiu apenas alguns pequenos arbustos, então também não se encaixa no crime de incêndio florestal. — Youngjae comenta distraidamente, de todos ele é o mais calmo, como se não estivesse com nenhum pingo de medo de ser castigado, o que faz com que eu me pergunte se ele faz esse tipo de coisa o tempo todo, e considerando o quanto minha coisinha gosta de um drama, eu não me surpreenderia se essa não fosse a primeira vez
— Além disso, o acampamento tem um dono, então acho que não pode ser denominado como patrimônio público. — Bambam da de ombros, calmo como se fosse inocente, mas isso apenas enfurece mais ainda a minha mãe, que aperta o volante até que os nós de seus dedos fiquem brancos.
— Vocês já estão encrencados o suficiente, tem certeza que querem se enrolar mais ainda? — Isso é o suficiente para fazer com que todos voltem a ficar em silêncio, de cabeça baixa como animais de estimação que foram pegos fazendo merda. — Vocês poderiam ser presos!
— Somos menores de idade, tia. — Yugyeom faz questão de lembrar desse fato, mas isso não acalma minha mãe em nada, na verdade ela parece ficar mais brava ainda.
— ISSO É PIOR AINDA! — Ela pisa no acelerador, dirigindo como se estivesse fugindo da polícia, e isso faz com que eu coloque o sinto de segurança disfarçadamente, para não levantar suspeitas e não chamar a atenção de ninguém. — Vocês iriam para um reformatório, ficar junto com aquelas crianças que fizeram coisas horríveis, correndo riscos desnecessários e sendo punidos como adultos.
— Acho que isso é um castigo bem justo. — Jinyoung comenta, contrariando minha mãe na cara mesmo, como se não estivesse nenhum pouco assustado com todo aquele sermão, e na verdade, eu acho que ele realmente não está, como se não se importasse nem mesmo com isso. — Levando em consideração tudo o que a gente fez, acho que passar uns meses no reformatório seria um castigo até que leve. Ficaríamos no setor mais baixo, junto com os outros adolescentes bonzinhos que fizeram coisas ruins pela primeira vez na vida e foram pegos, separados dos delinquentes de verdade, e o máximo que sofreria-mos seria ser obrigados a participar de todas as aulas, palestras e grupos de apoio que eles dizem ser opcional, mas que na verdade não são, mas não correríamos risco de vida nem nada, seria bem seguro.
— Por que diabos você sabe de tudo isso? — Jackson pergunta, exasperado. Ele e Mark estavam conosco no carro, porque descobrimos que na verdade as mães dos dois já conheciam minha mãe, trabalhavam juntas e tudo, e eram como melhores amigas, então combinaram de que minha mãe viesse nos buscar, enquanto elas esperavam na nossa casa junto com os resto dos pais.
— Eu tenho um passado. — Jinyoung responde de forma vaga, ficando com um semblante meio frio do nada, então muda a atenção que dava para todo mundo e olha para a janela, pensativo, e essa é sua forma de dizer que estava saindo da conversa e que não importava se estavamos curiosos para saber mais sobre esse passado, porque ele não iria falar mais nada sobre ele.
— Todos temos. — Dou de ombros, falando apenas para quebrar o silêncio que se fez no carro, e até mamãe parecia ter ficado curiosa sobre esse tal passado ao qual Jinyoung se referia, mas era inteligente demais para entender que não deveria cutucar o vespeiro.
— Mas Jinyoung está certo, eu já fui para o reformatório uma ou seis vezes, posso garantir que é uma merda, mas de todos os níveis, o que a gente iria ficar seria o mais fácil. — Bambam comenta, mas sua fala chama a atenção de todo mundo, até mesmo do próprio Jinyoung, que franze a testa olhando para o tailandês, parecendo lutar internamente, como se quisesse falar algo, mas não sabendo se deveria.
— Uma ou seis vezes? Você já foi para o reformatório seis vezes? — Mark pergunta, alarmado, mas Bambam apenas sorri e da de ombros.
— Claro que não! — Bambam nega com a cabeça e todos nós respiramos aliviados. — Na verdade foram sete, mas em uma delas eu fui liberado e preso de novo tão rápido que eu considero apenas uma.
— Você é uma pessoa horrível. — Youngjae comenta, abismado, e isso só faz Bambam sorrir mais ainda, como se estivesse orgulhoso de ser assim.
— Tento dar o melhor que eu posso, mas não tenho culpa se o melhor que eu posso é todo errado.
— Vocês são realmente inacreditáveis. — Minha mãe resmunga, brava, o que nos faz voltar a realidade e lembrar que estavamos sendo levados para nossa própria morte. — Mas já que estão tão interessados em ir para o reformatório, então é isso que terão.
— O que você quer dizer? — Mamãe sorri com a pergunta de Yugyeom, parecendo feliz com a idéia que teve, e eu tremo com isso, porque já sei mais ou menos o que ela pretende fazer.
— A partir de agora vocês vão ficar sem celular, televisão, vídeo game, computador ou qualquer outro aparelho tecnológico. Não poderão sair de casa para nada além de ir para a escola e não poderão se ver em lugar algum além dela. Vocês estão oficialmente presos e sem chance de fiança. — Todos ficamos boquiabertos com a sentença, mas minha mãe parece bastante feliz com isso. — E é claro, nós vamos procurar alguns trabalhos comunitários onde vocês possam se voluntariar, para que vocês possam de alguma forma pagar a dívida de todo o dano que causaram.
— Você não pode fazer isso! — Yugyeom resmunga, desesperado. — Talvez possa com o Youngjae, o Jaebeom e o Bambam, mas não comigo e os outros, nossos pais...
— Eu tenho certeza que seus pais vão concordar comigo. — Minha mãe interrompe Yugyeom e seu discurso desesperado, então sorri brilhantemente, feliz da vida. — Estão de castigo, meninos, meus parabéns.
— E por quanto tempo? — Eu pergunto, baixinho, mas ela me olha pelo espelho retrovisor e sorri como a bruxa má de um filme de terror.
— Tempo indeterminado.
— Puta merda! — Youngjae exclama, virando o rosto para todos no carro, mas parando diretamente em mim, parecendo meio perdido. — Nós estamos fodidos, Bummie, fodidos! — Sorrio com o jeito fofo como ele soou, então o puxo para meus braços e o abraço o mais forte que consigo com apenas um braço, apenas para tentar reconforta-lo, o que parece funcionar, pois ele suspira e o sinto relaxar aos poucos.
— Estamos mesmo, mas eu estou aqui e enquanto eu estiver aqui, nada de mal vai te acontecer, eu prometo. — Sussurro só para ele ouvir e ele levanta a cabeça e me encara, mesmo sem poder me ver.
— Promete de dedinho? — Ele estica o dedo mindinho na minha frente, o que me faz sorrir mais ainda e entrelaçar meu dedo mindinho com o dele.
— Prometo de dedinho.
— E seja o que Deus quiser. — Bambam comenta e depois disso todos ficam em completo silêncio até o fim da viagem de volta.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Blind • 2Jae (HIATUS)
FanfictionAquela onde Choi Youngjae é cego, pois nasceu sem enchergar, e Im Jaebeom é cego, pois não consegue ver a beleza do mundo, mesmo podendo ver.