vou te socar em nome da lua | taeyeon + tiffany

Único; nhaw!

Tiffany não foi recepcionada com beijos e perguntas sobre seu dia quando chegou do trabalho. A casa estava no mais completo silêncio, como se ninguém vivesse ali.

Primeiro, ela imaginou que Taeyeon ainda não estivesse em casa, mas logo entendeu quando chegou na sala de estar; Taeyeon estava dormindo no sofá, em uma posição tão desconfortável que lhe renderia um terrível torcicolo mais tarde.

A mais nova jogou a bolsa no chão, esperando que o baque surdo fosse acordá-la, porém não houve nem um espasmozinho em resposta. Ela devia estar mesmo cansada, era a única explicação plausível.

Em todos esses anos morando juntas, Taeyeon sempre foi a primeira a acordar de manhã, e quase sempre é a primeira a chegar em casa. Quando o dia cansativo termina, ela vai direto para o banho e come alguma coisa antes de tirar seu cochilo merecido. Naquele dia, entretanto, já eram quase seis da tarde e ela ainda estava com seu terninho azul marinho e os pés ainda com saltos altos.

O rosto de Taeyeon também estava brilhando com cores fantasiosas dos produtos de beleza que ela vivia usando. A sombra nos olhos e o batom nos lábios pareciam frascos, como se tivesse acabado de aplicá-los.

Não precisava de muito para entender que, se ainda estava maquiada, não havia tomado banho e, provavelmente, não havia comido também.

Tiffany suspirou e ajoelhou-se em frente ao sofá para acordá-la.

Sua mão acariciou os cabelos castanhos que caiam sobre sua testa e roçavam seus longos cílios. Tiffany a achava parecida com uma personagem de mangá por causa de seu rosto fino e mandíbula afiada, além de seu pequeno, e quase delicado, nariz de botão, mas agora ela estava mais próxima a um anjo.

— Acorda, dorminhoca — Jung sussurrou, tocando suas bochechas rosadas e apertando-as levemente, porém o suficiente para que um biquinho involuntário se formasse em seus lábios.

Como Taeyeon não move nem um dedo sequer, Tiffany continua a cutucar sua pele lisinha e firme, crente de que a Kim acordará só pra começar seu discurso neurótico de que a idade já estava chegando para deixá-la pelancuda.

Acontece sempre que alguém toca em seu rosto ou quando elas estão no meio de um episódio aleatório de Sailor Moon. Taeyeon cutuca Tiffany e despeja um monte de coisas que, muitas das vezes, fogem da realidade.

"Tá vendo isso, amor." Seus dedos apontam para sabe-lá-o-quê em seu próprio rosto e, com os olhos tristonhos, continua: "Minha pele está ficando flácida!"

Ciente de que aquilo é só uma crise passageira, Tiffany sempre vira-se para esposa com um sorriso terno.

"Deixa de coisa, Taeyeon." Ela repreende a mais velha. "Você ainda tá na flor da idade."

A Kim parece esquecer do assunto depois de alguns beijinhos, mas sempre volta a julgar suas pobres bochechinhas, muitas vezes castigadas por produtos de beleza inúteis.

Tiffany roça o nariz de leve em uma das maçãs, sentindo o cheirinho de seu creme de morango. Bitoquinhas leves são depositadas no local até que seus dentinhos nervosos mordiscam a carne de sua esposa; ela não tinha culpa se Taeyeon tinha deixado a bochecha dando sopa.

Com o crescente desejo de descobrir se o gosto é tão bom quanto o cheiro — embora soubesse bem que o produto não era para consumo —, ela se permite concretizar a ideia doida que se irrompeu como o nascer do sol e… nhaw!

Deu uma mordida em Taeyeon. 

A coitada levantou de supetão, assustada, com a mão  no local onde sentia uma leve dor. Suas sobrancelhas franziram levemente e, quando encarou Tiffany, entendeu o que havia acontecido.

— Maldita! — ela disse, esfregando a bochecha com a mão para tentar fazer a dor sumir. — Vou te socar em nome da Lua, viu?

— Calma, meu doce. É só uma mordidinha carinhosa.

— Carinhosa? Você quase arrancou um pedaço da minha bochecha, Tiffany! Doeu pra caramba, visse?

Tiffany gargalhou, acolhendo sua esposa em um abraço.

— Por acaso você está dizendo que meu amor te machuca?

— Tô falando das tuas mordidas.

— Mas são mordidinhas de amor — Tiffany sussurrou no ouvido de Taeyeon e seus dentes voltaram a mordiscar a bochecha alheia.

Taeyeon desvencilhou-se daqueles braços magrelos, com a cara de quem foi mordida mais uma vez e não gostou nadinha, e resmungou antes de sair pisando firmemente em direção ao quarto delas: 

— Ah, vai morder o teu pai!