Meu amor é todo seu, jagiya

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25 de dezembro de 2020

Jungkook está ali, sentado no tapete da sala de frente para mesinha de centro, pegando a garrafa de vinho em meio as comidas que fizemos e algumas que ele pediu no delivery, está tentando abrir a garrafa a todo custo. Fico apreciando o momento, a forma como ele pisca lento e morde o lábio inferior, uma mania sua quando está concentrado demais em fazer algo. Talvez ele esteja mais concentrado do que realmente seja necessário, mas acho que isso se deve às três taças de vinho que já tomou. Seu rosto ganhou um tom sútil de rosa devido a bebida, ressaltando aquele ar ingênuo que paira sobre ele em muitos momentos.

Enquanto o observo se esforçando demais para abrir mais uma garrafa de vinho, deixo que o amor fale mais alto dentro de mim, ele fez tudo isso para que eu me sentisse bem e acolhida. Dois mil e vinte foi um ano longo, com tantos baixos para tantas pessoas, inclusive para mim. Não só devido a situação atual do mundo, mas minha situação pessoal. E particularmente falando, foi um ano desgastante, esquisito, cheio de surpresas desagradáveis e pensamentos que me deixaram estranha. Mudei de uma forma que não julgo saudável, e a maior parte dos dilemas que vivi foram todos internos. E eu não disse a Jungkook pelo menos boa parte das coisas que estavam acontecendo. Ele sabe de algumas das minhas dificuldades, e tentou me ajudar com todas elas como ele sempre fez, contei para ele sobre coisas que me sentia confortável para falar, mas outras guardei só para mim e acho que fiz o certo. Todos passamos por dificuldades durante esse ano, até mesmo ele. Eu sei o quanto ele sofreu e ainda sofre por não poder fazer o que mais ama por conta da situação em que estamos. Sempre tento poupá-lo de assuntos e problemas que possam causar algum tipo de estresse desnecessário.

Entre todos os problemas, a saudade da minha família era um deles. Estava me programando no início do ano para poder ir para casa, passar alguns dias com minha mãe e meus irmãos. Esse seria o primeiro ano que eu passaria o Natal com minha família desde que vim para Coréia pela primeira vez, e já fazem quase oito anos que estou aqui. E não que eu esteja reclamando, mas viver tão longe é difícil. Já fazem três anos que não vejo minha mãe ou meus irmãos, e mensagens e ligações por vídeo chamada não são o suficiente para saciar toda a saudade que sinto deles. Nada substitui um abraça ou um carinho, nenhuma tecnologia é capaz de substituir o contato físico, o afeto que o convívio proporciona. A última vez que os vi foi naquela situação horrível e triste, em que tudo foi feito às pressas, inclusive minha ida e volta. É o tipo de lembrança que não gosto de reviver. E por esse motivo de não poder visitar minha família, passei a semana inteira um pouco desajustada, triste e ansiosa. Esperava que meu final de ano fosse diferente, mas o destino tem seus próprios meios de agir.

Não sei se é pelo tempo ou pelo nível de intimidade que eu e Jeon temos, mas ele percebeu de imediato que eu não estava muito animada para o Natal, e isso é totalmente incomum para mim, essa é uma época do ano que valorizo muito, apesar de não ser praticante da fé cristã. Ele sabe que esse é um período precioso e cheio de significados para mim, e sabia também que esse era o ano que eu tinha reservado um tempo e criado expectativas para estar com minha família. No sábado enquanto eu revisava alguns trabalhos antes de dormirmos, ele se sentou ao meu lado na cama e passou a mão pelos meus cabelos, encostou seu rosto no meu num gesto de carinho singelo e perguntou:

Noona, você está triste porque não vai ver sua família, não é?

No mesmo instante meu coração se apertou e meus olhos ficaram marejados, foi rápido quando as lágrimas começaram a rolar no meu rosto assim que a saudade se tornou forte demais. Sorte a minha que tinha ele ali naquele momento tão delicado. Não demorou mais que dois segundos para suas mãos quentes e macias me alcançarem, me puxando para os seus braços que me dão o único abraço nesse mundo que é capaz de acalmar meu coração quando tudo está difícil. E mesmo que eu estivesse triste naquele instante, sentir seu toque de carinho me fez sentir amparada, como sempre me sinto quando estou com ele. Mas tudo realmente melhorou quando o ouvi dizer:

O amor sempre terá o seu calorOnde histórias criam vida. Descubra agora