Capítulo 14. Já me acostumei

1K 146 16
                                    

...

Quando uma pessoa tão importante na nossa vida vai embora, nós ficamos sem saber o que fazer, mas devemos seguir em frente, pois, por mais difícil que seja, a vida deve continuar.

TABLOIDE DE GRUFFIN, por LADY EMYLINE.

(Coluna publicada depois do falecimento de Liam Campbell, o antigo duque de Gruffin.)

Emma estava lendo o seu livro, sentada na cadeira ao lado da cama de Thomas, que tinha dormido depois que ela o obrigou a comer mais sopa e tomar muito líquido, como o médico havia mandado. Ela se pegou olhando para o quadro de Hanna e Isabela várias vezes depois que ele dormiu, admirando a beleza séria e imponente de Isabela.

Noiva. Thomas tinha tido uma noiva.

Ele poderia ter se casado, tido filhos e estar sendo feliz com ela, Emma se sentia mal com isso, mas ficava feliz em saber que as coisas tinham acontecido como aconteceram, assim ela podia ter Thomas para si, amá-lo e ser amada por ele. Ela ainda sorria, relembrando as palavras dele, dizendo que a amava.

Um barulho chamou sua atenção e ela olhou para a porta, onde Catarina estava parada com um olhar receoso. Emma se levantou e saiu para ver o que ela queria, não queria que Thomas acordasse com a conversa, ele ainda parecia muito abatido.

- Ele está melhor? – Catarina perguntou, Emma assentiu. – Que bom. Eu... eu queria pedir desculpas por tudo que eu falei ontem, acho que não fui muito justa com você. Thomas realmente te ama, eu só falei aquilo para ferir você, me perdoe.

Aquilo estava mesmo acontecendo? Catarina Campbell estava se desculpando? Devia ser o fim do mundo.

- Está tudo bem. – Emma garantiu. – Não existe mais nada que você ou qualquer pessoa diga que faça com que eu duvide dos sentimentos dele por mim.

Catarina abriu um sorriso amarelo.

- Como pedido de desculpas, eu trouxe o Tabloide de Gruffin para você. Você saiu da mesa pela manhã e nem leu as notícias.

Pela manhã? Emma olhou pela janela do corredor, já era quase noite. Ela e Thomas passaram quase o dia todo conversando e ela nem viu o tempo passar.

- Obrigada, mas eu não preciso ler, provavelmente já sei tudo que está escrito aí. – Emma disse de modo desinteressado. – E não são notícias, são fofocas.

- Bem, ok, então. – Cat disse, dando de ombros. – De qualquer forma, você deveria ler, Lady Emyline falou sobre você.

Aquilo era mais uma coisa que Emma pensou durante o seu tempo como enfermeira de Thomas. Quando se casassem – sim, quando e não se –, Emma teria que se conformar em dar adeus à Lady Emyline, ela não poderia morar em Hemilton e manter-se ativa na alta sociedade, mas isso, apesar de ser algo muito importante na vida de Emma, não era algo que ela fosse sentir falta. Qualquer pessoa se sentiria feliz em nunca mais ser mencionada em um tabloide de fofocas. Ela estava pensando muito em tudo que perderia ao sair da casa da mãe em Rudá e morar em Hemilton, mas não achava que fosse ser ruim, todo ciclo precisa de um encerramento.

- Ah. – Catarina exclamou, quase no topo da escada, e se virou para Emma novamente. – A mamãe escreveu. Ela disse que virá para o rancho mais cedo com Caleb e Beth, se quisermos ir para lá mais cedo também, ela chegará na quarta. Sei que provavelmente você não irá querer terminar suas "férias" mais cedo, mas estou avisando mesmo assim.

Emma assentiu em agradecimento e voltou para o quarto. Thomas estava virado de lado, de costas para a porta, e ao ouvir os passos de Emma ele voltou a se virar novamente.

- Como se sente? – Emma perguntou, sentando-se na sua cadeira e pegando seu livro.

- Um pouco melhor, mas estrou ficando com frio de novo. – Ele disse com a voz rouca pelo sono.

Prontamente, Emma já foi até ele e se sentou ao lado dele na cama, colocando a mão sobre a testa dele para conferir a temperatura. Não estava com febre, pelo contrário, ele realmente estava frio.

- Você está frio, acho melhor colocar uma camisa. – Ela disse. – Onde ficam?

Thomas apontou para uma cômoda, Emma foi até lá e abriu a primeira gaveta, encontrando as camisas, pegou uma mais grossa de algodão, que provavelmente ele usava para dormir, e entregou para ele.

- O que a sua irmã queria? Ela precisa de algo? – Thomas perguntou, prestativo, enquanto Emma arrumava os travesseiros dele para que ficasse mais sentado.

- Catarina está bem, não se preocupe com ela. – Ela tentou manter-se amigável. – Tudo que ela queria era se desculpara pelas coisas que me disse ontem à noite.

- Vocês brigam muito?

Ela negou com a cabeça antes de responder, então se sentou na beirada da cama dele, sua mão repousando ao lado da dele no colchão, quase se tocando.

- Nós sempre fomos muito próximas, mas temos nossas discordâncias. – Ela contou. – Ela é a caçula, Caleb vive viajando desde os dezoito, Beth se casou há vários anos e Anthony e Joe sempre tiveram a vida deles, então só sobrava nós duas, acabamos ficando muito próximas.

Thomas assentiu e abriu um sorriso, olhando para a irmã imortalizada no quadro.

- Hanna e eu sempre brigávamos. – Ele contou. – Tudo que um gostava, o outro odiava, nunca conseguíamos encontrar um meio termo com facilidade. E então o meu melhor amigo começou a cortejá-la, aquela vez foi quando tivemos a nossa pior briga, ela ficou sem falar comigo por um mês, só me convidou para o casamento depois que eu pedi desculpas por ter agido precipitadamente, mas ainda acho que a minha reação não foi exagerada. Os dois trocaram bilhetinhos apaixonados por um ano e depois começaram a se encontrarem escondidos por seis meses, só depois de tudo isso é que contaram sobre a relação para as famílias, quando já corria o risco de ela estar grávida.

Emma sorriu antes de falar.

- Peter, esposo de Beth, era amigo de Anthony. Ele surtou quando pegou os dois se beijando no jardim do rancho, obrigou os dois a se casarem.

- Mas eles se amavam ou ele estava se aproveitando dela?

Ela gostava de como ele sempre perguntava alguma coisa quando Emma falava sobre a sua vida, ele demonstrava interesse no assunto, não era como se estivesse só ouvindo por educação.

- Se amavam. – Emma deu de ombros. – Mas nenhum dos dois tinha coragem de admitir isso, e havia um boato de que Beth estava prometida ao filho da melhor amiga da minha mãe. Mas tudo acabou bem. Enfim, irmãos podem ser difíceis as vezes, mas é muito ruim ficar longe deles, quando Caleb viaja, eu sinto que estou perdendo um pedaço do meu corpo.

- Nem me fale. – Thomas comentou de forma triste e Emma se arrependeu de ter falado sem pensar.

- Sinto muito, eu não...

- Está tudo bem. – Garantiu ele, com um sorriso triste. – Já me acostumei. Chega uma hora que a gente precisa se acostumar.

Emma segurou a mão dele e apertou de forma amigável, para mostrar que estava ali com ele.

- Bem, – ela disse com um sorriso. – Quando nos casarmos, você será da família, terá muitos irmãos também. Só não sei se isso vai mesmo ser algo bom.

- Quando nos casarmos? – ele questionou, com um sorriso nos lábios e uma sobrancelha arqueada.

- Sim. Não pretende me pedir em casamento, Sr. Lewis? – ela semicerrou os olhos.

- Com toda certeza, Srta. Campbell. – Ele respondeu, levando a mão dela aos lábios e depositando um beijo na palma dela. – A senhorita aceitaria meu pedido?

Emma fingiu refletir.

- Não sei, sou uma dama misteriosa, terá que arriscar para descobrir. – Ela deu de ombros fingindo superioridade.

Thomas riu. 

O segredo de Emma CampbellOnde histórias criam vida. Descubra agora