A verdade pode ser dura na maior parte das vezes, mas permanecer na ignorância pode ser ainda pior em muitos casos. As exceções sempre existem, mas Lady Emyline preza pela verdade acima de tudo.
TABLOIDE DE GRUFFIN, por LADY EMYLINE.
Este momento acabaria chegando, Emma sabia disso e pensou muito em como contar, mas não conseguiu achar nenhuma forma mais fácil. Se ela quisesse mesmo se casar com Thomas, teria que confiar nele e contar toda a verdade, esperando que ele a entendesse e continuasse a amando.
Ela inspirou profundamente, tomando coragem.
- Eu... eu tenho muito, muito dinheiro.
Thomas franziu a testa, depois sorriu.
- É claro que tem, seu pai era um duque e príncipe. – Ele disse, sorrindo.
- Não. Esse dinheiro é do meu irmão e da minha mãe, estou dizendo que eu tenho muito dinheiro. – Thomas pareceu compreender o que aquilo significava, mas não era o que ele estava pensando, existiam poucas formas de damas terem seu próprio dinheiro, a mais comum era venderem seus corpos em clubes ou mesmo nas ruas. – Não consegui meu dinheiro da forma que você está imaginando. Eu tenho muito dinheiro, mas não sou uma prostituta.
Alivio tomou a expressão dele, então ele perguntou:
- Como? Não posso entender como você pode ter tanto dinheiro.
- Eu gosto muito de... informações. – Emma disse com receio, torcendo para ele ler nas entrelinhas. – Sou uma pessoa muito bem informada e uso isso para ganhar dinheiro.
- Você é...
- Lady Emyline. – Emma completou com um suspiro. – Sim, eu sou a pessoa por trás desse pseudônimo. Há cinco anos eu escrevo os tabloides com colunas sobre a alta sociedade, exponho os maiores segredos de toda a ilha e ganho muito dinheiro com isso.
- Como? – Thomas perguntou, ele parecia pálido e muito surpreso com a informação. – E por que você fez isso? Sua família tem muito dinheiro, certamente não foi esse o motivo.
- Eu sempre tive muitos correspondentes, frequento a casa das maiores fofoqueiras da ilha, sei de tudo que acontece. No início, eu publiquei a primeira coluna para expor homens que estavam seduzindo diversas damas, abusando delas e depois abandonando-as, uma amiga minha foi abandonada grávida, a família a encerrou em um convento e deu o filho para um orfanato, aquilo mexeu comigo. Um desses homens tentou me seduzir quando eu estava na rua, eu tinha dezesseis anos e ele simplesmente me abordou quando eu voltava da casa de uma amiga, ele começou a caminhar ao meu lado e dizer que eu era muito linda, que ele amava ruivas, então ele simplesmente passou a mão na minha bunda e segurou a minha cintura, me puxando para perto dele, ele abaixou e sussurrou no meu ouvido que era louco para descobrir se era ruivo naquela parte também, eu chorei por vários dias só por lembrar das palavras dele e da sua mão sobre o meu corpo. – Emma pausou, as lágrimas lhe escorrendo pelo rosto ao falar sobre isso. Ela tinha trancado aquelas lembranças no fundo da sua mente, era difícil para ela falar sobre aquilo sem reviver a história e sentir-se mal outra vez, lembrar-se que os homens achavam que tinham o direto de fazer aquilo com ela e outras apenas por serem mulheres e que elas deviam se sentir gratas por essa "atenção". – Quando o imbecil percebeu que eu era filha do duque, ele correu, mas eu me lembro até hoje da cara dele. Aquilo não podia continuar acontecendo, então eu escrevi a primeira coluna, publiquei com a minha mesada e muitos dos cavalheiros que citei foram punidos, inclusive aquele que tentou se aproveitar de mim.
"Depois disso, eu não iria mais escrever, mas as pessoas começaram a comentar e Lady Emyline ganhou uma fama absurda, eu vi uma oportunidade de pelo menos recuperar o meu dinheiro e continuar denunciando essas coisas erradas. As damas nunca têm voz na nossa sociedade, eu me propus a ser essa voz. Claro que eu também precisava criticar pessoas e fazer inimigos, afinal, eu tinha que manter meus leitores, mas o principal objetivo de Lady Emyline sempre foi dar voz para as damas. Em nenhuma coluna publicada por mim você vai ler uma crítica a uma dama inocente que foi seduzida e abusada, apenas exponho os covardes que fazem isso.
Thomas permaneceu em silêncio, parecendo refletir. Emma tinha muito mais para falar, mas ele parecia não querer ouvir naquele momento, então ela esperou.
- Eu... não sei o que dizer. – Thomas disse em um sussurro, depois de alguns minutos.
- Thomas, por favor. – Emma pediu em voz baixa. – Preciso que você me entenda, eu tinha que fazer isso.
- Não estou decepcionado, irritado ou qualquer coisa com você, só estou um pouco enjoado, enojado, com as coisas que você me contou. – Thomas disse, segurando as mãos de Emma, e ela notou que as mãos dele estavam frias. – Imaginar as coisas que aconteceram com você me revolta, eu quero poder protegê-la disso, mas, no momento, eu preciso de um tempo para pensar. Não sei o que te dizer, estou com muita raiva, não confio em mim mesmo nesse estado e não quero dizer coisas erradas.
Emma engoliu em seco e assentiu, uma lágrima lutava para cair dos seus olhos.
- Só preciso fazer umas perguntas. – Emma encarou os olhos esmeralda dele ao ouvir isso. – Com toda essa confusão, essa história se tornando agressiva a ponto de damas acusarem umas às outras, o que você pretende fazer? Alguém sabe que é você por trás disso tudo? Sua família?
- Eu não sei o que fazer, talvez eu poderia escrever uma coluna sobre o assunto, tentar reverter a situação, ou parar de escrever... não sei. – Emma disse, negando com a cabeça. – E, além de mim e de você, apenas minha melhor amiga, Brithany, sabe, ela descobriu há alguns anos e desde então me ajuda a escrever as colunas quando não estou em casa, o advogado da minha família sabe, mas pago muito bem pelo silêncio dele, eu precisava de alguém para me ajudar com o dinheiro e a burocracia. Minha família não sabe sobre as colunas e nem sobre o homem que tentou se aproveitar de mim, eles me veriam como uma coitadinha e tentariam matar o canalha, não que ele não mereça, mas... eu só queria lidar com tudo isso sozinha. As colunas começaram a ser publicadas antes do meu début, então era fácil para mim me esquivar quando alguém desconfiava de mim, mas a verdade é que eu sou Lady Emyline e não me arrependo de nada que fiz.
Ele olhou no fundo dos olhos de Emma, como se enxergasse a sua alma, e ela deixou que ele visse tudo que tinha dentro de si, não podia mais se permitir esconder as coisas dele, por mais vulnerável que isso a fizesse se sentir mais tarde, agora ela só precisava que ele visse a sua verdade e a aceitasse. Então ele tomou o rosto dela nas mãos e deu um beijo carinhoso na testa de Emma.
- Eu entendo os seus motivos, mas preciso de um tempo para me acalmar e poder dizer o que você quer que eu diga. – Thomas disse. – Por favor, não duvide quando digo que te amo, mas entenda que preciso de um tempo para decidir como agir.
- Não duvido dos seus sentimentos e entendo a sua necessidade. – Ela assegurou. – Tome o seu tempo, mas, por favor, não se esqueça de mim.
- Nunca. – Prometeu ele, já se levantando do banco. – Eu amo você.
E então ele foi embora, deixando Emma com suas lágrimas. Ela se sentia triste por vê-lo ir, mas nunca se arrependeria de ser quem ela era, Lady Emyline era grande parte de Emma Campbell, mas Emma Campbell era muito mais do que Lady Emyline, foi ela quem deu voz às damas de Gruffin, então ela nunca iria se arrepender da suas colunas, mesmo que perdesse seu grande amor por conta delas.
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O segredo de Emma Campbell
Исторические романыLivro 4 da série Família Campbell. Conhecida por suas muitas correspondências, além da sua tendência a fofocas, e depois um encontro inesperado com um belo barão, Emma envia uma carta para ele em agradecimento por tê-la ajudado quando ela necessitou...