Capítulo 23. O beijo

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O fim está próximo, querida leitora. Lady Emyline sente que em breve teremos um desfecho em relação à caçada pela minha identidade, mas garanto que ainda não estou pronta para admitir a derrota.

TABLOIDE DE GRUFFIN, por LADY EMYLINE.

Emma caiu em uma onda de tristeza como não tinha há anos depois que Thomas foi embora, os dias finais da recepção no rancho foram um borrão de Brithany com ela na sua cama, Kate tentando descobrir o que aconteceu e Cat fazendo muitas suposições sobre a tristeza terrível da irmã.

A família e os convidados voltaram para a capital, Emma se trancou no seu quarto por mais dois dias depois que voltaram, completou uma semana que ela havia se aberto com Thomas e revelado seu maior segredo, ele não havia feito mais nenhuma visita enquanto estavam no rancho e nem enviado uma carta ou um mísero bilhete. As coisas estavam indo de mal a pior nos bailes, toda a alta sociedade estava à caça de Lady Emyline, então Emma tomou a decisão que pensara nunca precisar tomar, Lady Emyline se aposentaria. Ela não revelaria a sua identidade, com toda a agitação das damas nobres que a caçavam, ela tinha medo de ser linchada, então apenas encerraria a coluna e não revelaria sua identidade ainda.

Era um dia seguido de um baile, o primeiro baile de Emma desde que voltara da casa de Thomas, isso queria dizer que a sala de visitas estava repleta de buquês de flores com cartões repletos de bajulações e poesias toscas sobre seus cabelos de fogo e seus olhos azuis. Logo no início da tarde um cavalheiro apareceu para fazer um pedido de casamento, Emma conhecia o tipo só de ver a cara do infeliz, era um caça-dotes, com toda certeza, então ele foi rejeitado no mesmo instante. O dia estava quente e Emma não aguentava mais ficar dentro de casa, Carter apareceu como a sua salvação e a convidou para um passeio pelo parque, que foi aceito rapidamente por ela depois de pedir a permissão da mãe, como mandava as normas sociais, e Annie foi enviada como a dama de companhia para defender a honra de Emma.

Carter era uma boa companhia, sempre tinha assunto e até era agradável aos olhos, mas nada parecia certo para Emma na presença dele. O braço dele não era tão acolhedor quanto o de Thomas, sua voz não parecia em nada com a de Thomas e quando Emma olhava para ele, encontrava olhos cinzentos e não esmeralda. Ele comentava sobre o clima, enquanto davam a volta no lago do parque e se encaminhavam para a sombra de algumas árvores, onde tinham alguns bancos para se sentarem.

- O senhor gosta de flores? – Emma indagou, mal percebendo o que perguntava antes que as palavras saíssem da sua boca.

- Ah não, sempre fui péssimo em botânica, não sei diferenciar ervas-daninhas de flores. – Ele disse com um sorriso tímido enquanto se sentavam em um dos bancos. – E a senhorita, gosta de flores?

- Bem, nunca fui uma aluna exemplar de botânica, mas recentemente comecei a me interessar mais por flores.

- E o que despertou o seu interesse?

Emma ficou em silêncio por um momento, pensando se falava a verdade.

- Um amigo que é botânico. Passei férias na casa dele há algumas semanas e acho que comecei a ver as flores de uma forma diferente, ver mais nelas do que apenas a intenção de um cavalheiro de conquistar uma dama ao lhe presentear com flores.

- Férias na casa de um cavalheiro? – Carter arqueou uma sobrancelha.

Ela se repreendeu rapidamente por ter dito aquilo sem pensar.

- Sim, a irmã dele é minha amiga há anos e convidou a mim e Catarina para irmos para lá. – Emma mentiu, sentindo-se julgada por ele por ter ido para a casa de um cavalheiro. – Não se preocupe, ainda sou honrada, se essa é a sua preocupação.

Carter sorriu.

- Eu nunca pensaria algo assim de você. – Ele disse, aproximando-se um pouco mais dela com um pedido de desculpas no olhar. – A minha preocupação é com o que a sociedade pode falar se souber disso, Lady Emyline acabaria com a sua reputação e nunca conseguiria um marido.

Emma sorriu, se ele soubesse que o fim de Lady Emyline estava tão próximo, não se preocuparia com isso.

- Minha dama de companhia não tirou os olhos de mim durante toda a estadia, mesmo que houvesse várias outras pessoas na casa. – Ela deu de ombros.

- Acredito na sua palavra.

Ao ouvir as palavras dele, Emma deixou de fitar as costas de Annie, que estava sentada de costas para eles, alguns metros longe, e olhou para Carter. Quando o olhar dela encontrou o dele, Emma viu algo brilhar no olhar dele, aquele brilho que ela conhecia bem, ela o vira nos olhos de Thomas nos seus passeios noturnos, o olhar de desejo segundos antes de um beijo. E quando ela se deu conta, os lábios de Carter estavam nos seus, ela pensou em Thomas no mesmo instante, nos beijos dos dois e no carinho contido neles, foi apenas um leve toque dos lábios, mas ela se assustou e se afastou lentamente.

- Perdoe-me. – pediu ele. – Eu não deveria ter feito isso.

- Não, não deveria. – Ela respondeu rapidamente.

Tudo naquele beijo parecia errado. Thomas havia sumido, mas o coração de Emma ainda batia por ele. Os lábios de Carter pareciam ásperos em comparação com os de Thomas, como se feitos de areia, ela não sentiu aquela onda de eletricidade pelo corpo ou o calor na barriga que sempre tinha com Thomas. Aquilo era errado.

- Perdoe-me. – Carter repetiu. – Não era a minha intenção.

- Acho melhor voltarmos. – Emma já se colocou de pé. – Annie!

Carter se levantou também, mas não ousou entrelaçar seu braço ao dela, Annie rapidamente se juntou aos dois e Emma começou a caminhar, rumando a sua casa.

Se ela tinha dúvidas, se ainda tinha qualquer receio em relação a Thomas, tudo caiu por terra com aquele beijo, nada parecia mais certo para Emma agora. Ela precisava escrever para Thomas e tentar se resolver com ele, precisava que ele a entendesse e que não desistisse dela. Nada parecia mais certo que isso, ela estava pronta para se casar com ele, abandonar a capital, a alta sociedade, Lady Emyline e todo o resto, só queria ter as brigas com os gêmeos de novo, poder sair para a varanda e ver Thomas trabalhar.

Por Deus, aquele beijo inesperado a fez ter saudades até mesmo da maldita cobra na sua cama, apenas para poder ter Thomas para salvá-la e depois ela lhe agradecer com um selinho roubado no corredor.

Uma lágrima solitária escorreu pelo seu rosto e ela a secou rapidamente para que ninguém visse. 

O segredo de Emma CampbellOnde histórias criam vida. Descubra agora