Às vezes a nossa cabeça nos engana, vemos algo acontecer e nosso cérebro nos leva a uma conclusão que parece ser a mais correta e provável. Mas esta autora sente em dizer que, muitas dessas vezes, nós somos enganados por nós mesmos.
TABLOIDE DE GRUFFIN, por LADY EMYLINE.
Thomas se sentia mal.
Ele estava profundamente infeliz, se sentia impotente e tolo.
Estava irritado por não poder proteger Emma do que aconteceu com ela, mesmo tendo total consciência de que nem a conhecia quando aquilo aconteceu com ela, mas mesmo assim se sentia mal por não poder evitar aquilo, queria matar o canalha que tentou se aproveitar dela. Então se sentia mal por não ter feito o que devia quando ela lhe contou sobre aquilo, ele sabia que devia ser difícil para ela falar sobre o assunto e se sentia muito pior por não ter dito a coisa certa a ela no jardim do rancho.
Ele a amava. Amava profundamente e não iria desistir de se casar com ela porque ela publicou uma coluna de fofocas por vários anos, a história toda era muito maior que aquele simples fato que todos gostavam de repetir por aí. A casa tinha voltado a ser vazia e sem graça quando eles voltaram, parecia faltar algo, faltava ela, até mesmo os criados pareciam mais tristes e sem serviço com a falta das duas hóspedes. Demorou uma semana para ele tomar coragem e entrar na sua carruagem com os sobrinhos e partir em direção à capital, ele estava preparado para dizer as coisas certas e ajudá-la, iria pedi-la em casamento no momento em que a visse e pedir perdão por ter demorado tanto para ir atrás dela.
Ele tinha enviado Willian no dia anterior, instruiu-o a arranjar uma casa para alugar por uma ou duas semanas, contratar alguns criados e fazer tudo que fosse necessário para que pudessem passar alguns dias na capital, ele não iria querer passar a sua estadia na casa da família de Emma com três crianças, duas que eram muito baderneiras, diga-se de passagem. Além disso, a sociedade poderia julgar inadequado e levantar rumores sobre os dois, ali não era Hemilton, tudo era mais movimentado e rápido, uma fofoca se espalhava rapidamente.
A casa alugada por Willian ficava a apenas alguns quarteirões do endereço que Emma sempre colocava nas suas cartas e ele enviava as cartas dele para lá, só precisava passar por aquele parque e seguir pela rua principal até a segunda esquina, depois a casa estaria à sua direita. As crianças ficaram na casa que Thomas alugou e ele seguiu com a carruagem para a casa de Emma, observando a cidade pela janela de vidro da carruagem. E foi então que, passando pelo parque, Thomas viu. Entre a grama e as folhas verdes, estava o ruivo do cabelo dela, ele a conheceria mesmo entre todas as pessoas da cidade, mesmo ela estando de costas. Um cavalheiro estava com ela, estava muito próximo, quase...
- Mas que... – as palavras entalaram na garganta de Thomas, ele apenas viu os lábios do cavalheiro tocarem os dela enquanto a carruagem dele se afastava. Apenas um breve momento foi o suficiente, ele desviou o olhar rapidamente, não precisava mais ver aquilo.
Uma parte mais racional da sua mente o fez seguir para a casa dela ainda, talvez fosse outra dama, ele poderia estar enganado. Chegaria na casa dela e a encontraria na sala de visitas com uma xícara de chá nas mãos, ela sorriria e o abraçaria. Aquela dama no parque não podia ser ela, Emma nunca beijaria outro cavalheiro, ela estava apaixonada por ele.
Estava mesmo? Thomas já não tinha certeza.
Ele chegou à casa da Sra. Campbell alguns minutos depois, foi recebido pelo mordomo, que o levou até a sala de visitas e o anunciou. A duquesa sorriu ao vê-lo e ele a cumprimentou com um beijo nos nós dos dedos. Emma não estava na sala e o nó na sua garganta o impedia de sorrir ou ser amigável com qualquer pessoa, mesmo que fosse a duquesa de Gruffin.
- A Srta. Emma está em casa? – Thomas perguntou, muito objetivamente.
A duquesa se sentou de volta no sofá e convidou Thomas a se sentar também, ele estava impaciente, mas se sentou.
- Emma saiu para um passeio com o Sr. Carter, um amigo da família, creio que tenham sido apresentados no rancho. – Kate sorria, Thomas concordou com um movimento de cabeça. – Eles devem voltar em breve, pedi para a dama de companhia não os deixar ir longe, ainda temos um baile esta noite.
- Um baile? – Thomas perguntou, tentando mudar de assunto enquanto o nó se apertava mais ainda na sua garganta.
- Sim. – Ela parecia orgulhosa disso. – Minha nora, a duquesa, irá dar um baile esta noite, o senhor deveria ir.
Thomas pensou por um momento. Será mesmo que deveria ir ou deveria voltar para casa agora mesmo e evitar a humilhação de ver Emma chegar em casa com o seu pretendente? Um baile?
- É claro. – respondeu ele, crente de que estava ficando louco. – Eu adoraria.
- Ótimo! – O sorriso dela cresceu ainda mais. – Assim o senhor poderá dançar com Emma durante o baile, não existe nada melhor do que uma dança para realmente se conhecer uma pessoa.
Ou então observá-la em um passeio no parque com outro pretendente. A mente dele completou antes mesmo que Thomas registrasse.
Ele decidiu que o melhor a se fazer seria concordar. Então ele se levantou, achou que conseguiria ficar ali e fazer isso, mas a verdade era que ele precisava de um tempo para digerir o que vira no parque e colocar seus pensamentos em ordem. Mais tempo. Ele precisava de mais tempo.
- Bem... – disse ele. – Gostaria de pedir que a senhora não comente com a Srta. Emma que eu estive aqui, quero lhe fazer uma surpresa no baile. Agora eu preciso ir para casa, meus sobrinhos estão me aguardando.
- Seus sobrinhos moram com o senhor? – Kate perguntou de maneira educada, mas curiosa.
Thomas respirou fundo e assentiu, cansado de todos os julgamentos que os outros faziam ao saber que ele criava três crianças.
- Eu sou o guardião deles desde que minha irmã e cunhado morreram em um naufrágio entre a ilha e o continente.
Kate pareceu empalidecer um pouco e se empertigou completamente.
- Ah, eu sinto muito. – Ela disse de maneira educada. – Aquele naufrágio foi realmente algo muito triste, meu falecido marido e eu passamos semanas sem dormir. Eu realmente sinto muito.
- Obrigado. – Thomas abriu um sorriso triste e seguiu atrás da duquesa para a porta da frente, se despedindo rapidamente e entrando na sua carruagem.
Já dentro da sua carruagem, o cabelo ruivo de Emma chamou a atenção dele enquanto ela caminhava em direção à casa. Aquele cavalheiro estava ao lado dela e Emma falava com a dama de companhia, a mesma que a acompanhou na viagem à casa dele. O peito de Thomas se apertou ainda mais enquanto ele se afastava. Será que realmente teria coragem de ir ao maldito baile?
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O segredo de Emma Campbell
Ficção HistóricaLivro 4 da série Família Campbell. Conhecida por suas muitas correspondências, além da sua tendência a fofocas, e depois um encontro inesperado com um belo barão, Emma envia uma carta para ele em agradecimento por tê-la ajudado quando ela necessitou...