06.12 Domingo.
Fazem dez minutos desde o diálogo e estou em silêncio, porém, ela continua aqui, e não para de mexer suas orelhas enquanto cantarola mesmo que de boca fechada. Para deixar tudo melhor, o trânsito está engarrafado, irei chegar à praia tarde, deve estar cheia, e tem uma doida do meu lado que acho que é coisa da minha imaginação.
— Ok. — respiro fundo. — Me diga quem é você.
— Finalmente, hein!Ela estala os dedos, pula batendo um pé no outro e o ônibus fica todo vermelho brilhante, os bancos viram poltronas brancas, os três passageiros viram uma banda, o primeiro no piano, o segundo no saxofone, e o terceiro no contrabaixo, aparece um microfone em sua mão, o motorista se levanta com um microfone e fica ao lado da banda como uma segunda voz e começam a cantar um jazz, todos caracterizados de forma natalina.
— Preste bem atenção! O meu nome é Blink, sou uma elfo, eu vim lá do Polo Norte, para lhe ajudar. — pessoas do outro ônibus colocam os rostos na janela e assobiam de acordo com a música. — Você anda sem espírito (o espírito), espírito de Natal, então, eu vim para lhe ajudar. Vai parar de resmungar (de resmungar), vai parar de chorar (de chorar). — ainda com os rostos na janela, agora, com gorros natalinos, assobiam novamente. — A magia do Natal, vai lhe contagiar. A minha missão (a minha missão) é lhe fazer acreditar (acreditar), transformar a Catherine em alguém especial que acredita na magia do Natal. ♪
Após terminar de cantar, ela estala os dedos, pula batendo um pé no outro e tudo volta ao normal, como se fosse mágica, inclusive, o trânsito anda um pouquinho. Eu estou chocada com o que aconteceu aqui, o que é isso e qual a explicação lógica? Socorro.
— Blink!? — afirmo perguntando de modo confuso.
— Blink.
— O que está acontecendo?
— Para uma pessoa certeira você está confusa demais, não prestou atenção na música?
— Claro que estou confusa. Uma mulher metida a Mamãe Noel entra no ônibus e começa a cantar e todo o ônibus muda. Isso é uma peça, é?
— Eu não sou a Mamãe Noel, sou uma elfo, uma ajudante deles, terei que repetir quantas vezes? — ela revira os olhos e enche as bochechas. — Trabalho para o Noel há mais ou menos setecentos e dezoito anos, durante todos esses anos venho para a sociedade e fico encarregada de ajudar adultos amargurados como você. — faz uma cara de deboche e coloca o dedo na minha testa. — Que quando crianças amavam o Natal, mas quando cresceram passaram a detestar, a sentirem a magia novamente.
— O Natal só é bom quando se tem nove anos de idade e acorda com presentes que não saíram do seu dinheiro, fora isso, um porre.
— Catherine, o Natal não é somente sobre dinheiro, tampouco sobre o preço das coisas, mas sim, sobre o que elas representam. O Natal é sobre alegria, amor, sentimentos puros, é sobre perdoar a si mesma, sobre se conhecer. Perceber que mesmo que o ano tenha sido ruim, na noite do dia vinte e quatro e na manhã do dia vinte e cinco ainda tem um pouco de alegria e esperança. Presentes e compras são as coisas menos significativas do Natal.Hesito um pouco para responder. Estou reflexiva. Nunca tinha pensado desta maneira, entretanto, isto me remete a frase pronta.
— Ótimo discurso, pegou de algum lacrador nas redes sociais, é? Olha, você está acabando com a minha paciência com esse papo todo. Não acha que está muito velha para brincar de ser "elfo"? — faço aspas com as mãos. — Foi a Elisa que contratou você para bancar a natalina para cima de mim, tenho certeza. Serviço muito bom, seu buffet para festas infantis deve arrasar, agora, já pode ir.
— Amo a Elisa, nunca deixou de acreditar na magia, não temos trabalho com ela, maravilhosa! Ansiosa para o noivado.
— Você é muito sonsa, está me irritando. Diga a Elisa que pagarei o dobro para que pare de me importunar.Ela estala os dedos, pula batendo um pé no outro e some do ônibus. Não sei que truque é esse, mas foi realmente bom, a vila do shopping deveria contrata-la. Agora estou com muita dúvida, se ela é realmente uma elfo, se toda essa bobeira é verdade... olha, não sei, o que sei é que está calor demais, só quero chegar à praia logo.
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Destrua o Sino Pequenino
Short StoryCatherine Menezes é uma fotógrafa que detesta o Natal, até que, em dezembro é contratada para fotografar a vila do Papai Noel no shopping, a partir daí coisas acontecem e ela começa a ver o Natal de maneira diferente.