Misteriosa, em todos os sentidos

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Adrien

— Então quer dizer que ela tem medo de mim? Que curioso...

— Ah, certamente sua primeira impressão deve fazer jus a essa reação, mamãe — retruquei.

Verdadeiramente, não considerei sábio da minha parte contar isso à minha mãe. Infelizmente, Emily Agreste não abre mão do controle. Mesmo que ele signifique me interrogar todas as noites e todas as manhãs. Minha mãe pode não ser a mais simpática das pessoas, mas creio que seja preocupada com o meu bem estar.

— Está mais insolente que o normal, Adrien. Devemos resolver isso, ou você será mais educado? — ela me encarou por um minuto inteiro, enquanto dedilhava as penas de seu broche de pavão. Eu sabia muito bem o que aquele gesto significava, e não era particularmente fã dele.

— Serei mais educado, mamãe. — respondi, obediente.

— Bem melhor. Agora, meu bem, já pensou o que irá perguntar à garota? 

— Na verdade, sim. Fiz uma pequena coletânea de informações que preciso coletar com ela. Principalmente sobre a maneira que ela chegou... Achei, no mínimo, intrigante.

— Ah, sim... A misteriosa chegada da misteriosa garota. — ela comentou, enquanto dava a volta por uma das cadeiras de seu escritório — Se me lembro bem, você não compartilhou muitas informações a respeito disso, não foi?

— Eu não tinha o que compartilhar — respondi, tentando ao máximo manter minha expressão impassível.

— Todos temos algo a compartilhar Adrien. E todos temos algo a esconder — ronronou ela. — Você, mais do que ninguém, deveria saber disso — estremeci.

— Eu somente a encontrei na floresta. Não há nada de que valha a pena mencionar.

E, como se meus esforços, absolutamente sem fundamentos, para defender aquela garota fossem em vão, ela me fez falar.

Eu já presenciei (e muitas vezes fui alvo) de diversas influências dos poderes da minha mãe. Sempre houve medo. Sempre houve desilusão. Às vezes, até esperança. Mas eu nunca lutei contra aquilo. Não parecia ser mais confortável do que simplesmente deixar o brilho azul de poder inundar a minha mente e tirar de lá o que ela achasse mais útil. Até hoje.

Senti a onda de poder se aproximar das minhas lembranças e tentei contê-la com todas as minhas forças. Medo. Droga! Bridgette estava com medo. Eu não poderia simplesmente revelar tudo que sabia sobre ela. Eu não podia deixá-la com mais medo do que ela já estava. Eu não seria como a minha mãe. Então, não recuei. Eu comecei a lutar.

— O que pensa que está fazendo, Adrien Agreste? — esbravejou ela, enquanto recuava o poder, prestes a se esgotar.

— E-eu não fiz nada! — disse, com a visão embaçada e uma lancinante dor de cabeça.

— Ah, fez sim. E você sabe muito bem o que isso lhe vai custar. Saia do meu escritório. — disse, estendendo a unha pintada de azul escuro na direção da porta.

Fui, cambaleante, até o meu quarto e, relutante, entrei no banheiro. Vomitei tanto que pensei seriamente em buscar uma peneira, só para o caso do meu fígado decidir ir junto com todo o conteúdo do meu estômago.

Não sei se queria a chegada do dia seguinte.

[...]

Dormi como uma pedra. Gostaria que tivesse feito isso na minha enorme cama, não no chão do banheiro. Algumas horas depois do alvorecer, finalmente consegui me arrastar até uma bandeja com o meu café da manhã que algum funcionário do castelo deixou no meu quarto.

O Brilho Nos Meus SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora