Uma manhã agitada, após resolver algumas coisas via zoom, eu precisava arrumar essa bagunça antes que ela chegasse.
Joguei as embalagens de pizza no lixo do corredor, varri rapidamente a sala, arrumei os livros na estante, arrumei a mesa, tomei banho e deixei por último para lavar a louça, que já estava ali há dias.
Quando enxaguava o último copo, ouvi barulho de chave e a porta sendo aberta.
Sequei minhas mãos na calça e cruzei os braços, encostado na pia, observando enquanto ela colocava a mochila no sofá e vinha até mim.
Meu coração batia descompassado, 2 anos depois ainda e ainda era como se fosse a primeira vez.
Ela estava com o cabelo solto em ondas, o que era um milagre. Um casaco preto com capuz largo, calça e ainda assim era linda.
Muito linda.
-Oi! - sua voz baixa, manhosa, me tirou do estado de apreciação, quando ela estava bem na minha frente.
-Oi! - a respondi entrelaçando nossas mãos.
Está tudo bem? Você está com uma carinha cansada...
-Eu estou mesmo, esses últimos dias tem sido intensos, uma carga emocional enorme... - Demet falou suspirando e passou um braço por minha cintura, descansando a cabeça em meu peito.
O que proporciona paz?
Com certeza essa é das coisas.
Deixei um beijo em sua testa e a circulei em um abraço apertado.
-E como você está? - Ela me perguntou levantando a cabeça para me olhar.
-Estou bem, melhor agora! - Dei um sorriso fraco, enquanto brincava com seu cabelo,
-Você está tão linda! Esse cabelo assim te deixa igual uma princesa!
Demet sorriu, me abraçando novamente e deixando um beijo em meu pescoço.
-Eu cozinhei lentilhas! E comprei sorvete de caramelo!
-Yaaaaa, Can! Eu realmente estou com fome e as coisas que mais amo comer! - Ela levou a mão a minha barba curta e me deu um beijo no canto da boca.
Comemos enquanto ela contava sobre a obra em sua casa, o quanto estava ansiosa e estressada para terminasse logo, sobre sentir saudade de Olaf e Simba.
Se há exatos um ano me dissessem que estaríamos assim, eu por mais que tivesse esperança, acharia loucura.
Nós estávamos nos matando pouco a pouco.
Mas ali, enquanto ela falava sem parar, me repreendendo, rindo escandalosamente, seus trejeitos, expressões...
Queria congelar esse momento.
Ela terminou de comer, recolheu nossos pratos, colocou na pia e passou os braços por meus ombros, deixando um beijo na minha bochecha.
-Obrigada pelo jantar, estava uma delícia!
Passei a mão por cima da sua, acariciando.
Ficamos na sala escutando músicas, conversando coisas aleatórias, enquanto Demet estava deitada no meu colo.
Eu passava os dedos entre seus cabelos, mas logo percebi que ela havia dormido.
Conferi as horas no celular, 20:15.
A levei para minha cama, tirei seu tênis, seu casaco e deitei a seu lado.
Ela estava realmente muito cansada, porque em nenhum momento, ela sequer mexeu.
E em poucos minutos, também adormeci.
Senti uma leve cócegas em meu pescoço e abri os olhos com relutância.
O cabelo de Demet que era o autor.
Ela estava deitada de bruços, seus fios esparramados, a mão entrelaça com a minha e também nossos pés.
E seus intensos olhos cor de chocolate me observavam.
