ℭ𝔞𝔭𝔦𝔱𝔲𝔩𝔬 17

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     Me esforcei ao máximo para não me constranger com os olhares de Ramona, que não parava sequer um segundo de me analisar. Estava começando a estranhar o fato da súcubo não ter comentado nada, quando ela soltou :

      —  Como foi a noite, mocinha? — Um sorriso desabrochou em seu rosto perfeitamente bonito para alguém que havia acordado recentemente. — Pensei em perguntar se você dormiu bem, mas acredito que nem tenha dormido. 

   Não conseguindo evitar seu humor extremamente sugestivo, um sorriso tomou conta de meu rosto também. Afinal, era uma missão difícil manter qualquer resquício de seriedade perto da demônia.

    — Adormecer foi mesmo uma missão difícil, estava muito calor. — debochei, me abanando com a minha própria mão.

  — A rainha do inferno sentindo calor?  — Ela gargalhou, assustando alguns pássaros que estavam nos galhos mais próximos. — Aposto que deve ter um bom motivo. — levantou o queixo, apontando para o príncipe, que andava a alguns passos na frente, conversando com o irmão. — Um motivo bem alto, e com cabelos loiros irritantemente hidratados talvez?

  — Você não acha que seria um bom motivo para perder o sono? — Questionei, mesmo tendo a certeza de que a resposta era um belo "sim."

    Caliban era um ótimo parceiro no quesito sexual. Descobri que havia sido o melhor que eu tive quando acordei pela manhã e tive arrepios apenas por observar seu rosto sereno enquanto dormia. E descobri que queria mais assim que ele despertou, e olhou diretamente para mim com seus olhos de gato selvagem, da mesma forma desejosa que eu o vigiava em silêncio. Não foi necessário muito para que reivindicássemos um ao outro naquele colchonete por uma deliciosa segunda vez.

   Parecendo notar que estávamos falando sobre ele, o príncipe balançou a cabeça, como se estivesse rindo. Mordi os lábios com força, contendo a vontade frustrada de querer ver seu sorriso a todo custo.

   Só quando vi Ramona me encarando como um ponto de interrogação, percebi que provavelmente ela havia tagarelado sobre algo que eu prontamente ignorei.

     — Inferno, Sabrina. — arregalou os olhos, aparentando ter feito a maior descoberta do século. — Você está apaixonada! 

   — Ahn? Claro que não.  —  as palavras saíram de minha boca de uma forma tão forçada que pareciam decoradas. Me amaldiçoei quase de imediato por isso.

   — É claro que sim, porque... — seu tom acusatório se desfez quando os rapazes pararam de andar bruscamente, nos fazendo quase tropeçar. 

   Ambos olhavam para o chão, confusos. 

   Seguindo os olhares deles, me vi encarando pegadas marcadas na terra. Algumas pequenas demais até mesmo para serem de crianças, já outras, grandes demais até mesmo para serem de humanos.

  — Que merda é essa? — Caliban perguntou, perplexo.

     Então um líquido quente pingou em meu rosto, me fazendo imediatamente passar a mão para limpar, e só então, perceber o que era. Sangue.

    Quando ergui a cabeça, todos fizeram  o mesmo.

    Apenas para perceber que havia uma enorme rede sobre nossas cabeças, com um emaranhado de seres presos, aparentemente de inúmeras espécies.



𝐇𝐞𝐫𝐝𝐞𝐢𝐫𝐨𝐬 𝐝𝐨 𝐢𝐧𝐟𝐞𝐫𝐧𝐨Onde histórias criam vida. Descubra agora