𝟏𝟎 𝐝𝐞 𝐦𝐚𝐫𝐜𝐨 𝐝𝐞 𝟐𝟎𝟑𝟑

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O sol estava quente demais para aquela época do ano e por um momento, Changgu agradeceu por estarem no final do inverno, estaria dez vezes mais quente se estivessem no meio do ano. Contudo, aquilo não era acolhedor quando já não conseguia raciocinar pela sede.

Pelas suas contas estava sem água a doze horas, sua garganta ardia e sua boca parecia ter secado depois das primeiras horas.

Como se isso não bastasse, suas mãos estavam amarradas com uma corda grossa e apertada. — Achava que era um grande exagero quando haviam algemas de boa qualidade ao alcance. — A corda seguia de suas mãos até alguns metros a frente, presa no para-choque traseiro do caminhão militar que andava devagar o suficiente para que o rapaz acompanhe e dentro dele, três soldados jogavam conversa fora e mostravam as garrafas cheias de água.

Yeo Changgu estava acabado. Seus pés doíam, estava tão exausto que mal pensava direito, sua cabeça era uma confusão de nomes importantes, rostos dos seus amigos e lembranças de uma vida que parecia muito longe de o pertencer. Pela quarta vez naquela tarde ele caiu, sem aguentar acompanhar o ritmo do caminhão e o calor do sol sobre sua cabeça, sendo arrastado sobre a areia por alguns segundos até notarem que ele havia caído.

Ele respira fundo, já sem lágrimas para derrubar sobre a corda que o prendia.

Uma mulher foi até ele mesmo com os protestos dos outros soldados, a mesma piloto do helicóptero que havia o perseguido por toda uma tarde. Agora ele conseguia saber como ela se parecia além do cabelo curto e dos cachos escuros que mal chegavam ao pescoço, os olhos eram grandes e claros como duas esmeraldas e o corpo pequeno e magro não combinavam com a postura rígida e voz severa. Um bordado no lado direito de seu uniforme mostrava seu nome: Julie Harper.

Ela se abaixou ao lado de Changgu, notando o estado da pele dele pelo sol, pegando sua cabeça entre as mãos para conseguir despejar a água do cantil em seus lábios e ele só pôde a encarar assustado e aceitar o gesto de bom grado, roubando o cantil das mãos dela e tomando tudo o que havia dentro em questão de segundos.

— Obrigado.

A voz do rapaz mal saiu, estava tão rouca que Julie mal ouviu, só assentiu e o ajudou a levantar.

— Não precisaria passar por isso se tivesse dito o que queremos saber. — A voz dela era ríspida e sem nenhum rodeio pegou o cantil das mãos dele. — Estaríamos longe desse calor infernal.

— Seria muito fácil se eu só deixasse vocês me espancarem. — Ela dá de ombros, conseguindo ouvir melhor a voz dele agora. — E o que querem saber? Não tenho nomes ou lugares novos.

— Você pode até não ter esse tipo de informação, mas sabe qual vai ser o plano para os carregamentos que vocês estão transportando e o que tinha dentro daqueles caminhões. — Ele não conseguiu notar qualquer sarcasmo na voz dela ou descobrir se ela estava sendo ardilosa, apenas olhava para o rosto entediado dela enquanto checava as cordas que mantinham suas mãos presas.

— Vocês não sabem? — Julie arqueia a sobrancelha em resposta.

— Se soubéssemos eu não estaria te perguntando. — Changgu preferiu ficar calado, mal sabia como estava de pé novamente e não queria arriscar para saber se a oficial Harper era boa de briga, não quando estava sendo pelo menos um pouco gentil com ele. — Olha, eu vou ser direta. Se quiser entrar naquela merda de caminhão vai ter que cooperar comigo.

E lá se foi a gentileza. O rapaz quase riu da situação.

— E se eu não quiser cooperar?

— Vai passar as próximas horas andando pelo deserto ou alguns minutos sendo arrastado em alta velocidade na areia quente, isso vai depender da paciência do meu amigo ali. — Changgu engoliu em seco e quanto mais ela se inclinava em sua direção, mais para trás ele chegava. — Qual vai ser?

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