Manhã seguinte

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- Querida - Senti algo tocar minha cabeça, abri os olhos e vi minha mãe – você dormiu no sofá, vai ficar com dor no corpo. Vem, vamos para a cama. – ela tocou meu ombro.

- Não. Eu vou acordar. – Falei enquanto me sentava e respirava fundo – Mas são 6 horas da manhã. – ela me respondeu. – Eu estava planejando dar uma caminhada – Sorri sonolenta para ela, que acenou com cabeça e foi em direção a cozinha.

Levantei do sofá e subi as escadas em direção ao quarto, Beth ainda dormia e a porta do quarto de Mark ainda estava fechada. Coloquei uma Legging e um blusão por baixo de uma jaqueta de inverno com capuz, vesti minhas luvas e meu coturno de inverno, enrolei minha manta preta no meu pescoço e logo sai dali o quanto antes. O frio era intenso e meus joelhos doíam mas igualmente o sentimento revigorava minha alma, ao ouvir meus passos e nada mais, a cidade ainda dormia e o sol estava recém nascendo no horizonte.

Eu sempre apreciei minha mãe por levantar tão cedo de manhã, algo que nunca fui capaz de fazer, mesmo sempre dando tudo de mim se eu pudesse dormir o dia todo, eu faria. Por um momento me dei conta que todos esses meses, inclusive esse ano, estive no automático sobre tudo, com opiniões formadas e apenas um objetivo na minha mãe, quase nem parando para pensar sobre o que eu realmente queria da minha vida e como lidar com isso. Quase sempre pensei que dando tudo de mim em uma coisa só iria fazer tudo ficar melhor, mas isso é claramente uma mentira, uma forma, querendo ou não, de fraqueza, de falta de conhecimento próprio.

Ao caminhar entre as arvores e ouvir o som do vento batendo no meu corpo, percebi que estava completamente fora do equilíbrio interno por alguns anos e sou agradecida por Mark ter despertado algo em mim em relação a isso, de certo modo, ele também deve se sentir assim. Fazia muito tempo que as sensações boas eram apenas imaginação, que sentimentos eram realmente sentidos e que minha mente pensou em algo mais do que apenas minhas responsabilidades. Não tirei tempo para amizades, para romances, e de uma forma, nem para mim pois cuidar da minha alimentação e do meu corpo, se tornaram coisas automáticas.

Eu queria poder entender como resolver as coisas, como me tornar quem eu quero ser, como lidar com o que se passa dentro de mim e não apenas no âmbito social mas no sentido espiritual comigo mesma, me manter na média com tudo que eu faço e vivo, um equilíbrio saudável e real para tudo. Minha cabeça estava em constante desagrado com as coisas mais simples e fúteis e sei que não sou a única, todos temos vícios, de ser ou consumir ou não.

Mark, por mais que parecesse um homem controlado e completamente introvertido dentro do mundo complicado e intelectual dele, se deixou levar por um momento e acabou explodindo nele, deixando todos preocupados e indo contra seus próprios ideais. Se ele teve, ou não, algum relacionamento no passado, por algum motivo não teve sucesso e eu me perguntava se era apenas o gênio dele, ou algo assim. Não conheço ele bem, como mencionei antes, ele estava completamente diferente do que eu o conhecia, talvez pelo fato de estar junto com a família, talvez?

Tudo que eu sabia, é que sentia algo por ele e comecei a sentir cada vez mais desde que chegamos, seu cheiro, o jeito que ele vive sua vida diária, o sorriso... Meu coração se aquecia por dentro da jaqueta de inverno que eu vestia. Na maior parte do tempo mantive meu rosto baixo devido ao ar frio e para tapar minhas boca na manta quentinha, mas quando levantei meu olhar avistei Mark vindo em minha direção e no rosto dele havia um sorriso de carinho, sorri de volta e fiquei feliz de vê-lo. Ele vestia uma calça jeans preta e uma jaqueta bufante de inverno, preta também, mantinha suas mãos dentro do bolso mas eu podia ver que ele usava luvas.

- É cedo demais para sair na rua sozinha. – Ele se juntou a mim na caminhada, eu ri.

- Eu precisava pensar um pouco, e eu amo o frio. – Sorri para ele que apertou seus lábios em um sorrio, logo, passou o braço em volta das minhas costas, descansando a mão no meu braço e apertando-me junto ao corpo dele.

Foi um gesto tão simples, eu não esperava que depois de tudo que aconteceu ele ainda pudesse estar bem, mesmo parecendo que ele estava cansado. Foi a primeira vez que ele demonstrou algum gesto desse gênero para mim e eu não poderia me sentir mais segura, olhei para cima em direção ao seu rosto e passei meu braço em volta da cintura dele, ambos mantendo uma das mãos no bolso. Por longos minutos ficamos em silencio caminhando e o sentimento era ótimo, prestei atenção em suas roupas, sapatos, andar, tanto que esqueci de apreciar a vista linda da região.

- Me perdoe por tudo que aconteceu ontem. – Ele falou claro e em bom tom, como sempre, nunca demonstrando timidez ou falta de confiança.

- É passado. Eu nem lembrava mais. – Menti, mas realmente não queria que isso continuasse. Ele entendeu e acenou com a cabeça, esfregou meu braço de continuou olhando em frente.

Eu sabia que em algum momento, tudo isso iria voltar à tona e iriamos estar na mesma página, mas até acontecer iria demorar algum tempo, e se acontecer. Meu futuro estava nas mãos dos meus sentimentos e eu não queria estar errada e muito menos cometer, mas de certa maneira, eu queria muito estar sempre ao lado de Mark. Olhei para ele, que mantinha seus lábios fechados sempre, eu queria muito provar como era beijar a boca dele, mas eu sei que se isso acontecesse tão cedo, eu jamais iria ter volta no meu raciocínio.

Demos a volta e voltamos para a casa, logo quando o vento forte começou, as nuvens estavam escuras e tudo estava cinza, o abraço dele me manteve aquecida por dentro e por fora. Quando chegamos, todos estavam ainda dormindo provavelmente com ressaca da noite passada, vi apenas minhas mãe no sofá tomando chá e assistindo tv, ela sorriu quando nos viu entrar.

- Querida, melhor descansar, vamos todos novamente a uma janta hoje. – Minha mãe falou enquanto eu tirava meu casaco, olhei para ela espantada – novamente? – disse.

- Por aqui temos todos os dias de celebração durante uma semana até o feriado em si. – Ouvi a voz de Mark ao meu lado e ele estendeu a mão pegando o meu casaco – Espero que não encare como desrespeito Sra. Helder, mas pretendo ficar em casa hoje, ontem foi um tanto.. Turbulento e eu prefiro descansar. – Ele falou olhando para minha mãe.

Encarei seu rosto, pálido pelo frio e seu nariz um tanto vermelho, ele pendurou os casacos e minha mãe educadamente respondeu no mesmo tom que ele – Claro, não é problema algum. – ela sorriu para nós e eu deixei escapar pelos meus lábios – Se não for um incômodo, eu gostaria de ficar também. – olhei para ela, que acenou com a cabeça. Eu sabia que ela não se importaria, além do mais, eu realmente estava cansada.

Senti os olhos de Mark me olharem quando terminei de falar, logo andei para meu quarto e ao entrar observei Beth ainda dormindo. Fechei a porta e me sentei na cama, meu coração estava batendo forte, eu não podia esconder de mim mesma que eu estava me apaixonando, mas cada vez que eu pensava isso, no fim eu me dava conta que estava em outro país, em pleno feriado e em uma casa que não era minha e estava fora do meu conforto. O ponto era, tudo iria ser tão mágico e intenso ao voltar?

Direito de AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora