Capitulo 23

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Voltei para o topo do navio para observar o mar. As águas se movimentavam em sintonia, agiam juntas, indo para a mesma direção. Mas será que nós, vampiros, estamos indo para a mesma direção ou é só porque nós conhecíamos a décadas que estávamos juntos? Como se fosse por estarmos acostumados uns aos outros. Depois de hoje, eu duvido até de quem me ama de verdade. Eu acreditava nele, eu fantasiava um futuro para nós dois. Eles fazem biologia juntos e vai saber o que já aconteceu entre eles depois da aula, ou quando Jason não estava com a gente. Eu acreditava em nós, eu achava que ele realmente gostava de mim, mas estava na cara que ele não queria nada. Eu conheço o Jason, quando ele quer algo, ele vai atrás, ele não deixa escapar e perder a oportunidade e ele não estava correndo atrás de mim. O máximo que ele sente por mim é carinho.
Talvez nem isso ele sinta mais.
Uma lágrima escorreu pelo meu rosto. Se eu me jogasse agora ninguém ia saber. Não haveria Jack para me salvar e me interromper de fazer uma besteira, mas eu não podia me afogar, eu conseguiria ficar debaixo da água sem respirar por uma hora. A única coisa que aconteceria era que eu iria me perder no navio.
Eu não quero mais essa vida. Eles nem vão sentir minha falta, eles me veem como uma menina mimada que só está com eles para trazer problemas. Seria uma ótima ideia sumir para sempre, nunca mais os deixar ouvirem uma palavra sobre mim, só assim eles teriam paz e poderiam ser felizes.
Então minha decisão foi tomada. Eu iria para o meu quarto, ficaria lá como se não houvesse nada e quando desembarcarmos em Thompson, eu pegaria um avião para o mais longe o possível deles. Eles nunca mais ouviriam sobre mim.
Na hora em que eu me virei para voltar para o meu quarto, senti uma pessoa passando por trás de mim, não liguei. Havia muitas pessoas nesse navio.
- Ah, Ashley. Achei que nunca viria- uma voz grossa disse.
Virei-me sem saber quem era. Como ele sabia meu nome? Era um homem com estaca de madeira na mão, capa preta, botas e chapéu de cowboy.
Lobisomem?
- Quem é você?- levantei um pouco a cabeça.
- O que você está fazendo aqui?- dei um passo para trás.
- Como você sabe o meu nome?- mais um passo para trás.
- Calma, Ashley- ele levantou suas mãos- eu vou responder todas as suas perguntas. É só você vir comigo.
- Nem morta- virei-me para correr, mas eu senti algo passando pelas minhas costas e parando em meu estômago. Agora isso só me queimava. Aquela dor invadia o meu corpo eu não consegui ficar de pé, porque aquilo estava me secando por dentro. Mas aquilo me sufocava e me deixava tão fraca que eu não tinha forças para lutar com esse homem. Eu lutava em vão para conseguir respirar. Não havia ar, havia uma estaca cravada em minhas costas que me dilacerava por completo.
Vi quatro homens se dirigindo até onde eu estava tentando levantar, eles usavam o mesmo estilo de roupa do que me atacou.
Eles me levantaram e tiraram a estaca de minhas costas. Eu arquei de dor.
- Acontece que você já está morta- disse o atirador.
- O que você quer comigo?- disse aos sufocos enquanto eles prendiam minhas mais para trás.
- Só vou responder sua pergunta quando estivermos seguros.
Eles começaram a me puxar pelo corredor e tudo foi ficando como um borrão em minha mente.
Eu apagarei.
***
Quando acordei meus pra e minhas mais estavam amarrados em uma cadeira. Eu estava com um pano em minha boca e tinha um homem com uma estaca de madeira apontada para mim.
- Respondendo a sua pergunta- o atirador deu dois passos em minha direção, com uma estaca na mão- meu nome é Marrik. Esses são Johan, Zack e Stephan. Nós somos caçadores de vampiros, eu quero o seu sangue e é por isso que estamos aqui.
- Esqueceu uma pergunta- disse tentando tirar o pano de minha boca, quando finalmente consegui ele caiu em meu pescoço- como sabe o meu nome?
A ferida já havia sido cicatrizada, mas eu ainda estava sem forças.
- Bom, os lobisomens disseram- ele ainda não havia respondido certamente- eles espionaram vocês e fizeram uma proposta... Se nós viéssemos aqui e acabássemos com vocês, ganharíamos certa quantia em dinheiro.
- Quanto?- levantei o rosto.
Estávamos em um lugar fechado, com várias máquinas de roupa, mas não era a lavanderia principal do navio. Esse lugar era bem sujo e muito menor.
- Dez milhões.
Só podem estar de brincadeira.
- Como vocês sabiam que estaríamos aqui?
- Sabe o cara que vocês sequestraram? Então, era um plano para trazer vocês para cá.
Me encolhi na cadeira de madeira.
- Por que você quer o meu sangue?
- Não só o seu- ele fez que não com seu dedo indicador- mas o de todos os seus amigos.
- Por que?- arregalei um pouco os olhos.
- Quando um lobisomem injeta o sangue de um vampiro, ele se torna imortal. Se todo o sangue de vocês for injetado em um lobisomem, ele vive para sempre.
- E porque nós?
Ele deu de ombros.
- Não sei. Só estou cumprindo ordens.
- Mas... Existem só quatro lobos- e nós estamos em seis.
- Sabemos- ele sorriu- é por isso que a vida de dois de vocês vai ser poupada. Agora você escolhe...
- E porque não me matam logo?- repeti a pergunta.
Eles se entreolharam entre eles, para depois o atirador falar.
- Antes, precisamos saber onde o filho de Patrick está.
Olhei para Patrick que parecia estar preocupado.
- Se não o que?
- Você é bem desafiadora- ele passou a mão no queixo- mas se você não nos falar você morre. Tem mais cinco para contar.
Eu não podia ser tão burra, eu não iria falar que tinha matado o filho dele, que o filho dele jamais voltaria para seus braços. Eu precisava me recompor, ficar forte. Aí sim eu falaria a verdade.
- Eu não sei onde ele está- olhei em seus olhos claros- deixamos ele ir quando ele respondeu nossa pergunta.
- Como você pode deixar um inimigo escapar?- ele não estava acreditando em mim.
- Talvez um de seus fies lobinhos o matou.
- Você não vai falar?
Olhei com raiva para ele.
- Já falei.
Ele sorriu mais forte e se virou para pegar uma faca e um copo com líquido transparente dele.
Fiquei observando cada movimento que ele dava, com desconfiança.
- Sabe o que é isso?- ele levantou o copo e não esperou eu responder- é verbena. E sabe o que vamos fazer com ela?
Não respondi.
Ele se aproximou de mim até ficar a três centímetros de distância e eu não tirei meus olhos dele.
- Você sabe o que vamos fazer com ela?- ele repetiu com ódio.
Balancei a cabeça.
- Você verá...- ele trincou seus dentes.
Meu coração martelava fortemente. Mas o que mais o machucava era saber que eles não viriam até mim. Meus planos de nunca mais vê-los ia se tornar realidade, só que ao invés de eu fugir, eu iria morrer.
Ele passou a verbena na faca e cortou meu rosto.
Eu senti o sangue quente escorrer e sujar minha blusa.
Mas o pior não era o sangue ou o corte, daqui alguns minutos já sumir e a única coisa que ia restar era as manchas vermelhas. O pior era a verbena que entrava em meu corpo e puxava todas as minhas veias, fazendo arder de uma tal forma que nada podia aliviar ou amenizar.
- Não vai falar?
Mesmo com dor, eu estava decidida. Não seria tonta o suficiente para antecipar minha morte.
Ele realmente não acreditava em mim, então não ia perder meu tempo mentindo.
- Não- respondi- se você me matar jamais vai saber onde ele está.
Porque os outros não iriam ser pegos.
- Então você sabe- ele desceu a estaca na altura de meu coração- não importa. Tem mais cinco para falar.
Eu dei risada, eles seriam mais espertos que eu.
- Eles nunca vão ser pegos por vocês.
Ele se endireitou e bateu a faca e o copo em uma mesa encostada na parede.
- A deixe aqui e o que os outros venham buscá-la!
Ele saiu acompanhado dos outros e bateu à porta.
Tentei tirar as cordas de meus pulsos, mas não adiantava, elas estavam mais fortes que eu.
Ótimo. Eu estava presa em um lugar horrível. Dentro de um navio. Ninguém me acharia e eu morreria de sede. Sede por sangue.
***
Emma começou a ficar preocupada. Qualquer coisa que tivesse deixado Ashley brava, não era o suficiente para fazê-la sumir.
Talvez algum lobisomem a sequestrou.
- Não, Emma. Pare de pensar besteira! Ela só deve estar se divertindo- Emma chacoalhou a cabeça.
Mas mesmo assim. Ela foi onde sabia que o problema havia começado, ela tinha que ter hipóteses certas de onde Ashley podia estar.
Ela bateu forte na porta e Cristhian atendeu, com os cabelos totalmente desgrenhados.
Ela sentiu um frio percorrer por sua espinha quando ele sorriu.
Foco, pensou.
- Ashley passou por aqui?
A expressão de Cristhian mudou rapidamente para assustado.
- Ela não estava com você?
- Cristhian, se ela estivesse comigo, eu não estaria aqui- Emma revirou os olhos.
- Entre- ele deu passagem para ela e logo fechou a porta.
O lugar estava todo escuro, até Cristhian acender uma luz do abajur.
- Talvez Jason saiba de alguma coisa- ele olhou para o seu amigo que estava virado de lado na cama, sem camisa. Dormindo.
Emma sorriu por ver seu amigo tão tranquilo.
Assim ele até parece inocente, ingênuo.
- Vou acorda-lo- Cristhian foi ao banheiro e logo voltou com um copo de água.
- Não faça isso- Emma foi para frente de Jason, sussurrando um pouco alto.
Ele sorriu e logo virou o copo no rosto de Jason, que acordou totalmente assustado.
- Eu acho que você tem sérios problemas- ele tirou a água do rosto e olhou para Cristhian que dava risada.
- Não Jason- ele parou de rir- todos nós temos problemas. Ashley sumiu.
- O que?- ele se levantou, perplexo.
A culpa é minha, ele pensou.
- Eu briguei com ela- ele passou a mão pela cabeça- ela saiu daqui totalmente nervosa.
Ele colocou uma blusa branca que estava jogada em uma cadeira.
- Precisamos acha-lá- concluiu Emma.
Os três correram para o quarto de Pitter e Katherine.
- Nós precisamos procurar em todas as partes do navio- Pitter disse.
- Se alguma coisa acontecer com Ashley, eu juro que mato quem a machucar. Nem que seja um simples arranhão- Cristhian entrou no elevador, nervoso.
- Começamos por onde os trabalhadores guardam as coisas, é a parte mais deserta do navio, quem quer que fez isso não vai querer barulho, então... É um ótimo lugar para esconder uma pessoa- Katherine cruzou os braços- vamos logo. Aonde quer que ela esteja, ela precisa de nós.
***
Acordei com o barulho da porta sendo aberta.
- Ashley- ela me olhou assustada e fechou a porta- o que você está fazendo aqui?
Katherine. Ela veio. Eu achava que ela não iria vir, por um momento, tive que me conter para não chorar. Eu precisava sair desse lugar.
- O que você está fazendo aqui?- a encarei. Ela ficou parada na porta.
- Estávamos te procurando e eu vim ver se você estava aqui.
- Me achou- sorri ironicamente.
Ela cruzou os braços e concordou comigo.
- Katherine- me dirigi à ela- sério que você não vai me ajudar?
Levantei o que dava de minhas mãos, para lhe mostrar que eu realmente precisava de ajuda para sair dali e nós não tínhamos tanto tempo.
- Ah, claro- ela veio em minha direção e começou a desamarrar a corda de meus pulsos, depois eu a ajudei a desamarras as cordas de minhas pernas presas à cadeira.
Eu me levantei. Sentindo meu corpo novamente.
Eu fiquei olhando para o seu rosto, feliz. Eu achava que de todos, tirando Jason. Ela seria a última a vir me procurar.
Ela deve ter percebido, porque fez uma careta.
- O que foi?
- Eu achava que vocês não viriam- abaixei um pouco a cabeça.
- Porque?- ela me olhou confusa.
Dei um passo para a frente.
- Porque eu acho que... Não, nada. Deixa isso pra lá- balancei os ombros- acho melhor irmos embora.
- Ashley, me fala- ela segurou meu braço.
Suspirei.
- Ok. Eu achava que você não viria, porque você, todos vocês- corrigi- ficam melhores sem mim.
O queixo dela caiu.
- Você está ficando doida, né? O que deram pra você tomar? Porque olha só, nós não ficamos melhores sem você, a gente precisa de você- ela se aproximou e segurou meu braço- por mais que às vezes eu queira te matar- ela sorriu- mas os irmãos são assim, certo? Se amam e ao mesmo tempo se odeiam.
Ela tinha razão. E como ela disse que eles precisavam de mim, eu também precisava deles. E eu não podia ficar sem eles. Nunca! A abracei forte.
Começamos a escutar passos pelo corredor.
- Acho melhor irmos- ela se soltou.
- Não- quase gritei- eu preciso de sangue!
Ela estendeu a blusa e me deu seu pulso.
- É o único que tenho por enquanto.
Eu não pensei duas vezes, porque os passos começaram a ficar mais altos. Mordi seu pulso. Ela arquejou, mas me deixou beber até... Eu ficar satisfeita.
- Nossa- ela puxou a blusa para baixo e girou o pulso- dói um pouco.
- Desculpa- limpei minha boca.
Começamos a correr pelo corredor, enquanto não havia ninguém por perto.
- Eu preciso me vingar- pensei alto.
- Dos lobisomens?
- Não- continuamos andando- dos caçadores de vampiros.
- Caçadores de vampiros?- ela achou estranho.
- Depois de explico, precisamos sair daqui.
Pitter veio ao nosso encontro e me abraçou de lado.
- Porque está toda manchada de sangue?- ele me examinou.
- Relaxa, no momento, eu estou bem- garanti.

blood Lines- O inícioOnde histórias criam vida. Descubra agora