O escritório de advocacia era silencioso na parte da manhã, o que fazia com que o sono perdido na noite anterior cobrasse sua parte. O som de dedos batendo rapidamente sob teclados era tudo o que preenchia os ouvidos do homem que, de seu cubículo o qual chamava de escritório, encarava o papel cheio de termos importantes e conhecidos, mas que deixavam sua mente em branco. Tudo o que ele desejava era um dia sem fazer nada. Mas para um trabalhador regular que tinha uma família pra sustentar e responsabilidades para com os clientes em um presente onde o capitalismo reina e só produzindo como um escravo se conseguia ter uma vida digna, era impossível.
Se remexeu desconfortável em sua cadeira que um dia no passado fora confortável e acolchoada. Agora só lhe rendia dor nas costas. Retirou os sapatos sociais, ficando apenas de meias. Um hábito ruim. E retirou da última gaveta de sua mesa um par de chinelos gastos. Kim Namjoon estava exausto. Não apenas fisicamente. Na verdade, a parte física era apenas a somatização de tudo o que sua mente conturbada guardava. Sempre fora um jovem esforçado e de personalidade fácil. Podia contar nos dedos as vezes em que perdera a paciência em algum episódio. Era consistente em ser trouxa, como dizia seu irmão Seokjin. Deixava que todos jogassem sobre si a responsabilidade de ser o provedor, o ombro amigo, aquele em que podiam confiar quando não tinha estruturas pra si mesmos. Como Atlas, ele sustentava seu mundo nos ombros largos mas maltratados. Cuidava de todos, mas nunca de si. E também não tinha quem devolvesse o favor com disposição.
Sempre pensou que poderia apoiar-se na esposa. Namorou-a durante todo o ensino médio, não foi surpresa quando se casaram, em um acordo silencioso mas certeiro, pois sabiam que não havia outro caminho a seguir. Era confortável, e após alguns anos de casados, ela engravidou. Não foi surpresa também eles acabarem tendo mais de um filho. O seu sonho sempre foi ser pai. Logo, se viu atarefado entre o trabalho de advogado trabalhista, esposo e pai. Não o entendam mal. Esse tipo de vida sempre foi a que ele sonhou em ter. Mas nos últimos tempos algo havia mudado, acreditou que havia sido primeiro com sua esposa, mas refletira e notara que o comportamento distante e reticente desta fora resultado do seu, porque ele mudou primeiro. Sentia-se culpado, mas não conseguia evitar o sentimento de descontentamento que se alastrava partindo de seu peito para todo o seu corpo, enchendo sua cabeça de divagações inúteis.
O seu celular vibrou acima da mesa e o nome de MoonByul, sua esposa, iluminou a tela. Ele checou por puro costume. Ela teria mais uma viagem de negócios nesse final de semana. Estavam cada vez mais frequentes. Namjoon queria não ter esse sentimento invasivo e desconfiado em direção a companheira e seu não tão recente conduta evasiva. Mas não conseguia evitar. Não respondeu a mensagem. Ao invés disso, levantou-se e procurou por café, suspirando em frustração ao notar que não havia mais nada no seu frigobar ou água quente em sua cafeteira. Teria que ir até a cafeteria compartilhada. Calçou novamente o sapato preto, contrariado, tropeçando um pouco ao tentar vesti-lo enquanto caminhava até a porta.
Cumprimentou os funcionários no caminho com um sorriso simpático, apenas a sombra das covinhas cativantes. Seus olhos rasgados estavam menores que de costume. Estava arrependido de ter ido até o bar de um de seus melhores amigos, Min Yoongi. Principalmente de ter esvaziado algumas garrafas de Soju a pedido de seu irmão caçula, Kim Taehyung, que havia conseguido algum tipo de trabalho como ator. Não havia prestado muita atenção. Não estava muito atento a nada na última semana, não com seu chefe em seu encalço, procurando por qualquer passo em falso. Ele sabia que alguém seria demitido aquele mês, por causa do rendimento ruim daquele ano, e ele não estava nada ansioso para ser o escolhido. Contudo, apesar de saber que fazia um bom trabalho não o confortava, uma vez que seu superior Jung Hoseok não gostava nada dele, e tentava se livrar de sua presença desde que tomara um cargo maior na empresa de advocacia HOPE. Não que fosse uma surpresa a promoção do outro, afinal o pai dele era o dono.
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Meu Ahjussi | Namkook
FanfictionJeon Jungkook é um garoto de 19 anos que tem uma vida atribulada. Seus dias são divididos entre trabalhar e cuidar da avó acamada. Esperança é uma palavra que não faz parte de seu vocabulário. As dívidas, o passado obscuro e seus sonhos esmagados pe...