Um refúgio em seus braços

Pra passar o tempo

Era sempre um alívio passar os dias sem precisar combater criaturas sobrenaturais ou ocultistas, os casos diminuíam conforme a membrana ficava mais forte, então apesar da existência de uma ou outra situação, as coisas estavam indo bem nos últimos tempos. Cesar estava satisfeito com isso, poder jogar tranquilo em seu computador e passar as horas ao lado de Arthur e Ivete simplesmente conversando e se divertindo lhe trazia uma sensação de paz e aconchego, como se, após tantos meses correndo assustado, enfim pudesse ter seu momento de relaxamento e descanso. Era o que fazia tudo valer a pena, afinal. Foi dessa maneira que o primeiro dia após a ida de Joui a uma missão se passou, lento e calmo.

O segundo foi um pouco mais diferente. Quando soube que Joui não retornaria tão cedo, uma leve frustração passou a tomar conta de si, uma pequena fagulha que de tão mísera, mal conseguia sentir sua presença. A calmaria quase a anulava completamente, quase. Apesar de quase imperceptível, ela continuou presente, silenciosamente.

No terceiro dia já a sentia mais forte, não mais uma mera fagulha. Agora era uma brasa, lentamente começando a aquecer. Junto dela, vinha a realização do motivo de sua presença: Joui. Cesar estava frustrado e a razão era a ausência de Joui Jouki. Sentia-se uma criança mimada mas não conseguia evitar, estava tão acostumado a tê-lo presente quase todos os dias que agora que ele não estava, tudo começava a parecer errado. Ao menos ainda tinha Arthur, que acordava ao seu lado e passava os dias consigo, então era o suficiente para ser capaz de não pegar sua arma e ir atrás do japonês para terminarem logo aquela missão tão incômoda.

Quando o sol raiou no quarto dia pela manhã, no mesmo instante em que abriu seus olhos e seu olhar encontrou apenas Arthur dormindo tranquilo e mais ninguém, soube que estaria fodido. Joui ainda não tinha voltado. Uma checagem rápida em seu celular confirmou que estava tudo bem, a julgar pelos emojis felizes que ele tinha mandado há alguns minutos, mas era só isso. Sem previsão de retorno, seria mais um dia sem ele. Gemeu frustrado, largando o celular novamente na cômoda ao lado da cama e passando as mãos no rosto. Mal podia acreditar que o homem que antes era tão recluso e afastado de todos precisasse tanto de alguém agora.

Virou-se, se ajeitando para ficar deitado de frente para Arthur. Gostava de observá-lo assim de perto quando podia, ele era tão bonito. Passou a mão com calma no cabelo do outro, sempre bem cuidado e macio, se aproximando só um pouco para conseguir sentir o cheiro da pele, que ainda tinha um leve odor dos perfumes fortes que ele passava. Olhou para os lábios, lembrando-se daqueles segundos em que os seus tocaram com os dele há alguns dias e, mais tarde, a imagem daqueles mesmos lábios que antes tinham sido seus por um momento tocando-se com os de Joui. "Você tá me devendo um também."

Então cobra, Arthur.

Quando conseguiu sair de seus devaneios, um par de olhos heterocromáticos o observava, acompanhados de um sorriso no rosto.

— Bom dia — Arthur cumprimentou, passando o braço ao seu redor para o abraçar na cama como sempre fazia, e, como também era de costume entre os dois, Cesar apenas fechou os olhos e o cercou também, juntando-os. — Dormiu bem?

Assentiu com o rosto enterrado no ombro do outro.

— Você dormiu? — repetiu a pergunta, fazendo um lento carinho nas costas do outro por cima da camiseta fina que ele usava.

— Sim, acho que os pesadelos tão parando aos poucos — respondeu, e então soltou-o por um momento, pegando a mão que acariciava suas costas e a levando gentilmente para debaixo do tecido, fazendo com que os dedos do outro agora tocassem diretamente sua pele, então voltou a passar o braço ao seu redor.

Por um momento Cesar congelou, aquilo era novo. Hesitante, recomeçou o carinho, deixando as pontas dos dedos passarem lentamente pelas costas, sentindo pela primeira vez aquela região. Arthur soltou um murmúrio satisfeito, descendo um pouco o braço para poder segurar sua cintura.