Alguma parte do meu cérebro, provavelmente a parte sensata dele, parecia ter desaparecido em um passe de mágica, eu sabia que desistir seria a melhor opção, preservaria um pouco da minha dignidade. Mas em vez disso, eu o agarrei com mais força e afundei meu rosto em seu pescoço. Era o meu desespero. E, mesmo sabendo que desespero não era nenhum pouco atraente, não consegui me controlar.
Ele suspirou e soltou um pouco o ar, permitindo que eu pudesse aperta-lo mais. Não é assim que as cobras matam as suas presas? Nem esse pensamento ridículo me fez soltá-lo.
– Cesar, eu sinto muito.
– Então não faz isso. E se tem que fazer, não pode esperar que o jantar acabe?
– O que você acabou de falar me faz ter certeza que não. Você só quer que seus amigos me vejam.
– Claro que não. – Tá, isso era uma meia verdade. Mas só por causa da Liz. A mulher fazia questão de jogar na minha cara que o meu namorado não existia, sendo que ele existia sim. Se pensar bem ela nunca foi muito com minha cara, nossa relação tinha melhorado ao passar dos anos, mas a implicância chata que ela tem comigo continuou. Acho que ela só me aceitou no grupo porque Thiago me trata como um irmão, senão ela já tinha chutado a minha bunda.
Mas não era só por isso que eu queria que o Bruno ficasse comigo agora. Eu gostava dele de verdade antes dele terminar comigo em um estacionamento em plena véspera de ano novo. Mas agora que ele está mostrando seu lado filho da puta, eu só queria que ele entrasse, provasse que existia, desse um tapa na cara da Liz por mim, talvez, e depois fosse embora. Era pedir demais? Além disso... É fim de ano caralho. Ele ia mesmo me deixar de vela no meio de tantos casais no ano novo?
– Não é só com isso que eu me importo... – Minha voz estremeceu, embora eu tentasse não demonstrar fraqueza. Bom, exceto pelo fato que eu estivesse grudado nele com se tivesse levado um choque de alta voltagem.
– É só com isso que você se importa. E confirmou minha impressão hoje quando me viu e a primeira coisa que disse foi: “Meus amigos vão tomar na cara”. Sério, Cesar? Você não me vê a duas semanas, e essa é a primeira coisa que fala?
Tentei me lembrar. Eu tinha dito isso, ou ele estava inventando para se sentir melhor? Ele estava lindo mesmo. E, sim, eu queria que meus amigos vissem o quanto ele era lindo. Isso era errado?
– E no caminho para cá você passou o tempo todo falando como deveríamos entrar. Até disse como eu deveria olhar para você.
– Eu sou meio perfeccionista. Você sabe disso.
– Meio?
Raiva corria pelas minhas veias, e eu sentia uma imensa vontade de socar a cara desse imbecil. Mas iria continuar o nosso teatrinho para não chamar atenção, afinal odiava chamar atenção.
– Cesar. – Bruno se desgrudou dos meus braços e se afastou. – Eu preciso ir. A viagem é longa.
– Então vai. Some da minha frente. – Eu cruzei os braços olhando para tudo menos ele.
– Deveria entrar. Está incrível.
– Você não pode simplesmente me xingar e ir embora, ou algo assim? Ou precisa ser perfeito até quando termina um namoro? – Ele era perfeito, e pensar que meu desespero para segurá-lo ali não tinha apenas a ver só com meus amigos começava a dominar minhas emoções. Eu não queria que ele soubesse que estava me machucando de verdade.
Ele sorriu de um jeito brincalhão e então aumentou o tom de voz:
– Nunca mais quero falar com você. Antissocial idiota de merda. Você merece entrar lá sozinho!
Por que soou tão convincente? Mantive o teatrinho.
– Vai se foder, babaca!
Ele me jogou um beijo, e eu sorri. Fiquei olhando ele entrar no carro e ir embora. Então o sorriso sumiu do meu rosto e meu estômago deu um nó. Acho que ele pressupôs que eu conseguiria uma carona para casa. Ainda bem que todos os meus amigos estavam lá dentro... Esperando que eu aparecesse com o cara que eu falava há dois meses. Tudo estava um desastre para uma noite de ano novo. Eles dizem “ano que vem vai ser melhor”, olha o jeito que começou, isso é o melhor?
Suspirei cansado e olhei para a porta do restaurante já iria entrar lá dentro com a minha face derrotado, quando um cara passou do meu lado em passos lentos, ele parecia alguns anos mais novo que eu e usava um suéter vermelho. O homem parecia falar ao telefone, e demonstrou um olhar desanimado assim que desligou o objeto. Meu cérebro foi como um desenho animado quando uma lâmpada acende.
– Oi. – Eu disse.
– Oi.
– Você está esperando alguém? – Se sim eu ignoraria toda a minha ideia genial e passaria a minha vergonha quieto e solitário.
– Não. Eu até estava, mas agora.
Ótimo. Eu tenho passe livre.
– Perfeito.
Ele ergueu as sobrancelhas.
– Você vai ser meu par!
– Ah... – Ele abriu a boca, mas isso foi tudo que saiu da boca dele.
Me aproximei dele analisando completamente a sua roupa e estava perfeito. Além de que o corpo dele ajudava muito.
– Por que eu seria seu par? – Ele tentou se afastar.
– Por favor. – Eu segurei a mão dele. Será que alguma vez eu já senti tanto desespero? – Meu namorado acabou de terminar comigo. Você deve ter visto, ou ao menos escutado. E eu não quero passar o ano novo de vela. Além disso, meus amigos já acreditam que ele existe. É uma longa história, mas eu preciso que você seja ele. – Ele me olha como se eu fosse um maluco, e talvez eu pareça um.
– Você quer que eu finja ser o Capitão América?
Demorei para raciocinar mas me toquei que ele falava sobre o porte físico impressionante de Bruno.
– Eles não sabem como ele é. Além disso você é... O Homem-Aranha. – Falo o primeiro super herói que apareceu na minha mente.
– Eu gosto do Homem-Aranha. – Ele sussurrou mais para si mesmo me fazendo dar um pequeno sorriso.
– Então vamos lá, Peter Parker. Você será o meu namorado perfeito.
_________________________________________
Tô aqui para desejar um feliz ano novo. Que 2021 seja, pelo menos um pouco, melhor que 2020.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Namorado de Mentirinha
FanfictionQuando Bruno, namorado de Cesar Cohen, termina com ele no estacionamento do restaurante onde iriam comemorar o ano novo, Cesar precisava pensar rápido. Afinal, ele ficou falando de Bruno há meses para os seus amigos. Essa era para ser a noite onde e...