Capítulo 05

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Suspirei. O que eu estou fazendo? Quando foi que eu passei a esconder quem eu sou? Quando eu passei a ter mais medo do preconceito do que ser eu mesma?

Quando foi que eu optei por enganar uma pessoa ao invés de falar a verdade nua e crua e depois lidar com as consequências?

Lucy já estava dormindo quando eu resolvi aparecer no quarto, o que levou algumas horas.

Toda essa provocação que ela faz comigo tem um propósito. Ela só está tentando me lembrar de quem eu sou. E ela está certa. O mínimo que eu devo a mim mesma é honestidade.

É uma sensação horrível perceber que eu vim fingindo ser uma coisa que eu não sou. Aliás, que eu vim fingindo não ser uma coisa que eu sou.

Deitei na cama e abracei Lucy por trás, enterrando meu rosto em suas costas. Minha cabeça era um turbilhão, mas o ritmo constante de sua respiração estava lentamente me embalando para um sono tranquilo.

- Sam? – ela murmurou, sonolenta. – Tá tudo bem?

- Tá – suspirei. – Só estou colocando minha cabeça no lugar...

Ela se virou para mim.

- O que houve? – olhou de relance para a janela, que estava fechada pela cortina. – Já está de manhã. Você só veio pra cama agora?

Concordei com a cabeça. Estou com os olhos fechados, sem encará-la.

- Eu percebi a grande mentira que eu me tornei – ri sem o menor pingo de humor. – Desculpa. Você estava esse tempo todo tentando me fazer entender, mas eu ignorei. Agora que eu preciso ser sincera, eu tenho medo do que possa acontecer.

Ela afagou meu rosto.

- São as pessoas da escola que te preocupam, ou só uma pessoa da escola em particular que te preocupa?

Suspirei pesadamente.

- Sinceramente? Não sei. As duas opções me assustam pra caramba. Mas eu acho que voltar a passar tudo o que eu passei na antiga escola... Quando eu lembro daquilo tudo é fácil entender porque eu fingi ser alguém que eu não sou.

- Sam, você tem amigos do seu lado. Nós não vamos deixar que essas coisas aconteçam com você novamente. Eu sei que vai ser difícil, e que você não quer passar por isso de novo. Mas se você quiser tentar, eu estarei aqui, como você está comigo quando eu preciso. Eu sei que você está com medo do que ele vai dizer também, mas lembre-se de que ele está tentando aprender. Que ele está tentando entender, e isso já é algo maravilhoso.

Acenei, me sentindo exausta.

- Amanhã vou falar com ele. Espero que ele não surte muito, mas eu devo pelo menos isso a ele... – tentei sorrir, mas me senti estranha. – Obrigada.

- Não precisa me agradecer... Agora vai dormir, pelo amor de deus, e deixa os pensamentos filosóficos para amanhã... – ela bocejou e eu soltei uma risadinha.

- A senhorita poderia dividir meu cobertor comigo, ou eu estou pedindo demais? – perguntei, irônica, já que ela estava parecendo dentro de um casulo com o cobertor.

Ela se ajeitou e levantou o cobertor com o braço, sorrindo. Revirei os olhos e me virei para a parede, ignorando ela e o cobertor. Ela me puxou e jogou o cobertor por cima de mim e me abraçou, tremendo levemente.

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