Novo Projeto

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— Assisti um vídeo sobre uma senhora que morava sozinha e tinha costume de passar todas as noites assistindo televisão até dormir; quando ela acordava já estava de madrugada e ela ia deitar. Uma noite qualquer, ela acordou antes do que estava acostumada e viu um homem parado no quintal, através da janela.  O cara não estava fazendo nada, só estava lá. De repente, ele sumiu e a dona da casa ligou desesperada para a polícia. — ele contou, esforçando-se para manter o tom sombrio carregado na voz. O primo largou a xícara de porcelana na mesa e depois o encarou de maneira muito curiosa. Os olhos pequenos praticamente se tornaram em fendas estreitas, provavelmente colocando todos os seus sentidos de policial à ativa para não perder nenhum detalhe da narrativa. — Os policiais vasculharam a propriedade e não encontraram nada... a única coisa que acharam foi um par de pegadas muito maiores que as da senhora, bem atrás da poltrona onde ela estava sentada... ou seja, o homem parado estava dentro da casa.

— Deus me livre e guarde! — O policial pulou da cadeira e o contador de histórias começou a rir escandalosamente, porque definitivamente tinha conseguido o que queria: atormentar Mingi. Yeosang, sentado ao lado dele, riu de maneira contida e negou com a cabeça. Ainda era um pouco confuso para o escritor que seu primo, o único por quem eu tinha real consideração, e seu melhor amigo de infância fossem parceiros de trabalho e dividissem uma viatura. Na cabeça de Wooyoung, o veículo tinha tudo para bater num poste, independente de qual dos dois estivesse na direção. — Você não pode começar a contar uma coisa dessas, como se fosse uma notícia. Conseguiu me deixar pilhado, e como eu vou dormir agora?

— Pensei que você estivesse de plantão na delegacia... — o mais novo respondeu com tocável descaso, batucando a colher dentro da xícara vazia diante dele.

— E estamos... — Yeosang respondeu, levantando-se e espalmando as pernas. — Só que agora ele não vai querer ir ao encontro de nenhuma senhora em apuros. — O tom de voz costumeiramente baixo, estava praticamente cansado, porque estava claro que o Song ficaria falando daquilo por horas adentro. Wooyoung tinha certeza de que se não estivessem em serviço, Yeosang lhe daria um tapa na nuca e pediria para que nunca mais fizesse esse tipo de coisa outra vez.

Não que ele fosse deixar de fazer, de qualquer forma.

O Jung na verdade, apenas voltou a rir exageradamente e Mingi repetiu inúmeras vezes o sinal de crucifixo sobre o peito, resmungando repetidas vezes que "não mesmo!"

O escritor acompanhou os dois até a porta, despedi-se e trancou a fechadura, puxando a pequena cortina que cobria o vidro em seguida. Olhou em volta com tranquilidade: ainda haviam inúmeras caixas de coisas para colocar no lugar, mas ele não estava muito preocupado com isso. Wooyoung quase sempre era o tipo de cara desapegado com o que não achava ser prioridade.

Por exemplo, depois de conseguir aplicar uma pequena neurose na cabeça oca do primo, ele estava muito bem inspirado em começar um novo projeto de escrita. Então o máximo que faria era colocar as três xícaras recentemente usadas na pia, depois tiraria um cobertor e um dos travesseiros de alguma caixa, pegaria seu fiel notebook e se encolheria no sofá para transcrever para um documento tudo aquilo que seu cérebro já criava.

Jung Wooyoung era escritor. Tinha nove obras de suspense policial publicadas e seu novo livro sairia pela editora conhecida como a melhor no tema que ele tanto amava escrever. A questão que rondava sua mente criativa, no entanto, é que já estava cansado de tirar inspirações de situações que ele nunca nem mesmo tinha presenciado. Foi fácil para ele decidir correr para a cidade do interior onde havia nascido, e onde os tios e o avô ainda moravam.

Ele havia saído da cidade com menos de dez anos de idade, e depois só havia visitado Namhae-gun poucas vezes. Porém se lembrava perfeitamente de meu avô contando sobre o trágico fim de uma família, e como ninguém nunca mais quis chegar perto da casa onde eles residiam; por medo. Ele contava que a própria Morte vivia na fazenda largada às traças, levando as almas cheias de catástrofes para contar com ela.

Nem quando criança, nem com quase trinta anos de idade, Wooyoung conseguia sentir medo da Casa da Morte. Pelo contrário, sentia atração. E para entregar sua próxima história, ele usaria tudo que pudesse descobrir sobre a propriedade; o que levou um filho a matar os pais e desaparecer junto do irmão; e tentaria, acima de tudo, desvendar o motivo dos órfãos nunca terem sido encontrados.

Mesmo que isso fosse um romance trágico demais para se contar.

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debutei nesse site, quem amou?

um abraço e um queijo pra carlita, lá do Psycho Edits, que me fez essa capa magnífica!

gratidão!

A Casa da MorteOnde histórias criam vida. Descubra agora