Único

1.9K 246 31
                                    

Eu tenho que levar essa xícara de café agora para o senhor Kim. Eu preciso levar, ele pediu faz alguns minutos mas eu não consigo sair do lugar. Minhas pernas tremem enquanto estou cravado no chão segurando a bandeja de café com os braços tremendo. Meus músculos não se movem, minha mente está agitada pensando em mil e umas coisas, eu estou desesperado por dentro.

A luz acabou, e eu tenho medo de escuro.

Eu não sei onde o Namjoonie hyung está, e mesmo se eu soubesse, sabia que eu não conseguiria sair do lugar com tanto medo. Minha mente estava em pane, eu sentia que alguma coisa que atacaria se eu movesse um músculo sequer. Mas eu estava preso, o corpo não saia do lugar, minha mente não processava a informação de que eu deveria correr para os braços do meu cuidador, e aquilo estava começando a me desesperar.

O choro que não queria sair, que estava entalado e preso na garganta, o ar que aos poucos se desfazia no meu peito, era mais uma crise de pânico que eu estava passando por medo do escuro. Eu só queria que Namjoon chegasse ali e me tirasse daquele transe louco que eu estava, eu ficava agitado, ansioso, agoniado, sem ar, era uma sensação tão ruim.

"Me tire desse escuro, papai."

(...)

Não conseguia ver nada do corredor á minha frente, por mais que eu já tivesse resolvido todo o gerador de luz, para que a energia do gerador substituísse a energia normal até ela chegar.

Mas o meu dever agora era encontrar Jungkook.

Eu ainda estava no último andar, Jungkook provavelmente estava no décimo quarto, o elevador não estava funcionando então tive que correr rapidamente pelas escadas de incêndio á procura de Jeon. Lembrei-me que tinha pedido á ele um copo de café, naquela altura ele estaria levando o copo para mim, mas deve ter parado no mesmo lugar quando a luz cessou.

Mesmo cansado de descer tantas escadas, eu corri como se estivesse numa corrida para chegar aos braços do meu pequeno. Parei no corredor em frente á sua sala e ouvi gemidos baixinhos no local, assim que olhei para o lado, me assustei com o que havia visto. Jungkook estava imóvel, tremendo que dava para ver de longe, gemendo baixinho provavelmente estava com uma crise de pânico.

A única ação de imediata foi correr até ele, tomar o café da bandeja, e jogar o café - que agora estava morno - em seu corpo, somente para ele sair do transe e se assustar. Caso eu tentasse animá-lo apenas o balançando, seria totalmente lento para ele sair da crise e continuaria perdendo o ar e tremendo, ou até algo pior.

Logo o choro veio alto e forte, seu corpo se abraçou ao meu, e eu apenas apertei ele contra mim, deixando beijos em seus cabelos e tentando acalmá-lo com batidinhas nas suas costas.

— Papai, medo... E-escuro, Jeonie-

— Shh... O papai está aqui agora amor, te protegendo. — respondi, agora carregando o pequeno em meu colo, sem deixar de abraçá-lo.

Jungkook chorava e tremia, nervoso e com bastante medo. Pedi que ele fechasse os olhinhos e imaginasse que estava numa corrida de carros velozes, e que ele estava vencendo. Ao pedir isso, aos poucos ele foi cessando o choro e apenas soluçando no meu ouvido, mesmo que repetidas vezes ele falasse meu nome.

Não tinha banheiro nem um chuveiro para dar um banho rápido em Jeon, então apenas troquei suas roupas na minha sala por roupinhas fofas que eu deixava de reserva na minha gaveta. Quando finalmente ele estava mais calmo, a energia finalmente voltou.

— Amor, o papai vai desligar o gerador na outra sala, espera um pouco aqui. — comuniquei, vendo ele se levantar rapidamente com os olhinhos assustados. Eu odiava ver ele daquele jeito, tão sensível e inseguro, aquilo doía tanto.

— N-não papai, não me deixa aqui. — pediu, me fazendo não ter outra alternativa a não ser levar ele junto.

Como sempre, eu levava ele nas costas, isso deixava ele distraído e até animado. Mesmo que ele estivesse atrás de mim, eu podia sentir o sorrisinho pequeno que ele fazia, começando a ficar mais calmo e felizinho. Assim que chegamos na sala de gereciamento energia do edifício, abri a caixinha e me afastei.

— Quer tentar? É só puxar a alavanca para baixo. — perguntei, sentindo ele se apertar mais á mim.

— N-não papai, eu tenho medo de fazer errado...

— Eu juro que você não irá fazer errado pequeno. — respondi rindo, não era algo que requeira habilidade. — Tente.

— Tudo bem. — respondeu, levando a mãozinha para a alavanca e puxando para baixo.

De repente a luz apagou novamente, e Jeon se se abraçou forte á mim, soltando um resmungo fraco, mas logo em seguida a luz retornou, e tudo estava normal novamente. Deixei um beijo em sua bochecha, e vi ele se abraçar cada vez mais forte á mim, e então saímos da sala e segui de novo para a minha.

Quando eu abri a porta da sala, vi mais de dez seguranças com as mãos nos joelhos e tentando recompor as energias, provavelmente eles subiram todas as escadas até o décimo sexto andar, o último andar da empresa. Se assustaram ao me ver com Jeon no colo, e então deixei o pequeno na sala e voltei para a porta, discuti com eles sobre o que havia acontecido e entrei na sala novamente.

— Eles me viram no seu colo, não foi papai? — perguntou com vergonha, enquanto eu me sentava na poltrona da minha mesa.

— Acho que sim, mas a gente resolve isso depois. — tirei meus óculos e joguei na mesa, coçando os olhos de cansaço. — Está tudo bem agora?

— Hu-hum. — assentiu o mais novo, e então eu sorri para ele.

— Venha, hm? Quero te abraçar. — pedi, vendo ele sair devagar do sofá em meio à sala e correr até mim, sentando em minhas pernas e cruzando os braços em meu pescoço.

Seu pescoço estava diretamente em meu nariz, podia sentir o cheirinho de café ainda pregado em seu corpo, mas estava com um cheirinho de perfume leve, e aquela mistura me acalmava. Mesmo que já estivesse tudo bem, eu ainda estava assustado. Eu tinha medo de ver Jungkook com suas crises, da última vez não foi nada fácil. Aquele cheirinho me dava paz, que agora estava tudo bem.

Cheirei um pouco mais forte e vi ele se remexer nas minhas pernas, rindo fraco. Tirei meu rosto de seu pescoço e ri junto com ele, vendo os olhinhos fecharem e o sorriso grande e gengival surgir como raios de sol. Aquilo tudo me deixava calmo, e tudo estava resolvido.

— Eu te amo papai, obrigado por ter me salvado. — respondeu, voltando a enterrar o rosto em meu peito.

— Nunca deixaria de te salvar, amor. — respondi, acariciando os cabelos.

Café e beijos.Onde histórias criam vida. Descubra agora