- Espero que funcione – disse Edward cansado, havia semanas que não dormia direito por causa daquele projeto, e tinha esperanças, mesmo sendo mínimas, de que talvez funcionasse.
Ele estava em um laboratório, o Laboratório Becker's, o dono dessa propriedade era por acaso seu melhor amigo, mas isso não trouxera benefícios para que Edward conseguisse trabalhar neste lugar magnífico. Este teve de chegar lá com seu próprio suor, dias incontáveis estudando.
A sala era enorme, mas em compensação, o laboratório ocupava um imenso espaço, o cômodo não era nada comparado ao terreno. Cinco cientistas trabalhavam naquele local, cada qual mais inteligente que o outro, porém nada se assemelhava com a mente genial de Anthony, no caso, o dono do laboratório inteiro.
Uma porta de vidro impedia a entrada de pessoas curiosas, principalmente a de seus maiores rivais, o laboratório ao lado. Não havia se quer uma fresta que permitisse a entrada da luz no cômodo, com todas as janelas e portas rigorosamente fechadas.
Instrumentos e ferramentas ficavam jogados por toda parte, o que irritava muito a única mulher do grupo, a qual desejava que tudo permanecesse extremamente organizado e, a muito contragosto, a encarregada de impedir que o lugar se tornasse um chiqueiro tecnológico. Entretanto, neste dia ela fora a responsável por metade de bagunça, pois andava entretida com sua parte do projeto.
Todos mantinham-se esperançosos, apesar de saberem que não poderiam dar esse luxo, para que a máquina na qual se dedicaram muito funcionasse. Estavam todos os cinco em pé ao redor da geringonça, na expectativa muda usual.
Com um clique, um tipo de névoa invadiu a sala, a máquina engasgou e soltou um barulho terrivelmente familiar aos ouvidos dos cientistas, a frequência aumentava a cada segundo, até que como um último suspiro, desligou.
- Merda! - falou Edward ao dar um chute na mesa mais próxima.
Anthony caminhou pela sala, descansou ambas as mãos na mesa redonda que ficava no canto oposto à porta e, retirando os óculos, encarou os colegas.
- Não podemos ficar tristes, muito menos com raiva, sabíamos que a probabilidade de funcionar era meramente instintiva, conhecíamos as consequências de investir nisso. - disse ele - Temo que este foi o nosso último esforço.
- Você vai simplesmente desistir? - perguntou Samuel, com indignação na voz. Ele era um homem de estatura média, os cabelos de um castanho escuro já começavam a escassear no topo da cabeça.
- Não há nada mais a ser feito.
- Sei de uma maneira para que funcione. - insistiu ele, ignorando as reações negativas dos cientistas.
Anthony encarou o amigo e aqueles olhos verdes faiscantes, ele sabia o que o outro queria dizer com aquelas palavras insensatas.
- Eu já disse, não! Não faremos isso, você conhece as consequências. Precisamos saber a hora de parar e deixar de insistir. Já faz mais de dez anos!
- Cientistas não desistem! - berrou Samuel.
- Desistem sim, os únicos que insistem são os chamados loucos, nós não ficamos investindo em coisas sem futuro, sabendo que não funcionará! - berrou o outro de volta.
- Como sua esposa por exemplo? - gritou Samuel como um último esforço de fazer o amigo escutar, mas Anthony, ele sabia bem, jamais permitiria qualquer tentativa vinda do lado ilegal, tendo em vista com o que acontecera da última vez que usaram o cristal. - Foi você quem não quis fazer do meu jeito, eu tenho a solução!
Os três que estavam apenas observando a briga, congelaram, esse era um assunto extremamente delicado para se tocar e Samuel sabia muito bem disso.
- Isso é diferente, não estamos falando de vidas humanas, estamos falando sobre uma máquina sem utilização. Você nunca se casou, e não é atoa, então nunca saberá como é a dor e o vazio que sinto desde então. - Anthony parecia se descontrolar a cada palavra, apesar disso, quase que de repente, o homem aprumou a postura e pronunciou a última frase o mais formal e sério possível. - Se você insistir nisso novamente, não terei outra opção se não despedi-lo, você conhece muito bem as regras.
Assim, Samuel saiu determinado e de cabeça erguida, deixando um silêncio mortal para trás.
Passaram-se vários anos desde a grande briga entre os dois amigos, o grupo de cientistas foi desfeito e cada um foi para o seu lado. Anthony irritava-se sempre que pensava no tamanho da ignorância de Samuel. Apesar de ter sido seu grande amigo um dia, apenas a insinuação de que tentar acordar sua esposa do coma fosse inevitavelmente inútil, fez com que ele perdesse os trilhos novamente, Anthony iria fazer tudo que estivesse ao seu alcance para salvar a vida da mulher. A culpa foi minha e só minha por tê-la deixado entrar no laboratório aquele dia, mesmo sabendo do perigo que a estava expondo, eu deveria ter trancado a porta...
Por outro lado, Samuel não se sentia tão errado, apesar das várias discussões com o restante do grupo, ainda sentia-se empenhado em terminar a máquina, com ou sem o apoio de Anhony, custe o que custasse, custe o que custasse...
VOCÊ ESTÁ LENDO
Diamante entre mundos (editando)
PertualanganA fina e tênue camada do tempo é um alvo constante de diversos cientistas e suas máquinas, que tentam a todo custo ultrapassá-la, não importa as consequências. Mas, e se a máquina não ultrapassar o tecido do tempo, e sim a dos mundos?