Capítulo 5 - Landslide

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"Well, I've been afraid of changing

'Cause I've built my life around you

But time makes you bolder

Even children get older

And I'm getting older, too"

(Fleetwood Mac - Landslide)

Flashback - terça-feira. Primeiro dia de Sakura enquanto uma mulher casada.

Naquela madrugada, todos os habitantes de Konohagakure desfrutaram de um sono tranquilo e merecido, exceto por duas pessoas: uma jovem recém-casada de cabelos cor-de-rosa e a autoridade máxima da vila. A diferença é que um deles teve que fazer o próprio café da manhã após despertar, enquanto a outra foi surpreendida com uma bandeja completa na cama.

-Bom dia. Percebi que você não dormiu bem à noite e achei que me responsabilizar pelo café da manhã poderia ajudar em alguma coisa. - Talvez Sasuke estivesse começando a levar jeito para o ofício de marido, afinal.

-Hm... Bom dia, Sasuke-kun. Que horas são? Eu te atrapalhei? - respondeu Sakura, com uma voz bastante esgotada (e, infelizmente, não por excesso de atividade sexual na noite anterior como seria de se esperar).

-Ainda está cedo, não se preocupe. Eu já me alimentei e me apresentei no escritório do Hokage para receber minha próxima missão, que deve começar hoje à tarde.

-Oh. Entendo... - Sakura não pôde evitar sentir alívio diante da informação. "Com certeza, Kakashi deve ter oferecido uma licença de lua de mel para Sasuke. Mas não é surpresa que ele não tenha aceitado."

É importante dizer que Sakura nunca esperou que eles fossem viver uma pacata rotina de casados: eram ninjas, antes de mais nada. Ela continuaria se dedicando ao hospital, e ele sairia em quantas missões fosse necessário para o bem da vila. Mas entre reconhecer esse fato e se sentir aliviada por ele havia uma distância quilométrica...

-Sei que não devia ser isso que você esperava assim tão cedo, mas já cumprimos nossas obrigações maritais, certo? Devo ficar fora por 15 dias. Acho que é tempo suficiente para você acompanhar o que vai acontecer com seu ciclo e montar um relatório para mim.

Se havia jeito mais desestimulante para lidar com a concepção de um filho, Sakura desconhecia. E a cada vez que o marido abria a boca para tratar do assunto, ela morria um pouco por dentro.

-Sasuke-kun... Talvez a pergunta seja um tanto quanto óbvia, mas preciso fazer. Tudo bem, a meta para o momento é conseguir engravidar. Mas e depois disso, como faremos?

-Eu acompanharei o quanto puder da gestação e do parto, e depois sairei por alguns anos em uma missão longa e secreta que será essencial para a segurança de Konoha. Os detalhes já estão sendo discutidos com Naruto, considerando que ele vai assumir o posto de Hokage daqui a pouco tempo. Você e a criança terão uma vida muito confortável, e depois de algum tempo trabalharemos em um segundo filho, é claro. - respondeu ele, tranquilamente. - Agora, se você me der licença, preciso ir à vila coletar alguns itens para a missão de hoje. Aproveite seu café da manhã, uma boa alimentação é essencial para a fertilidade.

E saiu com seu corpo esguio e a capa tão escura quanto seus cabelos balançando majestosamente atrás de si.

Não há muito o que dizer sobre a despedida do casal: Sakura se encontrava tão transtornada que sequer teve vontade de almoçar, e precisou fazer um esforço gigantesco para aparentar normalidade ao dizer "até breve" ao marido. 

-Excelente, Sakura, realmente excelente. Em menos de 24h você se tornou uma esposa frustrada, sexualmente insatisfeita e, com um pouco de sorte, prestes a virar mãe solo. Parabéns pela conquista. Era isso que você queria, certo? - ela disse para si mesma, chorando de desgosto em frente ao espelho. Em uma situação como aquela, falar sozinha era o menor de seus problemas. 

-É isso que você ganha por ter construído sua vida ao redor de outra pessoa. Mas as crianças crescem, Sakura. E você está envelhecendo também. 

Se a jovem Sra. Uchiha estivesse sendo analisada por um terapeuta naquela tarde, ele ficaria surpreso ao constatar que em pouco mais de duas semanas, entre noivado e casamento, ela já transitava entre os dois primeiros estágios do luto. Primeiro, houve a negação, onde ela se recusava a enxergar a tragédia anunciada que praticamente berrava em seu rosto. Incontáveis "bandeiras vermelhas" surgiram ao longo do percurso: quando Sasuke recusou seus ideais de celebração; quando ele não quis beijá-la antes de oficializar o matrimônio; quando se negou a adquirir as alianças para o casamento... Isso para não falar no desastre que foi a noite de núpcias.

Mas qualquer um que conhecesse Sasuke Uchiha desde a infância não se surpreenderia com tais atitudes vindas dele. Muito menos Sakura deveria, já que ela fora a principal destinatária de boa parte do desprezo que o jovem nutria pelo mundo. Sendo assim, como pôde ela acabar nessa situação? 

E foi aí, meus caros, que a rosada adentrou o tempestuoso segundo estágio do luto: a raiva, sendo essa direcionada à primeira figura em que seus olhos conseguiram focar. Em uma das paredes da sala do apartamento, repousava tranquila a tradicional fotografia do antigo Time 7 em uma de suas primeiras missões. E quem ocupava a maior parte da foto, por ser o único adulto? O próprio Kakashi Hatake.

O mau tempo do dia anterior se mostrava ainda pior no momento em que Sakura pôs os pés para fora de casa, decidida a ir até os antigos campos de treinamento da equipe para tentar aplacar um pouco de sua ira. Seus pés a guiaram com rapidez invejável enquanto lágrimas de revolta se misturavam às gotas de chuva. A tempestade elétrica viria a calhar: na pior das hipóteses, apenas abafaria os gritos e golpes da jovem; na melhor delas, ela seria atingida por um dos raios.

-Droga, Kakashi-Sensei! Maldito, mil vezes maldito! Shannarō!! - pode-se dizer com total segurança que ninguém gostaria de estar no lugar daquela pobre árvore no momento.

-Por que não usou essas suas palavras proféticas ANTES de eu me meter nessa situação toda? ANOS antes, Kakashi-Sensei. Não HORAS antes, droga. Você deve me desprezar muito mesmo... Quando Naruto e Sasuke estavam em perigo, você sempre era o primeiro a levantar seu maldito traseiro do sofá e ir atrás deles para salvá-los. Mas quem sou eu, não é mesmo? Que valor eu tenho, droga? 

Ela chorava, gritava e as palavras eram interrompidas pelos incontáveis golpes desferidos contra tudo que estivesse ao alcance.

-Talvez, se eu tivesse tido uma referência de masculinidade minimamente saudável na minha adolescência, eu pudesse ter me livrado desse destino miserável. Esse era o seu lugar, Sensei! Você estava certo quando disse que eu tinha pouco ou quase nada a aprender com você enquanto ninja. Mas não era disso que eu precisava. E agora é tarde demais.

Dito isso, caiu de joelhos e se deixou banhar pela chuva que caía abundantemente sobre si.

Não fosse seu estado de total desordem, teria se atentado ao fato de que, perto dali, um certo homem de cabelos prateados se escondia atrás de uma das árvores e ouvia tudo. Com detalhes. Talvez até pudesse desvendar se a água que escorria pelo rosto masculino era oriunda das chuvas ou... Bem, de alguma outra reação fisiológica que nada tinha a ver com a meteorologia. 

Mas, novamente, ela não soube. 


N.A.: Acho que já deu pra perceber que eu curto um drama HAHAHA mas para mim, as melhores histórias de amor nascem do caos. E espero que essa seja uma delas.


Link para a música do capítulo: https://www.youtube.com/watch?v=k4M53xndqiU


KakaSaku - The Ballad of the Cherry Blossom and the ScarecrowOnde histórias criam vida. Descubra agora