58. Surpresa!

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9 de abril de 2022

Raquel

- Vou tomar um duche! – aviso a Tânia e o meu filho, ocupando a única casa de banho do apartamento.

Daqui a pouco, vamos sair os três para almoçarmos juntos e festejar o meu 26ºaniversário, por isso vou tomar um duche e arranjar-me. O dia de hoje não vai ser, nem de longe nem de perto, aquilo que os meus aniversários costumam ser normalmente. É o primeiro aniversário em que não vou ter os meus pais nem a minha prima comigo e isso está-me a custar um pouco, devo admitir. Tenho tido mesmo muito trabalho e não consegui juntar folgas suficientes para ir a Portugal, por isso não vou ao Porto desde o Natal e não vejo os meus pais desde janeiro, quando cá estiveram. E ainda nem sequer tive oportunidade de conhecer pessoalmente a minha afilhada, Beatriz, o que me causa um enorme aperto no coração. Quando decidi vir trabalhar para Manchester, já sabia de antemão que isto ia acontecer, mas não estava preparada para que fosse tão difícil. E, para piorar a situação, o André vai trabalhar o dia todo, já não estamos juntos há dois dias e eu sinto-me particularmente carente. Ao menos, logo vamos poder jantar juntos e acho que isso me vai ajudar a sentir um pouco melhor.

Saio do banho cerca de dez minutos depois, indo até ao meu quarto para escolher a indumentária para o almoço de hoje. A Tânia diz que o local é surpresa, por isso também não sei exatamente se devo escolher algo mais casual ou mais formal. Acabo por escolher uma roupa com que me sinto bem e bonita – porque é assim que nos devemos sentir no nosso dia de anos – e que é um intermédio entre formal e casual. Umas skinny jeans de cintura subida e uma camisa com riscas pretas e brancas são as peças escolhidas e eu coloco a parte da frente da camisa no interior das calças. Como os dias ainda não estão muito quentes e ontem esteve a chover, apesar de ser primavera, calço uns botins pretos com um pouco de salto a complementar o look escolhido. Coloco a habitual espuma nos meus caracóis, para ficarem mais definidos, e perco algum tempo a fazer uma maquilhagem simples e discreta, colocando um par de pérolas nas orelhas e um relógio prateado no pulso. Escolho uma mala preta também, onde coloco os meus pertences, e resolvo pegar no casaco de cabedal para o caso de ficar frio.

Quando estou arranjada, vou até ao quarto do Santiago ver se ele já está pronto ou se necessita da minha ajuda. Apesar de ele adorar fazer tudo sozinho e de esta mudança ainda o ter tornado mais independente, eu ajudo-o na escolha da roupa e deixo-o a arranjar-se sozinho quando vou ter com a Tânia à sala.

- Já me podes dizer onde vamos almoçar? – pergunto, colocando as chaves de casa e do carro na minha mala.

- Não e aviso já que vamos no meu carro, por isso podes deixar aí as tuas chaves. – ela diz, apontando para as chaves do veiculo em segunda mão que comprei há dois meses. Eu assinto, acatando a sua ordem e deixando as minhas chaves no recipiente usado cá em casa para esse mesmo fim – Santi, estás pronto? – ela pergunta, assim que o meu filho chega junto de nós, ao que este assente – Então, vamos.

Depois de confirmar que todas as janelas ficam corretamente fechadas, nós trancamos a porta do apartamento e descemos, de elevador, até à garagem do prédio, onde se encontra o carro da Tânia estacionado.

- Mãe, nós vamos ter de te pôr uma coisa a tapar os olhos. – o Santiago informa-me, sorrindo de forma traquina para a Tânia.

- Já não estou a gostar da brincadeira... - digo, demonstrando o meu descontentamento.

- Vá lá, Raquel, não sejas desmancha prazeres. Eu e o Santi temos uma surpresa para ti, sabemos que vais gostar, mas tens de colaborar. – a Tânia intervém e eu bufo, assentindo e colocando então a venda nos olhos, logo após ocupar o lugar do pendura.

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