Dulce não falou nada. Apenas esperou.
- Angela e eu tínhamos 18 anos quando nos conhecemos. - ele olhou pra baixo e respirou fundo novamente. Como se tivesse fazendo um esforço hercúleo pra falar. - Ela era tão extrovertida, tão sem barreiras. Ela exalava liberdade. Eu não podia ser como ela porque eu tinha que seguir os passos do meu pai. Eu tinha que ser sério, um homem de negócios. Eu tinha que estudar pra isso. Mas a Angela não. - ele sorriu com tristeza ao lembrar dela. - A Angela era livre pra escolher o que ela quisesse. Era madura pra idade. Bem mais que eu. Eu fiquei fascinado por ela. - enfim ele olhou pra Dulce. - Eu fui morar com ela. O problema foi que ela, como eu disse, não tinha nenhuma barreira. Nenhuma barreira de censura. Ela se enveredou por um caminho que era muito difícil voltar: as drogas. Eu nunca quis me envolver com drogas, mas eu adorava o barato que as drogas causavam nela. Eu me aproveitava disso. - falou com raiva de si mesmo.
Dulce não fazia ideia aonde aquela história levaria, mas prestava o máximo de atenção.
- Lembro que Emiliano e Mathias me alertaram. Eles me disseram que a influência dela me faria mal. - ele dá um sorriso irônico. - Eu que fiz mal a ela. - seu rosto voltou a ficar sombrio. - A Angela se apaixonou por mim, mas eu não. Quando a fascinação acabou, eu a deixei. Como se ela não fosse nada. Eu entrei pra faculdade e ela ia atrás de mim, implorava pra eu voltar. Eu a tratava como lixo. Queria que ela sumisse da minha vida. Ela me importunava em qualquer canto que eu estivesse. Ela se humilhava dizendo que não poderia viver sem mim e eu a humilhava mais, dizendo que pra mim ela não era nada. Dizia que me deixasse em paz que eu estava comendo outras mulheres muito melhores que ela. Eu fui cruel, Dulce. - ele olhou para as próprias mãos que suavam sem coragem de olhar para a esposa depois daquelas verdades e depois do que seguiria. - Então ela cumpriu o que me ameaçou. Angela se matou na minha frente.
Dulce colocou a mão na boca para abafar o som de espanto.
- Ela atirou na própria cabeça na minha frente. Não pôde nem ser socorrida, morreu ali mesmo, nos meus braços. Ela morreu por minha culpa. Porque eu não a quis mais. Porque eu brinquei com ela. Eu a matei.
Ele então se calou e Dulce viu as lágrimas escorrerem.
- Eu sinto muito, Tiago. - ele a encarou com os olhos molhados.
Tiago nunca contara essa história pra ninguém, apenas os dois amigos sabiam e a família.
- Mas não é culpa sua. - ele sorriu.
- Até hoje eu sinto o cheiro de sangue. O sangue dela em minhas mãos.
Dulce deu um longo suspiro.
- Eu entendo que você se sinta culpado, mas aquilo foi escolha dela. Se fosse assim todo mundo ficaria preso a um relacionamento.
- Ela só me deu amor, Dulce, e eu não retribuí. - falou com pesar.
Então Dulce entendeu e lágrimas grossas vieram. Ele sabia que ela o amava, assim como Angela e também não retribuiria aquele amor. E num rompante de raiva, levantou-se da mesa.
- Não se preocupe, Tiago, eu não sou idiota o bastante pra me matar caso você não retribua amor.
E saiu dali. Tiago ficou um tempo parado, sem entender o que foi aquilo.
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Já era amor FINALIZADA
Любовные романыA história de três casais acontece na paradisíaca Cartagena das Índias. Cidade portuária na costa caribenha da Colômbia. À beira-mar, fica a murada Cidade Antiga, fundada no século XVI, com praças, ruas de paralelepípedos e coloridos prédios colonia...