Capítulo 2.

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O sol quente batia na minha testa, me fazendo suar e me incomodando ao extremo. Ao abrir os olhos com lentidão, me vi na mesma cena de quando terminei com Oliver: uma carcaça. Um lixo.

A mancha em meu vestido era inconfundível, e pingos de vinho me cercavam juntamente da garrafa deixada pelo chão.

— Droga! — resmunguei, enquanto tentava me levantar e esfregava a mancha do meu traje.

Quando me dei conta de que eu havia invadido o antigo apartamento de Artur comecei a ter um leve ataque de pânico, procurei a chave pelos cantos da casa e sai de fininho. Pelo corredor que já podia ouvir vozes vindo do meu apartamento e a porta estava escancarada, quando entrei fiquei inerte, todos estavam loucos e rapidamente perceberam a minha presença.

— Meu Deus do céu, aonde você estava? — minha mãe berrou, enquanto vinha na minha direção e segurava os meus ombros.

— E-eu... — gaguejei, enquanto tentava pensar em uma mentira bem convincente. — Eu estava por aí, oras!

— E o que custa avisar, Chloe?! Você não é mais criança, pegue o celular e avise quando for dormir fora. — meu pai gritou.

Minha cabeça estava latejando e ouvir aquela barulheira toda em plena manhã...

Espera aí, que horas são?

Virei a cabeça e pude observar o relógio na parede da sala marcando dez e trinta e cinco.

— Meu Deus, chega! — gritei, apoiando as mãos na cabeça e me virando para os meus pais. — Eu não sou mais criança, eu sei me cuidar e não devo satisfações de onde eu passei a minha noite!

Minha mãe estava com o olhar fixado e me olhando assustada, e antes que o meu pai abrisse a boca, ela o puxou.

— Um dia você vai se arrepender. — ela disse, pegou a sua bolsa e saiu.

Bufei e ignorei totalmente a presença de Hermione na sala, tirei o meu vestido e joguei a chave do apartamento de Artur no chão.

— Uou! Nunca imaginei que um dia fosse falar assim com seus pais. — ela disse, se aproximando de mim.

— Eu estou cansada de ser tratada como criança, ainda mais com tudo que aconteceu, minha mente ainda está a mil! — confessei.

— Tudo que você diz é pelo fato do seu vizinho gato de estimação ter ido embora ou dos barracos do estágio? — perguntou.

— Tudo que eu digo é... tudo. — suspirei, sentei-me no sofá e fiquei olhando para os meus pés.

— Aonde você estava? — ela deu um passo à frente, ficando ao meu lado e, logo em seguida sentado-se. — Se você tiver saído com um cara está tudo bem, não sinta vergonha em dizer isso, você sabe que eu vou te apoiar.

— Não é sobre nenhum cara, Hermi. — suspirei. — Quer dizer, até é, mas...

— É ou não é? — me interrompeu. — Aonde você estava?

— No apartamento do Artur. — falei baixo, um pouco envergonhada.

— Com o Artur? — perguntou em tom de espanto.

— Não, no apartamento dele, mas sem ele. — expliquei.

— Você saiu da sua festa de formatura, do seu grande momento, para ir sofrer por um cara que você odiava no apartamento dele? E sozinha?! — gritou, isso fez com que minha cabeça voltasse a doer.

— Se for para me julgar, eu vou para o meu quarto. — ameacei.

— Não estou te julgando, só não entendi o porquê dessa situação. — bufou. — A não ser que...

— Que...? — repeti, esperando a resposta dela que estava a sorrir de canto e apontando o dedo em meu rosto.

— Você esteja apaixonada pelo Artur! — gritou, alto possível para que todo mundo ouvisse.

— Eu não estou apaixonada pelo Artur. — revirei os olhos. — Foi só um lance que mexeu comigo.

Talvez eu estivesse apaixonada por Artur, e quando Hermione disse isso e eu realmente me dei conta do que estava sentido, só queria que esse sentimento saísse de mim o mais rápido possível.

— Vocês viviam de brigas, é impossível você ter se apaixonado por isso. Você se apaixonou por ele! — ela riu. — Mas fez bem. Ele é gato, e é rico também.

Gato, rico, cuidadoso, estressante. Mas não está aqui.

— Mas ele foi embora e eu sou uma tola por estar sentindo alguma coisa! — bati as mãos nas coxas e rapidamente me levantei.

— Vamos procurar ele, oras! — minha amiga arqueou as sobrancelhas.

Eu sabia exatamente onde Artur estava, ele estava longe, bem longe daqui. Mas não sabia como encontrá-lo, como chegar até ele e a minha amiga não fazia ideia de que agora, ele estava mais longe do que os meus pensamentos.

— Ele é dono daquele bar, não é? Vamos até lá! — ela levantou-se em um pulo e me puxou pelo braço.

— Calma, Hermione! Eu não vou nesse estado, além do mais, está muito cedo. — falei.

Eu tinha todas essas desculpas, mas o que mais tomava conta de mim era o medo, a ansiedade. Eu tinha quase certeza de que Artur não estava lá, isso só ia me destruir mais, eu ia até lá iludida pensando em encontrá-lo na sua sala chique, sentado em sua poltrona enorme bebendo um whisky caro. 

[...]

— Meu Deus, Hermi! Eu disse que não era uma boa ideia, vamos voltar! — segurei em seu braço e já me aprontei para dar meia volta.

— Sossega, sorrir e demonstra confiança. — ela forçava um sorriso enquanto me puxava na força do ódio para dentro do bar.

Já tínhamos passado pela "passagem secreta" e pelo enorme tapete vermelho, o bar estava lotado, de gente rica, bonita e poderosa, percebi um certo incômodo nos olhos de Hermione, talvez tenha se recordado do idiota babaca que a assediou.

— Bem, como vamos entrar na sala do Artur? — ela me olhou.

— Você não está pensando em... — comecei a falar e ela sorriu largo, e confirmou com a cabeça. — Eu não vou invadir a sala dele!

— E você quer o quê? Pedir permissão aos seguranças? — arqueou uma sobrancelha e olhou para a porta da sala de Artur, onde estavam três seguranças enormes. — Nós temos que pegá-lo de surpresa! Sem tempo para ele inventar alguma mentira.

— Tenho certeza que se pedirmos e explicarmos a situação, eles deixam a gente entrar. — falei, mas quem eu estava tentando enganar? Aqueles caras protegiam o Artur com unhas e dentes, nunca que duas palhaças como nós entraríamos ali. — Hermi?

Olhei ao redor e não conseguia mais ver a minha amiga, procurei, procurei, e quando dei conta ela estava indo com uma bandeja em mãos na direção dos seguranças, olhou para trás e fez um gesto para que eu a acompanhasse. Rapidamente fui caminhando até ela, que falou qualquer coisa ao homem alto e forte, que deu espaço e abriu a porta. Tomei a sua frente e caminhei para dentro da sala, a cadeira estava de costas, a única coisa notável era a taça de vinho em sua mão e o rock clássico que tocava na vitrola em cima da grande mesa.

Meu coração acelerou, será se Artur mentiu para mim? Ele apenas tentou me tirar de seu caminho fazendo eu achar que ele foi embora?

— Boa noite... pois não? — disse, e logou girou a cadeira, revelando seus olhos verdes, o maxilar marcado e a barba por fazer que contornava seu rosto.

— Artur? — Hermione perguntou, confusa.

— Victor, prazer!

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