A love like religion

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Shouto encostou na parede, num canto um pouco isolado do cômodo e ficou observando as pessoas conversando animadas. Ele ponderou se seria rude sair despercebido dali e levou o copo de plástico vermelho aos lábios, a queimação da bebida descendo pela garganta serviu como uma distração momentânea para a mente turbulenta e um som apreciativo abandonou-lhe em seguida.

Ele estava se esforçando, realmente estava. Vinha cumprindo todas as promessas que havia feito ao seu melhor amigo, Izuku, numa tentativa de retornar ao seu antigo ritmo depois de tudo que havia acontecido, tentava não se isolar como tanto desejava fazer, não agir como um miserável soturno impossível de ficar perto. Droga, Shouto até mesmo havia comparecido àquela festa, embora odiasse esses eventos sociais, tudo para que pudesse voltar a ter alguma versão de uma vida normal.

Quando uma pessoa ou outra parava para conversar, Shouto ficava pensando que isso deveria ser algo positivo, todavia o assunto se dobrava em várias direções, mas sempre acabava em constrangimento quando perguntavam sobre o incidente que fizera o filho do prefeito ficar um tempo fora da cidade. Como todos ali eram conhecidos, o que era apenas o normal em cidadelas com poucos habitantes, todos tinham que saber ao menos um pouco das vidas alheias. Shouto, que sempre se sentiu como um estrangeiro, achava este só mais um costume inóspito com o qual nunca iria realmente acostumar-se.

Pela quarta ou quinta vez que alguém inquiriu sobre o assunto indesejado, ele decidiu que teve o suficiente e estava preparando-se para avisar ao seu amigo que precisava mesmo ir embora, todavia, a porta sendo aberta repentinamente o fez frear seus passos. Foi por acaso que o olhar heterocromático travou no par de esferas no tom escarlate mais excêntrico que já havia encontrado em toda a sua vida.

O contato visual, embora desconcertante, durou apenas cerca de um segundo, logo o dono dos olhos vidrantes estava se enfiando no meio das pessoas e Shouto se viu seguindo-o com o olhar, até ele parar perto de Izuku que falava entretido com um casal de conhecidos. O esverdeado saudou o estranho com um meio abraço, contudo, parecia o único a conhecê-lo. Era seguro dizer que aquele era um rosto novo nos arredores, o bicolor pelo menos nunca havia esbarrado com o loiro pelas ruas, definitivamente se lembraria caso o tivesse visto.

Shouto balançou a cabeça, desviando a atenção e encaminhando-se para a mesa de bebidas, sem realmente saber por qual razão havia desistido de ir embora. Ele percebeu o tremor nas mãos enquanto servia uma generosa quantidade em seu copo e praguejou-se em pensamento, bebendo um pouco mais depressa para assentar os nervos, embora aquela fosse uma péssima ideia, objetivamente falando; deveria apenas ter seguido com o plano inicial e ido para casa.

— Shouto, hey! — O amigo saudou-lhe, pela segunda vez naquela noite, sempre jovial, fazendo-o saltar minimamente em surpresa, como se ter sido pego em flagrante por algo que não deveria estar fazendo. Não era assim algo muito distante da verdade, estava mesmo a um passo de mergulhar no próprio espiral de ideias obnóxias e temia que Izuku pudesse enxergar através dele. Não era loucura imaginar que talvez ele realmente possuísse uma habilidade dessas também, havia feito isso diversas vezes antes, mas sempre havia a possibilidade de que talvez ele apenas fosse muito transparente ou previsível mesmo. — Está se divertindo?

O rapaz encarou o amigo por cima do copo em meio a um gole e moveu a cabeça positivamente, abaixando a mão para poder dizer alguma coisa mais consistente para reafirmá-lo.

— É claro, Izu, a festa está ótima. — Esperava que o pequeno sorriso que oferecera não parecesse tão falso quanto sentia que era. — Fazia tempo que não falava com ninguém da cidade, há muitos conhecidos aqui. — Tentou soar animado, sem nenhuma certeza se estava obtendo algum sucesso ou não.

— Ah, isso é ótimo, Sho. — Izuku deu-lhe um tapinha no ombro.

— Ei, Deku. — Os dois viraram ao mesmo tempo na direção da voz firme. — Isso é tudo que você tem aqui?

Vermilion - bnha | tdbkOnde histórias criam vida. Descubra agora