O que posso fazer por ele

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PELOS OLHOS DE SEHER KERIMOGLU

Relembro as cenas no chão do meu quarto na mansão, e não consigo acreditar que tudo aconteceu há menos de 2 horas.

Estava tudo indo tão bem...

Até que ele voltou a nos assombrar.

Yaman desceu do carro para comprar um curativo para o meu dedo, pois o cortei ao segurar as rosas vermelhas que ele "me deu". Não entendi muito sua reação, porque ele simplesmente disse "segure" ao comprar as rosas num semáforo, mas gostei da atitude mesmo assim. Ele mudou, melhor dizendo, ele está mudando. Mas infelizmente, tivemos um contratempo inesperado e extremamente doloroso.

Enquanto ele estava numa lojinha, comprando o curativo, resolvi descer do carro com as rosas em mãos e esperar na calçada. O tempo estava bom para o passeio de barco que combinamos ontem, para melhorar minha respiração devido aos traumas causados pelo gás. Entretanto, sinto alguém por trás de mim, tampando minha boca e segurando meu braço com força. Já conhecia o toque, mas não imaginava que passaria pelo terror de novo. Ozan havia fugido do hospital, sabe Deus como, e ainda estava tentando me levar com ele e terminar seu plano suicida. Larguei as rosas no asfalto e, enquanto ele me arrastava para um carro, tentei me soltar dos braços dele, mas estava tão assustada que demorei a gritar para que ele me soltasse. Ao me colocar dentro do carro, só observei o gigante vindo em meu socorro, porém, não da maneira que esperava. Yaman jogou Ozan no chão e começou a socar ele com tanta força, que o sangue espirrava na camisa e no rosto. Eu já tinha visto aquela raiva e sabia que não tinha ido embora, mas fiquei com medo, porém meu medo maior era que ele matasse o homem e fosse preso por minha causa. Desci do carro aos berros, desesperada.

- Pare, por favor!! Eu te imploro, pare! Você me ouviu?! VOCÊ VAI MATAR ELE!! JÁ CHEGA!! – Grito, já na calçada. Não por Ozan, mas por ele. Não posso perder ele, principalmente por causa desse psicopata.

Yaman vê o medo no meu rosto e muda: veste a carranca dura e solta o homem desacordado no chão. Ele se afasta e vai em direção ao seu carro. Eu vou em sua direção, mas não me aproximo, meu peito começa a doer e me sento no chão da calçada, chorando enquanto lembro das cenas anteriores. As rosas estão no chão, na minha frente, e sobre elas estão o curativo, um pacote de lenços descartáveis e algo que mexe comigo: uma barra de chocolate com avelãs. Ao lembrar da cena, mais lágrimas caem no meu rosto.

- Estava tudo tão bom, tão perfeito. Por que isso está acontecendo com a gente de novo?! – falo em voz alta, antes de outra onda de lágrimas. Meu peito dói e me levanto com dificuldades, estava sentada no chão desde que cheguei. Ele ligou para Nedim, que chamou a polícia. Ao chegarem, Ozan acordou e foi levado na viatura. Yaman pediu a Nedim que me trouxesse, mas não falou comigo. Estava muito assustada para dar atenção a ele, porém agora me preocupo por não saber como nem onde ele está.

Uso a máscara de oxigênio para me acalmar, depois, vou ao banheiro e lavo o rosto. O Yusuf não pode saber o que passamos novamente. Me arrumo um pouco para aparentar normalidade e vou em direção ao seu quarto. Ele está brincando com Neslihan, e me pergunta sobre o passeio.

- Tia, gostou de andar de barco? Se sentiu enjoada? – pergunta Yusuf.

Me tremo com as lembranças, mas me recomponho pois preciso arranjar alguma mentira que mude de assunto.

- Não conseguimos ir, meu querido. Seu tio teve que ir à empresa para resolver outros assuntos. Nedim teve que me trazer de volta, pois ele iria demorar. Mas, teremos outras oportunidades, está bem? -respondo, já mudando o assunto. – Neslihan, você pode ir verificar se o jantar está pronto? Assim, saberemos se precisamos descer ou esperar o tio do Yusuf. – Solicito. Quero saber se ele já chegou sem ficar muito evidente a preocupação pois, até sua chegada, não quero que ninguém descubra o que aconteceu.

Neslihan desce e brinco com Yusuf, até obter a resposta. O jantar já está pronto, porém Yaman pediu para que não esperasse por ele. Decido me acalmar e esperar seu retorno, não posso ficar nervosa e ter outra falta de ar. Durante o jantar, apesar de certa interação, não é o mesmo sem sua presença. Sinto falta dos olhares de admiração dele ao ver a independência de Yusuf, do cuidado que ele tem com todos ao redor. Me alimento pouco e, após terminar, vou até o quarto com Yusuf e brincamos até sua hora de dormir.

Vou para o meu quarto e mudo de roupa, ponho algo mais quente devido ao frio e decido esperar na sacada do meu quarto Yaman voltar, não quero mais mal-entendidos entre nós. Fico impaciente e desço para o jardim, não me importando com o vento frio. Ele chega por volta das 22h, desce do carro e vou ao seu encontro. Ele trocou a camisa (graças a Deus), mas, infelizmente, a cara fechada se mantém.

- Você está bem? Estava esperando por você. Aonde foi? – pergunto, aflita esperando sua resposta. Infelizmente, não sai da forma que esperava.

- Entre, você ainda está doente e não pode ficar aqui fora. – diz ele, num tom autoritário, passando direto por mim, sem responder minhas perguntas.

Sigo ele até o andar de cima, até que ele entra no seu quarto e fecha a porta. Desisto de conversar, preciso ter paciência para conversar com ele sem brigas. Vou para o meu quarto e tento ler. Já são quase meia noite e escuto algo sendo atingido. Vou até a janela e vejo que ele está praticando arco e flecha.

Desço para tomar um copo de leite, mas acabo parando na janela da sala, que tem vista direta para onde ele pratica no jardim. Vou até lá e o observo.

- Ele está com muita raiva. Nem se recuperou do tiro no ombro e já está assim, se esforçando até cansar. O que posso fazer por ele? – me pergunto, com pesar.

Ele errou o alvo algumas vezes, até que por fim ele atira a flecha para o céu, como se quisesse atingir algo (ou alguém) que o fizesse se sentir melhor. Sofro junto pois, apesar de imaginar que sua raiva seja por causa daquele psicopata, sei que tem outra coisa, mas não consigo imaginar o quê. Com lágrimas nos olhos, vou até a cozinha e tomo o leite com calma, para que o tempo passe e ele suba até o quarto. Estou subindo a escada quando o observo vindo atrás de mim. Paro no início da escada, impedindo sua passagem.

- Podemos conversar agora? – pergunto, receosa, mas com esperança de resolvermos isso juntos, o quanto antes.

Com força, ele empurra meu braço e me prende a parede oposta do corredor. Ele tenta manter a cara com uma máscara de dureza, mas consigo ler seus olhos: estão com dor e com raiva, mas não de mim, talvez de si mesmo, penso com receio.

- Tudo bem, eu espero. Prometemos que não teríamos mais brigas, certo? Você cumpriu a promessa, agora é minha vez de fazer isso. - Digo, com calma, olhando nos olhos dele. Sua expressão suaviza e ele solta meu braço com calma. Balança a cabeça e, antes de sair diz:

- Preciso de um tempo. Apenas isso. - Responde num tom mais suave que antes, apesar de perceber certa dor ao falar isso.

- Tudo bem, eu confio em você. Esperarei por você. Boa noite – respondo, indo em direção ao meu quarto. "Vamos ficar bem. Vamos continuar o que tínhamos antes. Eu realmente confio nele e preciso dele ao meu lado. Ele é nosso gigante, meu e de Yusuf, e nada poderá mudar isso.", penso com determinação. Cansada demais, ponho meu pijama e finalmente durmo, rezando para que tudo dê certo. 

O QUE FAZER POR ELE?Onde histórias criam vida. Descubra agora