Rhysand volta para casa

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Quando atravessou, o choque ainda dominava as feições do Grão-Féerico. O mesmo choque que marcava a expressão da linda fêmea de cabelos dourados sentada no sofá na sua frente, um prato de frutas em suas mãos. Mor estava da mesma forma que se lembrava há 49 anos, linda e com os mesmos olhos bondosos. Mesmo no momento em que apenas choque e surpresa estampam sua expressão.

Rhys não percebeu que tinha caído de joelhos e que palavras saíam dos seus lábios repetidamente.

Ela é minha parceira. Minha parceira. Minha parceira.

Quase meio século sem ver a prima e grande amiga e era isso que conseguia dizer a ela.

Nem meio minuto havia se passado e de repente sentiu braços ao seu redor e lágrimas caindo em seus ombros.

━ Rhys! Rhys! ━ falava Mor, abraçando o primo com força enquanto lágrimas desciam por sua face rosada. Ou ela tinha ficado maior e mais forte com os anos ou eu que estava mais magro do que a última vez que estivemos juntos, pensa o Grão-Senhor. Provavelmente a última opção.

Rhysand ainda estava paralisado, em choque, quando retribuiu o abraço. Sentiu seu cheiro, de infância e bons tempos, sem os horrores que seus olhos haviam vivenciado nos últimos anos, décadas e séculos.

Ele mal conseguia respirar e pensar, as emoções das últimas horas tomando-o por completo.

Feyre morrera e voltara como Grã-féerica, uma poderosa ele tinha certeza, pois vira poder em seus olhos azuis- acinzentados enquanto conversavam antes dele partir.

E mais: ele estava em casa, depois de 49 anos. A cidade pela qual sacrificara tudo para proteger, para que permanecesse intocada pela maldade de um mundo dominado por Amarantha.

Tremores percorreram seu corpo ao pensar naquele nome, mas ele os abafou. Não ia desabar agora, não com os olhos marejados de felicidade da sua querida prima sobre ele. Não, outra hora. Esse fardo era só seu.

Sorriu para Mor e a abraçou mais uma vez, antes de levantarem do chão em frente ao sofá. Olhou ao redor, sua casa parecia a mesma desde a última vez que a vira. Rhys conseguia ouvir a cidade atrás da porta, os sorrisos e a vida do seu povo. Inspirou profundamente, deixando que essa alegria enchesse seus pulmões até, pensou com esperança, chegarem em seu coração assombrado.

Mor passava as mãos em seus braços, pescoço. Verificando se estava bem, inteiro.

━ Estou bem Mor ━ falou por fim, a voz ainda um pouco rouca.

━ Eu não acredito... ━ sussurrava ━ mal posso acreditar que você está aqui... ━ Mor parou de falar subitamente.

Ela olhou para o primo com maior atenção, mordendo o lábio.

Rhys soube o que ela via. Os olhos e a postura cansada dele, sua pele, outrora dourada pelo sol, estava pálida. A palidez de quem estivera anos prisioneiro de uma sociopata. Seus ombros, antes musculosos e com a postura orgulhosa de um guerreiro, agora mais magros, talvez até momentaneamente encurvados com a vergonha de estar com sua família depois de tudo que fizera. Como ele iria contar a eles tudo que passara? Não podia, ele percebeu. Isso os destruiria, assim como a ele mesmo.

A vergonha dominava seus pensamentos, ameaçando consumi-lo. Vergonha e ódio por ter sido um brinquedo, a vad... Rhys balançou a cabeça, não ia pensar nisso agora.

Ele podia ver o olhar da prima, ela queria pergunta-lhe mais, mas ele apenas desviou o rosto com rapidez.

Rhys sempre fora mestre em esconder suas emoções, mas naquele momento soube que estava falhando miseravelmente. Os acontecimentos das últimas horas, dias ou até anos cobrando seu preço. Agora em casa, finalmente poderia relaxar a máscara que usara nas última décadas, ele havia ousado sonhar esperançoso.

Rhys volta para casaOnde histórias criam vida. Descubra agora