3. Gabi

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Forcei-me a me acalmar. Qual era o meu problema? E daí que ele era dono daquele avião e de tantos outros?  E daí que ele era rico? E daí  que ele era mais lindo do que qualquer outro homem que  já conheci? Desde quando eu era tão instável, afinal?  Pra piorar, a duração do voo era de quase três horas. Eu podia lidar com qualquer coisa. Podia. Claro que podia.  Até mesmo ficar sentada ao lado daquele homem lindo e arrogante.  Não era o primeiro daquele tipo que eu tinha o desprazer de conhecer. Apesar de nenhum outro ter mexido tanto comigo. Tentei relaxar a mão que segurava a bolsa e disse, da maneira mais calma que consegui:

– Certo. Só achei que levando em conta... Quem você é... Você iria gostar de ter um pouco mais de espaço. Fisicamente, digo. Você não é exatamente... –  interrompi-me e mordi o lábio, desviando o olhar.

Na tentativa de distraí-lo, comecei  a procurar novamente pelos malditos calmantes. Depois dele precisaria ainda mais.

– Não sou exatamente o quê?

Pude sentir o tom de deboche na voz dele e irritei-me.

– Você sabe muito bem o que quero dizer... – acenei na direção dele. – Você não é exatamente do tamanho certo para a classe econômica, é?

Ele abafou uma risada, mas me recusei a olhá-lo. Em vez disso, enfiei a mão na bolsa para procurar mais os inexistentes comprimidos.  Odiava aquela sensação do sangue  fervilhar, como se estivesse conectada a uma corrente elétrica. Cruzei os braços, percebendo então que ele me encarava com um sorrisinho nos lábios.

Deus!

Quase acusatoriamente perguntei:

– Por que você está aqui, afinal? Aparentemente você poderia estar em um avião particular, em vez de estar aqui esperando, com o resto de nós.

Aquele olhar dele era certeiro, inquietante.

– É por verificação. Gosto de ver como as coisas estão indo, de tempos em tempos.

Fazia sentido.

- O que você procura tanto nessa bolsa?

Eu o encarei. De alguma forma estava chocada pela pergunta direta. Eu não conseguia parar de olhar para ele. O pequeno espaço que ocupávamos parecia ter se tornado estranhamente íntimo, como um casulo.

- Calmantes.

Ele deu um sorrisinho arrogante.

- Eu te deixo nervosa. - ele não perguntou, afirmou.

Bufei. Irritada. Mais comigo que com ele, pois estava mesmo nervosa por causa dele.

- Parece que o Sr. Jordan é bem pretencioso. - afirmei, mas tive mais raiva, pois o sorriso arrogante continuava lá.

De repente o avião começou a mover-se e eu agarrei automaticamente os braços da poltrona, olhando pela janela.

– Oh, Deus, estamos andando.

Uma voz calma veio dessa vez.

– É geralmente isso que acontece antes da decolagem.

Preconceitos (em ANDAMENTO)Onde histórias criam vida. Descubra agora