lies.

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Queimava, queimava e queimava, deixando um rastro de carne carbonizada por toda a superfície facial. A pele derretia e escorria por entre suas mãos, a substância pegajosa de tantas realidades cuidadosamente moldadas para encaixarem-se nas exigências de cada situação grudando em seus dedos com a intenção de nunca o libertarem.

Aquelas grades também nunca o deixarão ir, não importa quantas vezes o órgão bombeador de sangue acelere em desespero ─ mas permitirão a entrada de garras afiadas por suas brechas, rasgando pedaços com tanta precisão que será impossível costurá-los de volta sem causar um estrago permanente pela remenda defeituosa. De qualquer jeito, seria tarde demais, pois o veneno inoculado por elas já fluía em sua corrente sanguínea como um prenúncio do sufocar consequente de sua própria obra-prima.

As peças posicionadas com aplicação para formar a essência adulterada que cinge sua existência caíam diante de seus olhos, provocando o desmoronar do seu forte. Perdera os blocos de concreto usados para esconder a miserabilidade que o assolava, mas as mentiras criadas por sua boca eram articuladas com tanta perfeição pelas mãos de um traiçoeiro habilidoso que agora ele mesmo tornava-se o material a ser fornecido para costura; o sabor ácido de cada palavra fabricada para encobrir o medo constante secretamente inerente a si depositava um sabor ácido em sua língua, e foi a súbita ciência de que pela primeira vez não poderia contar nem mesmo com elas que fez o resto do mundo ruir junto de seu castelo de cartas.

Estava realmente sozinho agora.

Quando foi que deixou de poder confiar em suas mentiras? Ninguém se importaria caso partisse, porém tal fato seria irrelevante desde que possuísse a si mesmo, em seu total egocentrismo e ambição. Por que não parecia mais suficiente?

Claro, era sua culpa.

A sensação de fraqueza aterrorizava-o mais do que qualquer outra. No entanto, permitiu-se ceder à inevitabilidade do destino tecido pela necessidade de envolver-se em tantas farsas alternativas para substituir as partes de si que se recusava a aceitar como verdadeiras. Rente aos seus membros, linhas selam o resultado de sua criação. Era tarde demais para confessar o quanto a solidão machuca?

Tudo bem, eu não estou mais assustado. Eu não era eu e não me importo mais.

Seus lábios ressoam um sorriso à medida que suas mãos levantam para alcançar a máscara. O toque carrega cada fragmento de atos fraudulentos, alimentados por puro caos e a busca por uma outra existência. Por um momento, o único som audível foi a sua respiração ─ e então, a máscara despedaçando-se.

Deixaria seu coração adormecer lentamente, e quando acordasse, não se vestiria em nada.

❝scary mask.❞┊kokichiOnde histórias criam vida. Descubra agora