Entre Planos

Capítulo Único

— Senhor Tomas, seria possível que contasse aos meus companheiros o que aconteceu para que terminasse aqui, por favor... — Disse o líder da junta médica que estava ali para analisar o estado psicológico do paciente. — Só assim poderemos liberar você para se encontrar com Evelyn.

Tomas respirou fundo, sabia que não conseguiria sair dali, até convencer os médicos que não era maluco, apenas havia sobrevivido a algo que a maioria dos homens tem sorte de nunca ter visto, ele esteve cara a cara com o mal e sobreviveu...

"Não sei exatamente quem trouxe aqui para Terra, mais eu sei o que vi da minha janela, demônios saídos dos porões mais sombrios da alma humana, ao longe vi uma nuvem vermelha com tentáculos segurando prédios e corrompendo tudo, ela também vomitava seres profanos e a cada um que estes monstros tocavam as pessoas viravam versões daquelas coisas".

"Era Shub-Niggurath, A Cabra Negra, Mãe de mil crias, por uma invocação ou descuido de Deus, o mal havia acordado no meio da cidade do Rio de Janeiro, e eu parecia ser o único a vê-la ela, por um instante achei que havia perdido a sanidade".

"Mas foi neste momento que um pássaro com face de criança atravessou o vidro e me atacou, veja as marcas aqui em meus braços!"

"Tinha de sair de meu apartamento, eu não estava seguro lá, na verdade não estava seguro em lugar algum, apanhei uma mochila com algumas que poderia precisar, um taco de basebol e minha 9 mm com dois pentes extra, aquelas aberrações não me pegariam sem lutar, mesmo que o mundo estivesse acabando e isso não me importava honestamente, o único lugar que eu desejava estar era ao lado de Evelyn".

"Caminhei em silêncio para o elevador, não havia nenhum monstro ali, comecei a descer e de repente as portas do se abriu e um par de bestas estavam ali olhando para mim, uma delas tinha a língua cumprida a mostra em sua boca com dentes grandes e marrons e salivava um tipo de baba fedorenta, a segunda parecia um cadáver reanimado, tinha a pelo cinza os olhos cegos".

"Não hesitei, acertei um golpe na criatura mais próxima que caiu imediatamente, continuei a golpear e a segunda besta grunhiu como se fosse chamasse mais deles e eles atenderam o chamado".

"Dos apartamentos onde antes viviam meus vizinhos saíram as bestas infernais, cada com uma forma mais horripilantes que a anterior, era como estar em um livro de Lovecraft e a cada passo um novo terror aparecesse. Por sorte as portas se fecharam antes que os monstros me alcançassem, porém eu conseguia ouvi-las".

"— Que Shub-Niggurath o devore. — Grunhiu uma criatura depois da porta se fechar. — Ninguém ataca uma das Mil Crias da Cabra Negra!"

"Vocês conseguem conceber, estavam tomando nosso lugar no mundo, tentando trazer o mundo dos Grandes Antigos de volta".

Você já usou este termo "Grandes Antigos antes, do que se trata exatamente?"

— Antes eu achava que não passava de criações de Lovecraft, o autor, vocês devem saber de quem estou falando. — Tomas parou por uns instantes e olhou para cada um dos médicos na frente deles. — Mas agora que vi com meus próprios olhos, eu sei... — Ele começou a gargalhar e a chorar ao mesmo tempo. — ELES SÃO REAIS, COMO VOCÊ OU EU... OS GRANDES ANTIGOS ESTÃO VINDO!

— Compreendo pode continuar com seus relatos... — Disse o líder da junta médica.

"Quando cheguei ao saguão, eu vi uma legião de demônios avançando com suas mãos estendidas, usavam farrapos que tentava imitar os trajes que nos humanos usávamos".

"As criaturas grunhiam frases desconexas como:" Carne fresca"! Ou "Peguem sua alma!"

"Tive de sacar minha arma e comecei a disparar, não havia como vencer na base da paulada, corri para fora, os monstros caminharam na minha direção, um inclusive saiu de um carro, esse eu derrubei com um taco e fugi no veículo".

"Todos que apareciam em minha frente eram demônios, alguns pareciam vermes gigantes com bocas redondas cheias de dentes, com carne humana presa entre eles".

"Atropelei cada uma das criaturas que consegui alcançar, alguns conseguiram fugir, outros foram esmagados pelas rodas e lataria do carro, foi quando eu vi demônios pilotando máquinas de guerra".

"Disparavam de suas mãos com garras pedaços de si mesmo, na sua frente havia uma grande cobra demoníaca, em suas costas haviam espinhos e mais de uma dúzia de demônios estavam esperando por ele".

"Tudo que eu desejava doutor, era chegar a Evelyn e eu já estava quase lá, mas aquelas aberrações estavam em meu caminho, não sabia como passaria pela cobra maldita, foi quando vi um caminho que o carro não passaria todo, mas talvez acertando a ponta cabeça do animal profano, ela saísse da frente".

"Fiz como imaginei, mas nada saiu como imaginamos né"?

"O carro girou no ar me jogando para fora do carro, honestamente não sei como sobrevivi, talvez pelo fato de ter caído em um monte de areia ou deus apenas quisesse que eu sofresse".

"Shub-Niggurath estava cada vez mais perto e as abominações que vomitava eram cada vez mais horrenda, um pássaro gigante voou de costas na minha frente e de seu bico amórfico cuspiu um demônio preso por algo que lembrava uma tripa".

"Corri, como se não houvesse amanhã, pedaços de demônios disparados passavam por mim, a cada passo estava mais próximo dos murros da casa de Evelyn, um pedaço dos demônios atravessou minha perna, mas isso não me parou, finalmente cheguei a casa do meu Amor".

"Quando entrei vi Evelyn de costas corri até ela, mas quando a virei Shub-Niggurath já havia transformado minha amada em uma criatura cadavérica, com a barriga aberta colocando um feto demoníaco para dentre".

"Não havia o que fazer, esmaguei a cabeça da criatura com o taco, depois os demônios me cercaram e eu não queria maia lutar, deixei que me levassem, fui agredido e perdi a consciência e quando acordei estava aqui com vocês".

— Ok, vou pedir para levá-lo para seu quarto. — Disse Dr Guimarães o médico chefe, Tomas foi levado e deixou os médicos ali sozinhos olhando uns para os outros. — Como pudemos ver, Tomas Everaldo sofreu uma tipo de crise psicótica que os fez ver seres da literatura de horror e acabou por matar várias pessoas.

— É impressionante o que essas crises podem causar. — Disse Dr Marx. — O toxicológico acusou uma grande quantidade de álcool e drogas no organismo, esse homem é uma ameaça a si mesmo e a sociedade, meu voto é para que permaneça aqui em tratamento.

— O pior é que ele nem mesmo sabe que seis meses se passaram desde que foi encerrado aqui. — Comentou Dra. Miles. — Concordo que ele não está pronto para ser ressocializado.

— Era como se ele estivesse nessa realidade, mas sua mente não. — Disse Dra. Leme. — Como se estivesse enxergando "Entre Planos"...

— Alguém discorda desta decisão? — Perguntou Dr Guimarães, houve um consenso, assim Tomas Everaldo se tronou paciente do Hospital Judiciário do Rio de Janeiro onde espera por seu julgamento por múltiplos assassinatos.