Nico e Mary correram floresta a dentro. A noite caiu logo e eles puderam ouvir uivos à distância. O Lobisomem quis apertar o passo, mas chegou um momento em que ele estava praticamente arrastando a Fada.
— Você não pode andar mais rápido? — Perguntou Nico
— Estou cansada — Reclamou Mary
— Cansada? Nós dormimos por umas três horas
— Eu não sou muito de andar, entendeu? Preciso parar um pouco
— Não podemos parar aqui
— Não estamos longe o suficiente?
— Longe o suficiente seria só fora da floresta. Minha espécie não costuma sair
— Então por que, em vez de atravessar toda a floresta, não cortamos caminho pela vila dos humanos?
— Eu já falei o motivo
— É, você não pode ser visto, mas isso é só durante o dia. Os humanos dormem de noite, não dormem?
— Acho que dormem, mas ainda é arriscado. Tem casas de humanos por todos os lados, alguém pode acabar vendo a gente
— É só tomarmos bastante cuidado
— Ainda é arriscado
— Por que?
— Porque você tem asas e eu tenho cara de cachorro. Dá para ver a quilômetros que não somos humanos
— A alternativa é fazer uma pausa
— Não, a alternativa é essa:
Nico tomou Mary em seus braços e voltou a correr.
— N-Nico, o que está fazendo? — Perguntou Mary surpresa — Me coloca no chão
— Depois que estivermos longe — Disse Nico sem diminuir a velocidade — Segure-se firme, a estrada vai ficar perigosa
Mary olhou adiante e viu que a trilha em frente estava cheia de pedras. Ela passou os braços ao redor do pescoço do Lobisomem e fechou seus olhos.
Nico correu entre as pedras, fazendo o seu melhor para não se machucar, não machucar Mary e não diminuir o ritmo. A Fada sentia o vento agitar suas asas. Mesmo quando brincava de corrida com as outras crianças da capital, ela nunca tinha chegado àquela velocidade.
Até que Nico parou.
Mary, pensou que o trajeto acidentado tinha acabado, então relaxou um pouco.
Mas não tinha chegado ao fim...
O Lobisomem tinha parado para calcular a travessia por uma grande pedra, mas, quando retomou a corrida, não contava com a possibilidade de Mary se mexer.
Nico pulou de mal jeito e chocou sua perna contra a pedra fazendo com que Mary e ele caíssem na grama.
— N-Nico... — Murmurou Mary
— Você está bem? — Perguntou Nico
— E-Estou, mas... a sua perna...
— Esquece isso, temos que continuar
O Lobisomem voltou a pegar a Fada no colo e recomeçou a correr, embora estivesse mancando um pouco.
Quando os dois chegaram ao fim da floresta, as estrelas já estavam desaparecendo do céu, dando início ao novo dia.
— Conseguimos — Disse Nico
— Você... você correu mesmo com a perna machucada — Disse Mary
— Essa coisinha? Isso não é nada
Mas então o primeiro raio de sol da manhã, atravessando por entre as montanhas, atingiu a nuca de Nico e ele caiu no chão atordoado.
...
Quando Nico recobrou a consciência, se viu em uma caverna. A princípio ele imaginou que estivesse em sua casa e que os eventos do último dia não passaram de um sonho estranho. Sim, aquele poderia ser o raiar do dia do aniversário do reino e ele poderia observar a festividade sem se preocupar com Fadas perdidas.
Fadas como aquela que o observava atentamente.
Claro, não tinha sido um sonho...
— O que aconteceu? — Perguntou Nico
— Você desmaiou — Respondeu Mary — Eu te arrastei até essa fenda na montanha. De nada
— Hum... melhor ficarmos um tempo aqui, para descansar
— Boa ideia
Então eles ouviram um alto ronco. Aquilo veio da barriga de Nico.
— Também estou com fome — Disse Mary — Não como desde o jantar no castelo
— Isso faz muito tempo. Não é à toa que você está sem energia — Observou Nico se levantando — Não saia daqui
— Onde você vai?
— Procurar comida
Então Nico colocou seu chapéu, que Mary tinha deixado sobre uma pedra, e saiu da caverna.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Lobisomem e a Fada
FantasyDentre as histórias do reino de Hiera, as mais tenebrosas são aquelas que falam sobre Lobisomens. As feras terríveis que se escondem em cavernas durante o dia e saem para caçar à noite vivem nos pesadelos de todos os habitantes. A missão principal d...