O que nunca lhe contaram sobre o quebra-nozes

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O natal é a data mais cercada de histórias que existe.

E não me refiro às histórias de família que sempre surgem quando alguém fala de política à mesa, ou quando alguém serve o pavê e a piada infame vem logo em seguida.

Também não falo sobre o aniversariante do dia e todas as instituições que clamam conhecer seus reais intentos.

Mas o que me fascina, são as possibilidades dos contos de fadas que desabrocham apenas no dia 24 de dezembro.

Uns acreditam que podemos receber a visita de fantasmas vindos diretamente do passado ou do futuro.

Outros aguardam ansiosamente um trem que possa levá-los direto à fábrica do Papai Noel.

Já eu... sigo curiosa desviando o olhar entre a bailarina e o quebra-nozes, sabendo que em algum momento nessa noite, eles vão se reconhecer e se apaixonar.

Mas diferente de todas as outras histórias que citei, que possuem uma narrativa digna e instigante, eu acredito que a história do quebra-nozes jamais foi contada direito.

E não foi por falta de tentativa. Já fui ao teatro assistir ao balé, procurei pelo livro que deu sua origem, assisti a versão animada da Barbie e a versão live action da Disney.

E absolutamente nenhuma delas chegou aos pés do que realmente aconteceu. Você sabe, a versão contada na música de Tchaikovsky. Ela é a única que verdadeiramente narra essa belíssima história sem deixar nenhum detalhe importante de fora.

E uma história só é boa quando sabemos onde colocar os tais detalhes importantes. Então com toda minha humildade e na consciência de que não sou versada na mesma linguagem que uma orquestra maestrada, farei o possível para evidenciar aqui o que nunca foi contado sobre a história do Quebra-nozes.

Como é no início de todas as coisas, essa história começou com um ato terrível, provocado por alguém cruel. O príncipe do castelo de Marzipan foi deserdado e expulso pelo rei ao declarar seu amor por uma plebéia. Seu pai, era tão valente quanto impiedoso, mas ao descobrir a paixão do seu único herdeiro por uma mera dançarina, surpreendentemente decidiu acatar o desejo do único filho.

Através de um feitiço nefasto, ele prendeu o príncipe na forma de um mero soldado de madeira. E sentenciou sua amada a rodopiar para sempre em uma caixa de música. Eles passariam a eternidade podendo se ver, sem jamais se ouvir ou se tocar.

Para manter o encantamento, o rei precisava usar seu poder para mantê-lo em uma dimensão estrangeira e distante. A cada ano que passava, ele mais e mais se assemelhava a um grande rato, assim como todos os seus seguidores.

Assim, a lenda de que ele já havia sido um homem forte e belo, assim como o príncipe que vivia ao seu lado, pouco a pouco perderam força e caíram em descrença.

As coisas no reino Doce passaram a ser como são. Não tão ruins, e nem boas o suficiente. A medida certa para manter o povo em estagnação perpétua.

Enquanto isso, em uma casa normal daquelas que ninguém repara duas vezes quando passa na rua, existia uma família comum, que sonhava os mesmos sonhos que qualquer outra pessoa.

Exceto por Marie. A caçula falava pouco, mas sempre que abria a boca, os outros arregalavam os olhos.

"Tais coisas não são próprias para serem ditas por uma garotinha! Veja só você, com todas essas ideias novas! O que há de mal com as ideias que já existem, se elas estão funcionando perfeitamente bem?"

Marie tentava se lembrar que deveria ficar quieta, mas quando percebia, já estava respondendo os mais velhos e ouvindo repreensões pela malcriação.

O segredo do quebra-nozesOnde histórias criam vida. Descubra agora