CAPÍTULO 1: Manhã

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Mais um dia em que eu acordo com o barulho do despertador em cima da cômoda, tocando a última música que eu ouvi antes de ir embora da casa de meus pais no interior e vir morar aqui nessa cidade grande sozinha...

Talvez nunca tenha trocado a música pois gosto ainda de recordar os bons tempos que estive no campo, a melodia me traz uma vasta nostalgia de quando era uma pequena garota do interior que não se preocupava muito com as responsabilidades da vida adulta.

Desligando ele vejo Léo subindo em mim como todas as manhãs me dando bom dia, ele consegue ser única companhia que tenho nesse apartamento pequeno que estou me hospedando faz um tempo.

Encontrei Léo já faz 6 meses, quando ainda era um filhote abandonado em um caixote na rua, no frio, escuro e sozinho. Ao olhar pela primeira vez, vi que ele precisava de alguém para cuidar, não podia deixar o bixano naquela situação, então me arrisquei o trazendo escondido para casa, pois não podia ter animais no prédio.

Hoje ele já está grande e saudável, a nossa conexão é inexplicável, Concerteza é porque nós se entendemos e somos iguais em muitas partes, principalmente a parte de ter um ao outro.

Levanto junto com ele e vou a cozinha e abro a mesma janela que leva a direção para o outdoor com o anúncio de uma marca de cerveja que não muda desde quando me mudei para cá, mas felizmente não bloqueia a entrada do sol no ambiente.

Lavo o rosto na pia da cozinha, a do banheiro está quebrada já faz uma semana e mesmo que eu chame o encanador eles nunca vem visitar e dão a desculpa que não encontrou o endereço.

Talvez eu faça isso sozinha um dia, não deve ser difícil consertar canos, só preciso de algumas ferramentas para facilitar o trabalho.

Falando nisso, preciso ir trabalhar daqui umas horas. Sempre chego atrasada nas segundas-feiras, não sei como o Sr. Boll não me demitiu ainda, talvez seja porque sempre precisa de ajuda nas questões de traduzir os bilhetes que recebe de sua “namorada” na Coreia.

E ainda bem que já fui vizinhos de uma família de asiáticos, super simpáticos que me ensinaram muitas coisas até então. Uma delas foi principalmente ler em mandarim e em coreano, mas de repente sumiram do dia pro outro.

Nunca entendi qual foi a causa do desaparecimento dessa família, talvez se mudaram para algum lugar sem avisar ninguém, pois além de simpáticos eram muito sigilosos e fechados para algumas pessoas.

Dando comida pro Léo penso... como a vida pode ser tão estranha, sempre coloca pessoas no nosso caminho para ensinar algo ou nos mostrar outra visão de mundo.

Certamente isso nunca me preocupou de pessoas ir e vir, sempre estive sozinha e continuo querendo estar assim. Daqui um tempo talvez eu possa mudar de ideia, mas no momento não quero focar nisso.

Vou no espelho do banheiro e vejo o meu reflexo de todas as manhãs. O cabelo meio bagunçado e a boca seca como nunca eu tivesse tomado água. Então vou direto para o chuveiro e tomo um banho gelado e poder acordar meu corpo, em seguida me seco com uma toalha azul que minha mãe tinha me dado.

Vou no meu guarda roupa e vejo que estou sempre usando a mesma camisa para ir trabalhar toda semana, a única que tenho folgada e confortável.

–Uma mudança aqui não seria um problema– Digo olhando para a camisa que está na minha frente.

Pego a tesoura e corto as mangas dela para virar uma regata, aliás já era verão e o clima estava muito quente e abafado, isso provavelmente me ajudaria a não suar muito.

Indo até a porta despeço de Léo, que me retribui com uma piscada do seu olho esquerdo e entrando no elevador vejo mais uma vez o meu reflexo...

Eu nunca tinha percebido a minha aparência antes, sempre passou despercebido por mim. Mas olhando desse ângulo percebo como eu sou todos os dias, simplesmente igual...

–E se?– me pergunto.

Pensando em muitas coisas em quanto caminho na rua, talvez eu esteja ficando paranóica ou algo do tipo...
Ou talvez seja coisa da minha cabeça pensar nisso hoje.

Entrei na loja e caminhei para o fundo, coloquei meu avental e meu boné e depois fui ao balcão, em seguida vem o Sr. Boll com o tom de voz nervoso.

–Eu não acredito nisso!!– Grita estressado

Alex & AlexOnde histórias criam vida. Descubra agora