Também gostei dela.

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— Parabéns, Harry. Agora trate de buscar a bola no sítio da vizinha! — Aurora falava sarcasticamente, depois de um chute muito forte.

— Obrigada por me lembrar, Aurora. — Fazia uma reverência.

— Estou aqui para isso. - Devolvia a reverência. — Agora vai logo.

Bufava e colocava as mãos dentro dos bolsos e caminhava calmamente para fora do campo da residência de meu pai. O lugar é realmente grande, agora está longe, mas ainda dá para ver uma casa grande de coloração amarela, cheia de janelas e algumas varandas visíveis. Um campo afrente da casa aonde jogava com Aurora, cheia de árvores e até um pequeno riacho; uma cerca um pouco alta e de madeira dividia o terreno de meus pais com o da vizinha, uma viúva idosa que parece imortal de tanto que viveu. Vou para uma área mais afastada, aonde fica alguns arbustos e um "esconderijo" para atravessar, afastava a grama e passava sobre o buraco na cerca. O terreno da vizinha era praticamente uma cópia — quase — idêntica há nossa, o problema é que todo o lugar tem flores; rosas, tulipas, azaleias, e muitas outras flores que davam quase um ar tóxico de tantas.

A bola estava afogada num balde d'água perto de um varal repleto de roupas, o único problema era que a mulher-imortal ainda colocava mais algumas vestimentas, e balde ficava atrás dela — minha alegria é que ela tem a audição muito ruim —. Se ela me ver, nunca mais vou conseguir a bendita bola novamente! Aproximava-se lentamente do balde, sendo surpreendido por uma rosa intrometida que espetava-me com seus espinhos, me fazendo reagir em dor e susto, dando-lhe um fraco tapa. Isso foi a pior coisa que eu já fiz, antes da bola. As pétalas se soltavam, não era uma ou duas, no mínimo, cinco ou seis, ficando somente duas pétalas, igual um velho careca com apenas alguns fios de cabelo, que o salvam de chama-lo de careca.

Como um alarme de senhora-viciada-em-flores, ela virava quase que imediatamente. E recuava para trás, chegando num arbusto.

— Harry, está ai? — Falava extremamente alto. Um silêncio se instalava por alguns segundos melosos. — Ah, deixou sua bola cair aqui de novo?! Como você consegue fazer isso pela quarta vez em dois dias?! Se você aparecer antes de eu contar os cinco segundos, eu devolvo a sua bola, e não lanço uma maldição em você ter dado uma bofetada na minha rosa predileta! — A coisa que me deixava curioso era, como em tantas, milhares de flores, ela teria logo aquela flor com sua predileta? Estava acurralado, sabia que se não saísse, não teria a bola e ficaria de castigo, mas se eu saísse eu levaria 2 broncas! Porém, eu teria a bola.

Quase como se estivesse sido pego no meio de um roubo, levantava as mão e saía de trás do arbusto, ela tinha o rosto cheio de rugas, quase não dava para ver seus olhos, só por uma fresta que conseguíamos ver o marrom-velho no olhar dela, quase sem vida — eu queria saber quando ela vai estar sem vida, não tenho nada contra ela, mas ela já não está fazendo "hora extra" á alguns milênios? —, seus cabelos brancos estava presos num coque bem preso, saindo só alguns fios rebeldes, um vestido branco com girassóis lhe cobria o corpo, e sandálias pretas apertava o seu pé. 

— Me desculpe, Sra. Cooper. — Rendido, falava. — Não era a minha intenção bater na sua rosa, ela me espetou e...

— Basta, Harry. — Brava, ela me jogava a bola. — Vá para casa e nunca mais jogue essa desgraça no meu quintal novamente. Mais uma vez e ela voltara rasgada. — Sem paciência, ela me empurrava levemente.

— Boa tarde Sra. Cooper! — Gritava com uma leve ironia, e saia pelo "esconderijo-não-tão-secreto-mais"

Voltava com a bola abraçada ao meu braço esquerdo, chegando lá, via Aurora conversando com uma garota; Aurora tinha um cabelo longo, ondulado e castanho, seus olhos eram cor de mel e sua face era repleta de sardas, já a outra garota, tinha o cabelo negro juntamente com a sua pele, os olhos eram de um castanho-claro muito bonito e brilhoso. Quando chegava perto, ela me dirigia o olhar um pouco repulsiva, diferente de Aurora, que me olhava brava;

— E não é que o pequeno Príncipe chegou mesmo? 

— Um dia eu vou ser mesmo, não acha princesa-chatonilda? — Provocava, logo, olhava para a sua colega. — E ela? Vai brincar com a gente?

— Ela é a Rose Gowel, filha do amigo de nosso pai, se lembra? — Uma vaga lembrança de um homem alto, com cabelos parecidos de sua filha e olhos mais escuros que a mesma. Era bem vestido, já ouvi uma conversa falando que ele seria uma  pessoa importante para a realeza. Um rei de outra cidade, pelo oque eu acho.

— Ah, lembro sim, não tanto, mas lembro. Olá, Rose, Harry Hellings, prazer em conhece-la! — Estendia a mão, que ela apertava depois de alguns momentos, ela era estranhamente quieta, talvez uma desconfiança, timidez ou o fato de eu ser muito belo. 

Depois disso, Aurora convido-a para brincar conosco e aceitou, passamos o restante do dia brincando, mas algo me incomodava constantemente; Uma pessoa, uma silhueta pelas sombras ficava a espreita de trás da casa, observando a gente, não sei qual são suas intenções mas não parece tão agressiva. Ela parecia agir com medo, não tenho certeza. Pode ser a minha imaginação, ou pode ser alguém olhando a gente, papai deve ter colocado alguém para cuidar da gente — mesmo não explicando o fato dele estar tão longe —, ele não tem muita confiança na gente, principalmente em mim. Por vários motivos, mas como mamãe sempre fala: "Tenha piedade, James, ele é apenas uma criança de 11 anos! Não me diga que logo você venha agir tão rigoroso assim." Acho que eu me pareço muito como meu pai nesse fator, também.

Muitas vezes ao dia via minha mãe nos lançar um sorriso divertido, paramos de brincar algumas vezes, mas logo no pique-pega, quando um amigo meu, Robert Uselless chegou, o pai de Rose chamou-a para ir embora, fiquei triste, mas até um pouco feliz quando ela falou — por uma das primeiras vezes do dia —.

— Tchau Aurora, foi muito bom conhecer você, Harry Hellings! — Meu nome soava como uma brincadeira, fiquei feliz, ela gostou de mim, não é?

Também gostei dela.



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⏰ Última atualização: Jan 14, 2021 ⏰

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