13/01/2021

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Ele chegou ao centro cedo demais, feliz que só a porra, foi ao banheiro, comprou dois cafezinhos e os tomou bem rápido, se comunicou com ela e viu que ela ainda demoraria cerca de quarenta minutos, então meteu os fones no ouvido e a aguardou, cada vez mais ansioso. Ficou conversando com uma idosa simpática que parecia não ter medo de Covid-19 e nem viu o tempo passar.
Eventualmente uma garota pequena e artificialmente ruiva acenou pra ele enquanto ele, de longe, tentava identificar se era ela a tal Alice com quem ele havia marcado de ver. Descobriu então que era e pulou para abraçá-la.

- Aqui não pode. - disse ela
- Não me parece que as pessoas ao redor se importariam se eu te abraçasse.
- Rápido, o busão fica pra lá.
- Você que é a guia, só fui uma vez no Beira-Mar Shopping e faz tempo.

Ela então foi tirar informação sobre em qual fila deveriam ficar, e nisso, começou a cutucá-lo a barriga com a ponta dos dedos, supostamente para empurrá-lo em direção a sombra, evitando assim queimaduras de sol na pele dele. Ou não.

- Que vontade de mijar. - disse ela, energicamente
- Vá ao banheiro, ué.
- Já viu como é banheiro aqui no terminal? Um dia eu literalmente vi um pedaço de bosta no chão.
- Vou te mostrar algo engraçado. - disse ele, puxando o celular.

Abriu a galeria e mostrou uma foto que ele tirou das paredes do banheiro, onde mostrava escrito de caneta os dizeres "Chupo soldados do exército e dou o cu" com um número de telefone anotado. Ela riu e o olhou nos olhos, pela primeira vez.

- Anotei o número pra usar depois. - brincou ele.
- Que gay.
- Gostou?
- Muito.

O ônibus chegou, ela sentou no assento da janela e ele no do corredor, cujo se desmontou assim que ele se sentou.

- Calma, Davi, já tava quebrado, Brasil é assim mesmo.
- E você acha que eu não sei?
- Não perguntei.
- Meu Deus...
- Tô brincando. - disse ela, rindo novamente, tocando-o o braço - Carai, que foda sua pulseira.
- Ela é de paracord, tem uma bússola e uma pederneira embutidas. Eu tinha comprado pra fazer trilha, mas a quarentena não deixou.
- Kk [literalmente pronunciando as letras "K"]. Você quer ouvir uma música comigo?
- Okay.
- Escolhe entre essas ai no meu celular.

Ela desembaraçou os fios do fone de ouvido, deu o errado pra ele, trocaram e ele de olhos fechados clicou numa música.

- Avenger Sevenfold... A tradução é tipo Vingador Sete Enrolado? (To) Fold é enrolar, né?
- Eu não faço ideia.
- Gostei desse grupo, tem um som bem pesado.
- Morri, não é um grupo, é uma banda.
- E qual a diferença?
- Grupo é tipo aqueles boyband e kpoper que ficam dançando e tal, enquanto banda toca.
- Você toca algo?
- Eu sei tocar violão e baixo.
- Baixo deve foder os dedos, né?
- Aham, é um horror.
- Eu sou mais sojado, sei um pouco de teclado, mas tô cem por cento no ukulele.
- Eu não perguntei.
- De novo isso? - riu.
- É brincadeira, amigo.
- Você anda bem extrovertidinha, né?

Ela não respondeu, desviou a atenção quando viu um Sex Shop.

- Olha lá, Davi, você iria ficar muito gostosa naquele decote, uma pena que não tem buceta.
- Eu acabaria virando um travesti muito foda.
- Fala mais baixo, sua voz aparece muito.
- Você ficaria lindona naquele decote também. - disse ele, mais baixo
- Ia nada.
- Iria sim.
- Você é gado.
- Pior que fico gago às vezes quando tô passando alguma informação com pressa.

Ela riu de confusa, então desceram e caminharam até o shopping

- Eu falei "gado", não "gago".
- Mas eu não sou gado.
- Todo mundo é um pouquinho.
- Ah, mas eu estive trabalhando nisso, eu te elogiei genuinamente.
- Eu tenho um pouco de dificuldade em aceitar elogios.
- Eu notei, você me chamou de gado.

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⏰ Última atualização: Sep 29 ⏰

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