I am Lost | Sasunaru

End

▪️ Bem, não sei se vocês se atentaram as tags, mas vou reforçar. A one-shot contém gatilhos como: menções a suicídio e consumo excessivo de álcool e cigarro.

▪️ Sugiro que leia ouvindo a música acima, faz total diferença.

▪️ Não se esqueçam de favoritar e comentar, gosto de saber se gostaram. 

Sem mais delongas, boa leitura! :)

🌈

Sasuke via tudo rodando em sua volta. As luzes da balada lhe deixavam tonto e levemente cego. O seu corpo era empurrado pelas pessoas que dançavam animadas ao som de uma música eletrônica qualquer.

Ele tentava focar sua visão em algo, mas não conseguia. O copo de bebida em sua mão jazia vazio há alguns minutos, ele buscava esquecer, se desligar de seus pensamentos e da dor que o corroía diariamente nestes dozes meses após ter acordado do coma.

Tudo o que queria era um momento de paz. Perdia-se em corpos desconhecidos todas as noites, afogava seus pulmões em cigarros e bebidas baratas. Não lembrava a última vez que tinha ficado 100% sóbrio.

A risada escandalosa, os cabelos loiros brilhantes, o corpo dourado. Céus, estava tudo carimbado em sua mente. Cada batida de seu coração era uma lembrança daquele que o corroía e lhe tirava a vida.

Jogou o copo no chão da balada meia boca, irritado com as pessoas o empurrando. Seguiu trôpego em direção ao bar, bom, ele achava que era.

Quando já avistava as bebidas, sua visão embaçada captou uma cabeça loira, fazendo-o virar rapidamente com o coração retumbando no peito. Esfregou os olhos com força, focando no corpo em sua frente, a mente bêbada zombando de sua própria mediocridade. É claro que não era ele. Estava alucinando já, precisava beber mais.

Empurrou as pessoas de sua frente sem se importar, batendo a mão no balcão pedindo vodka para o garçom.

- Senhor, não acha melhor ir embora? - o garçom perguntou preocupado com o estado do outro. - Não parece muito bem, se quiser posso chamar um táxi.

- Não preciso de ninguém me dizendo o que fazer, me sirva essa merda logo - cuspiu raivoso e embolado.

Virou as doses uma atrás da outra, sem intervalos, até sentir as pernas bambas. Jogou um monte de notas em cima do balcão, julgando o suficiente para pagar o que tinha consumido naquela noite.

Saiu aos tropeços da boate, mal conseguia caminhar sem as pernas se embolarem. Ele ria sozinho para o vento, andando sem rumo pelas ruas escuras.

Via os carros passando em alta velocidade ao seu lado, pensava se morreria na hora atropelado por um, a mente bêbada calculando as chances e chegando à conclusão que no máximo ficaria no hospital alguns meses. Não era o suficiente.

Alcançou a terceira carteira de cigarros do dia e acendeu um. Se não morresse atropelado, com certeza o câncer o levaria logo. As pessoas que passavam por ele desviavam rapidamente, o olhar de pena e medo explícito em seus rostos fazia-o rir sarcástico.

O quarto cigarro já estava no final quando finalmente reconheceu onde estava. Seu coração estilhaçado parecia ainda mais ferido se possível. Pulou o muro do local com dificuldade, sabia andar por todo o terreno, a mente tendo decorado todas as entradas e saídas pelo tempo que vinha aqui.

Parando em frente do monumento negro, caiu de joelhos, o choro sôfrego ecoando por todo o cemitério vazio. Ele chorou tudo o que não chorou essa semana.

Chorou por ter se deitado com outros corpos em busca de sentir-se minimamente vivo. Chorou por ter cortado os pulsos mais uma vez e não ter conseguido morrer. Chorou por não conseguir sair dessa situação. Chorou por fazer as pessoas à sua volta sofrerem. Chorou por não ser ele ali, enterrado no chão frio e sem companhia. Chorou por não ter se despedido. Chorou por não estar quando seu amor mais precisou. Chorou por ser sua culpa.

Quando não tinha mais lágrimas, tentou se recompor. Olhou a foto do amor da sua vida e sentiu-se um lixo. A imagem desencadeou milhares de lembranças dos dois juntos.

O loiro sorrindo passando sorvete em sua bochecha. Ele corado por ter ganhado a câmera que tanto queria. As cenas deles fazendo amor, a expressão satisfeita que ele tinha, o modo como ele ficava manhoso após terminarem. Não aguentava mais.

- Amor... - começou com a voz fraca - Tudo tem sido tão difícil depois que você se foi. Eu me perdi e não consigo me achar mais. Tenho feito mal a tantas pessoas, você teria vergonha do que me tornei. Eu prometi que viveria por nós dois, mas não consegui cumprir nem por uma semana. Me desculpe por tudo, logo estaremos juntos. Eu te amo.

Um ano atrás, acordou em uma cama de hospital. Seu irmão Itachi estava dormindo em uma poltrona agarrado em suas mãos. Ele se lembrava como se fosse hoje, a feição cansada e abatida do irmão, as olheiras e choro sofrido quando lhe viu acordado.

A última lembrança que tinha era dele e o namorado voltando da viagem de comemoração dos cinco anos juntos. Se lembrava de como passaram o final de semana todo em clima de romance. De como seu namorado estava feliz.

Então, tudo se perdeu no momento em que um bêbado invadiu a contramão e lhe arrancou a vida. Naruto tinha chegado ainda com vida ao hospital, mas morreu horas depois devido à gravidade dos ferimentos.

Itachi tinha sido o primeiro a chegar no local, por isso foi o único a se despedir do loiro. Seu namorado tão amoroso e feliz que sempre colocava todos em primeiro lugar ainda teve forças para sussurrar as últimas palavras ao irmão.

"Diga que o amo."

Naquela cama de hospital os médicos e sua família presenciaram um milagre. Ninguém acreditava que ele iria sair do estado vegetativo, os aparelhos só estavam ligados porque seu irmão se recusava a deixá-los desligar.

Por um tempo, após saber de tudo, culpou seu irmão. Gritou e chorou em seu colo, culpando-o por não ter o deixado ir embora com o namorado. O ciclo vicioso de auto destruição começou em seguida.

Mas isso acabaria, ninguém iria sofrer por ele mais. Levantou do gramado úmido, olhou uma última vez a lápide e depois a camisa laranja com estampa de raposa que vestia, a preferida do namorado e saiu do cemitério. Hoje ele daria um fim a essa vida sem sentido e se encontraria com seu amor.

05 de fevereiro de 2016:

"É com grande pesar que informamos o falecimento do herdeiro Namikaze, Uzumaki Naruto. Não temos muitos detalhes sobre o que houve, mas ao que tudo indica foi um acidente de carro. Seu namorado, Uchiha Sasuke, filho mais novo do magnata Uchiha Fugaku, se encontra em coma no Hospital particular de Tokyo. Desejamos nossas sinceras condolências a ambas famílias."