Capítulo Três

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Em um julgamento o juiz não analisa apenas o réu, mas também a vítima. A vida é composta por ciclos e um ato criminal também é visto como um deles, pois toda ação é feita e gera um resultado, como uma faca de dois gumes. A tendência é que a vítima ao atentado um dia vire o condenado pelo mesmo crime, logo aqueles que sofreram traumas quando crianças se tornam culpados pelas próprias tragédias quando um dia retornarem ao tribunal. O sistema pelo contrário sai imune por nunca considerar trabalhar na raíz dos casos e por isso os crimes voltam a acontecer repetidamente.

No dia seguinte enquanto estava no trabalho e analisando o motor de um carro até achar o problema, Taehyung refletia sem parar na oferta do pai de seu amigo. De fato ele confiava no senhor Jeon, ele sabia que era raro o pai de seu amigo perder algum caso e se ele se ofereceu para defender Kim Taehyung perante o juiz, é porque ele vê uma saída.

O problema era que Tae teria que compartilhar com ele tudo o que já havia feito e ele temia uma coisa: sair livre, mas perder Jungkook quando o seu pai saber do que seu melhor amigo é capaz. Apesar de temer muito aquilo, Taehyung sabia que Kook um dia descobriria e ele só estaria adiando as coisas.

Naquela tarde, na casa da família Jeon, Taehyung pediu um tempo para pensar sobre o assunto, pois todos os trabalhos sujos que ele fez para o seu pai tinha se passado em sua mente e nem mesmo ele acreditava que merecia ficar livre. O senhor Jeon avisou que ainda naquela semana os federais iriam entrar em contato com ele, depois desse aviso Taehyung se afundou em uma angústia obscura que tomou a sua paz durante toda a noite.

- Eles têm provas. - Avisou ao advogado à sua frente. - Fotos.

- Como sabe? - Senhor Jeon perguntou franzindo a testa.

- Meu tio me enviou um envelope com fotos. - Explicou.

- Eles devem ter um informante por perto. - Falou refletindo. - Desconfia de alguém?

- Não. - Senhor Jeon suspirou e o encarou apoiando os braços na mesa. - Prometo vencer a sua causa se não me esconder nada, Taehyung. Não deixarei você afundar por causa de seu pai.

- Pois deveria. - Respondeu sincero. - Fiz coisas horríveis. Não pode ter sido em meu nome, mas eu fiz com as minhas próprias mãos. - Confessou.

Taehyung relembrava a conversa do dia anterior enquanto limpava as mãos sujas de graxa e por um reflexo lembrou da primeira vez que as tinha sujado de sangue. Um assassino. Um aprendiz de seu pai era o que ele acreditava ser. Não tinha fé em si próprio e previa que o seu destino um dia seria a prisão, se não fosse pelas coisas que cometeu e culpou o próprio pai seria algo que um dia faria por conta própria.

- É falha na injeção eletrônica. - Falou para o gerente da oficina ao terminar a análise do carro. - Acredito que foi por causa de combustível adulterado. - Explicou.

- Usou o scanner automotivo? - Perguntou enquanto olhava para uma planilha no monitor do computador.

- Sim. Acho que vai ser necessário a troca da central de injeção, o motor acabou por perder muita potência e está consumindo muito.

- Okay. Vou fazer um orçamento para ele. É o carro de número trinta e dois, certo? - Confirmou.

- Sim, senhor.

- Certo, pode voltar ao trabalho. - O dispensou.

Taehyung voltou ao seu canto de origem esperando um outro cliente aparecer, enquanto isso ele admirava o carro que estava na garagem. Um TR4, um carro provavelmente de um médico. Se o seu chefe fosse esperto o bastante cobraria mais caro, já que era alguém com bastante dinheiro. Era bem previsível os doutores comprarem um daquele, mas Tae admitia que o veículo além de bonito, era potente e eficiente. Já havia dirigido um para o seu pai. Riu com ironia. Um ótimo carro para quem salva e mata vidas, pensou.

Blood Color | Kim TaehyungOnde histórias criam vida. Descubra agora