Capítulo 06

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Levantei da cama vagarosamente para não acordar Lucy e fui para o banheiro. Lavei o rosto e desci para preparar o café. Cansada da mesma rotina dessa vez resolvi não implicar com ela logo de manhã, e deixei o açucareiro bem ao lado do café dela. Fui à pararia e comprei algumas coisas e voltei para casa.

Subi para acordá-la, mas quando abri a porta ela já estava sentada na cama.

- Onde estava?

- Preparando o café – respondi. – Vamos. Adoça o café antes de beber pra depois não ficar reclamando – avisei. Ela sorriu e me seguiu.

Assim que terminamos de nos arrumar, escutei uma buzina na frente de casa. Suspirei. Desde que Lucy veio pra cá e eu e Seth nos entendemos, ele faz questão de nos levar e trazer pra escola. Todos os dias eu falo que não precisa e, mesmo assim, ele continua vindo.

Às vezes eu consigo convencê-lo e ele não vem de manhã, mas na hora de voltar não tem discussão, e eu já desisti. Até a Lucy desistiu de fazer birra. Quando termina as atividades do clube e a gente sai do vestiário, ela segue direto pro estacionamento e espera ao lado do carro dele.

- Ei, Seth, tá a fim de ir lá pra casa hoje? – me virei pra olhar pra Lucy, que sorria maliciosamente.

Seth me olhou de canto de olho e depois olhou para Lucy pelo espelho.

Desde aquele dia na quadra, Seth tem ido lá em casa com mais frequência, e também tem se mostrado muito interessado em entender sobre as coisas do universo LGBT, e inclusive está mais aberto e vendo as coisas com outros olhos.

Já Lucy continua a mesma sem noção de sempre. Talvez agora esteja pior. Às vezes ela surge com umas ideias tão loucas que eu não consigo sequer ter reação; ou ela simplesmente convida ele lá pra casa.

Dei de ombros.

– Pode ir se quiser – falei. Preciso começar a dar castigos nela, pra ver se ela para de ser bisonha assim...

Entramos em casa e Lucy ficou na cozinha, dizendo que ia fazer chá pra gente. Estranhei, já que ela não é muito fã da bebida, mas preferi não falar nada.

Sentamos na sala e conversamos, até ela voltar e sugerir que jogássemos Eu Nunca.

- Nem pensar – falei, me negando completamente.

- O quê? Por quê? – fez biquinho.

- Porque não. Tá maluca? Aliás, de onde você tirou essa ideia?

- Tá com medo, Sam? – provocou.

- De você e das suas ideias? Com toda a certeza! – ela soltou uma risada e se virou para Seth, tentando encontrar um aliado. – Qual o sentido disso? E eu não sei se você se lembra, mas eu não posso beber...

- Sei lá. Eu tô com tédio... E eu sei disso. Por isso pensei em uma alternativa...

Olhei para Seth, praticamente pedindo socorro. Se ele concordar, eu não vou ter muita alternativa, já que a Lucy vai me infernizar.

- Que alternativa seria essa? – ele perguntou, depois de um tempo calado, me observando.

Desabei no sofá, derrotada. Seus traidores!

- A gente pode ir tirando uma peça de rouba conforme o jogo for rolando – ela sorriu, zombeteira.

Ri alto.

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