"não entre" esta escrito na porta de entrada.

533 89 34
                                    

Quando o sinal, indicando que a última aula de física do dia havia acabado, finalmente tocou, me senti em completa paz e alívio.

Pude jurar que iria entrar em colapso caso a professora proferisse mais uma palavra relacionada a qualquer que seja o assunto que estava sendo dado, porque sinceramente, eu não entendi coisa alguma.

Os meus pensamentos cismavam de voar de cá pra lá, um mais sem sentido que o outro.

Fiquei tão aéreo a tudo, que em meio a conversa que estava tendo com quem quer que seja a pessoa que fala comigo através do meu subconsciente, sequer percebi que a professora estava a chamar, em prol de estragarmos nossas últimas atividades.

E como bem sabia que era a última coisa do dia a se fazer, já que, quando olhei fixamente o relógio ao mesmo que pegava minha apostila, o horário que marcava era de meio dia e cinquenta e cinco minutos, e assim, comemorei internamente. "Só mais cinco minutos", era o que repetia na minha cabeça.

Cansado de tanto me forçar a entender o que estava escrito no quadro, pendurei minha mochila em um dos ombros e sai da sala, me despedindo da professora.

O caminho até a saída da escola fora curto. Sem companhia, apenas observava os rostos banhados de completa euforia dos alunos, provavelmente conversando sobre algo realmente interessante.

Eu queria um pouco disso.

Eu queria poder sentir essa euforia toda após dois tempos de física, mas não tenho com quem dividir isso. Então, apenas aprecio e tento fazer com que a euforia deles seja a minha, também. Deve dar quase no mesmo.

Logo no lado de fora, observo o time de vôlei.

Costumava jogar no ensino fundamental, mas agora, no ensino médio, isso não parece me interessar tanto. Acredito que o vôlei não passaria de mais um passatempo pra mim, e eu o usaria mais como atividade extracurricular. Mas sinceramente, almejo me inscrever pro time. Ainda parece legal.

Como o barulho e as vozes locais incomodavam meus ouvidos, tirei os fones do bolso, pluguei no celular, e assim, coloquei uma playlist qualquer.

Com minha bicicleta já em mãos, subi na mesma, e enfim, segui meu caminho.

Não havia pressa para chegar em casa, não tem ninguém lá mesmo. O dia estava agradável, então ao invés de fazer meu caminho de sempre, decidi apenas pedalar pela cidade.

Aqui não tem muita coisa como em Tokyo. Me lembro de ir lá algumas vezes com minha mãe, e tudo parecia dez vezes maior.

Talvez um dia eu vá morar em Tokyo. Eu espero que sim.

Ao mesmo que o sol guiava meu caminho, eu me perdia mais e mais nessa cidade qualquer do Japão. Me perdi a ponto de me encontrar em um lugar tão perto, mas também, tão distante de mim.

Era o final de uma rua que dava direto a uma pequena trilha.

Eu me lembro bem.

Me lembro de saber muito bem o caminho até o final, mas hoje, são apenas lembranças embaçadas.

Parado em frente a trilha, desci da bicicleta.

O local só era iluminado pelos pequenos raios de sol que passavam por entre as folhas das grandes árvores.

Hoje nem tão grandes, já que antes, eu costumava ver o mundo mais de baixo.

Tudo parecia a mesma coisa, e o sentimento de nostalgia flutuava pelo ar.

Eu conseguia sentir, depois de anos, que ainda sabia o caminho de casa.

Deixando minha bicicleta de lado e a prendendo em uma pequena árvore, passei a vagar pela trilha, passando os dedos pelos galhos e folhas que me rodeavam.

treehouse | tsukkiyamaOnde histórias criam vida. Descubra agora