Doce Desejo

Capítulo 1: Companhia Inesquecível

Ana fitava a paisagem arenosa que o ônibus achatado percorria em uma nuvem de poeira.Definitivamente esse era o pior aniversário da história. Com seu cotovelo apoiado na vidraça a garota recostava sua bochecha na palma da mão, seus olhos refletiram e foi impossível não lembra-se daquelas palavras "você precisa de disciplina", "quando foi que mudou tanto assim", "apenas vá!"...—Eu sempre te ouve, mãe...—um sussurro escapou despercebido de seus lábios e a garota encolheu-se na cadeira.

—Mãe?

Ana sentiu seu coração sair pela boca, seu corpo tremeu e a garota saltou, suas mãos agarraram-se firmemente às costas da cadeira a sua frente. Uma pessoa estranha havia escutado! Seu rosto corou, um suave blush preencheu suas bochechas. Não, definitivamente não havia condições de encarar a dona dessa voz...dona? Ana franziu as sobrancelhas, seus lábios fizeram beicinho e sua mente recordou...—é mesmo, esse reformatório é feminino—Sua mente tornou-se inquieta, procurando uma ou outra coisa para distrair-se.

—Olá!! Eu ainda estou aqui, poderia ao menos olhar para mim? Ops, eu te assustei?

Ana engoliu sua timidez, selo-lá com a fome que sentia, reprimiu ambas e respirou fundo. De forma calmamente levantou sua mão descontroladamente tremula—Não...isso..não..foi..nada—acada palavra parecia uma tortura e a garota decidiu apenas afundar sua cara nas costas da cadeira.

—Hmm, você acha que vai demorar muito para chegar?

A dona daquela voz parecia descontraída e relaxada enquanto desviava a atenção para os lados, com certeza não sentirá nem 1/3 do desespero que a pequena havia passado. Ana podia sentir sua inveja fitando-a com desprezo, talvez ela merecesse uma boa lição....ou algo assim. A garota suspirou e virou o rosto para a janela. Areia, muito calor e pedras...—Ao Egito não...

Um arco formou-se nos lábios da garota, sua risada não pode ser contida, era escandalosa de mais para Ana que instintivamente correu seus olhos para trás por conta do susto. Cabelos lisos e ondulados na ponta em um Long Bob Chanel castanho, olhos reprimidos por cílios longos e bem tratados, seus lábios eram rosados de um creme tentador. Ana havia ficado surpresa, a garota era simplesmente...linda. Seus olhos desceram para encontrar um look leve: um short moderado e uma blusa que passava suas alças pelos ombros.

Depois do surto, que parecia não incomodar a ninguém? Ana sentiu-se estranha, talvez ela estivesse por fora do mundo por muito tempo, a garota enxugou suas lágrimas e uma ideia correu em sua mente. Seus olhos desviaram para o assento ao lado de Ana, vazio. Agarrou a sua mochila, pois seus pés entre as barras de suspensão e pulou o seu acento para o da garota. No mesmo momento em que a garota havia caído o deformado ônibus chocou-se com um buraco na arenosa pista, Ana deixou soltar um gritinho, seu corpo perdeu o equilíbrio e a pequena fechou os olhos com medo.

Uma sensação quente? Algo macio fluía em seu rosto, toda a metade de seu corpo superior sentia esse sentimento, algo macio e quente pressionava todo seu corpo. Esse cheiro, uma mistura de fragrâncias doces com o cheiro da cidade, dos cassinos, dos hotéis, dos bares...um aroma tentador e embriagante, essa mescla fazia a cabeça de Ana adormecer e desejar apenas estar ali onde quer que seja. Algo pressionava suas curvas, quase como se soubesse onde era seus pontos fracos. Ana tinha medo agora de abrir os olhos e tudo isso passar, mas era óbvio que a pequena não havia caído. Sua mente entrou em conflito e uma respiração aproximou-se. 

Instintivamente Ana abriu seus olhos de forma como um relâmpago para encontrar uma garota a segurando em seus braços. Seu rosto estava perto demais! Ana corou, isso era demais para o seu eu atual. Seus braços se moveram enquanto esperneava para sair do colo da garota, mas isso a fez deslizar, fazendo assim a garota segurar mais forte para que não caísse.