Capítulo 1

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Havíamos marcado às 19h, na porta do meu estúdio.

As ruas da cidade se esvaziavam rapidamente, as pessoas se apressando de volta à segurança de suas casas em busca de algum descanso após mais um dia de serviço. As luzes nas imediações do Centro da cidade possuíam uma elegância distinta, sobretudo àquela hora que sucede o crepúsculo. Longas nuvens rajavam um céu cravejado de estrelas, e a lua brilhava com altivez. "Uma pena eu não poder apreciar uma noite dessas," pensei equivocadamente, sem saber o que as próximas horas iriam me reservar.

Ela chegou em um sedã de cor negra, provavelmente um desses veículos de aplicativo. Desceu pela porta traseira, e caminhou na minha direção com um sorriso simpático:

— Me desculpa o atraso!

Inclinei-me para lhe desferir um beijo na bochecha e respondi cordialmente:

— Imagina. Cinco minutos. Tô acostumado a clientes que se atrasam uma hora. Além disso, você é a última cliente do dia, então ninguém vai ficar te olhando com cara feia na recepção por você ter atrasado a sessão de outra pessoa. — Rimos juntos, e adentramos o estúdio.

Ela era uma mulher atraente, tão graciosa quanto a noite lá fora. Vestia uma camisa vermelha com babado no colo, enfiada por dentro de uma saia executiva de cor preta, que torneava suas pernas até a altura dos joelhos. As sandálias eram delicadas, em tom claro, e seus saltos altos emprestavam a ela uma estatura impressionante. A tiracolo, carregava um blazer e sua bolsa.

— Pode colocar suas coisas aqui — falei depois que atravessamos a recepção. — Você aceita uma água ou um cafezinho?

— Não, obrigada.

— Fique à vontade — retorqui, tentando não transparecer a atração que qualquer homem sentiria naturalmente por uma mulher tão bela. — Vamos fazer na lateral da panturrilha mesmo?

— Sim, bem aqui. — Quando ela colocou o dedo para indicar, hesitei, pensando em como aquela saia poderia causar constrangimentos.

— Ótimo. Então nós vamos fazer o seguinte... Eu vou depilar a região com o navalhete, depois vou colar o dacalque, que eu já deixei pronto bem ali. E enquanto ele seca, vou montar a bancada, e daí a gente começa, tudo bem?

— Perfeito — ela sorriu. — Mas por que não deixou seu equipamento preparado de antemão?

— Bem, eu prefiro que o cliente veja todo o processo de preparo, para ver que é tudo asséptico ou descartável.

— Entendo — ela disse. — Mas acho que não precisa usar o navalhete. Eu me depilei antes de vir.

Engoli seco, tentando não imaginar as outras partes de seu corpo que também estariam depiladas, e confiei em sua palavra.

Então realizamos os procedimentos, e conversamos para descontrair. Ela falou sobre como minha maca era ergonômica, e porque escolhera cursar Fisioterapia, e eu compartilhei os detalhes sobre o processo de criação da arte. Apesar de nossos olhares parecerem se demorarem uma batida de coração a mais um no outro, nada parecia diferente do que se espera da relação entre profissional e cliente até aquele momento.

E foi depois de tudo finalizado, quando estávamos prestes a começar, de fato, a tatuagem, que notei o primeiro indício que a atração realmente era recíproca...

Ela já estava deitada lateralmente na maca, de forma que pudesse flexionar uma das pernas um pouco para expor o interior da panturrilha. A forma com que erguia a barra da saia até um pouco acima do joelho para ganhar mobilidade era provocante, e da posição onde eu estava sentado, precisava olhar por sobre o quadril dela para fitá-la nos olhos.

Não sei dizer se ela notou quando olhei para aquele bumbum deliciosamente delineado através da saia antes de tentar tranquilizá-la:

— Bom que escolheu uma região do corpo que praticamente não dói.

Porém não havia o que tranquilizá-la. Ela ergueu ligeiramente uma sobrancelha e me respondeu:

— Ah, mas algumas dorzinhas são gostosas de sentir.

— Sim — gaguejei desconcertado, e mais uma vez meus olhos relancearam inadvertidamente a sua bunda.

— Você gostou dela? — A pergunta me atingiu como um tapa. E ela me encarava, esperando a resposta. — Digo, às vezes pode pensar que é uma tatuagem meio clichê, sabe?

— Ah... — suspirei. — Sim. A tatuagem. Eu gostei dela, sim.

Meu sorriso transparecia o nervosismo que eu sentia, o dela era resoluto.

Conto Erótico: Sessão AlternativaOnde histórias criam vida. Descubra agora