Nem uma nuvem ocupava o céu naquela noite. O céu estava escuro, pois era por volta de vinte e duas horas. As estrelas cintilavam bastante e mesmo contrariando os meteorologistas que previram sol escaldante para os próximos dias, alguns longevos insistiam em dizer que era presságio de temporal.
Theodoro dirigiu até o posto de combustível próximo à casa de Amanda para preencher o restante do tanque do carro. Embora já houvesse o feito mais cedo, queria garantir que quando alcançassem a rodovia estivesse em sua capacidade máxima.
"Estou chegando". – Theo digitou a mensagem e enviou ao celular de Amanda.
Assim que recebeu o aviso, levantou-se do sofá. Estava há horas em frente à televisão, trocava os canais de maneira frenética em busca de algum programa que fosse capaz de prender sua atenção e distraí-la de sua ansiedade pela viagem.
O pai de Amanda ajudou-a com a bagagem e abriu o portão, espiando a vizinhança para ter certeza de que não havia nenhum perigo àquela hora na rua. Não demorou até que avistassem o carro de Theo contornar a esquina.
Assim que partiram, Amanda olhou para os pais com certa melancolia, pois, embora estivesse muito animada com a viagem, despedidas são sempre depressivas. Os pais sorriram e tentaram demonstrar que estavam tão animados quanto o casal, mas na verdade, preferiam que eles não fossem. A filha nunca tinha viajado sem a companhia dos pais e o casal viajaria para um lugar distante dali. Então, para que aquele momento acabasse logo, se abraçaram e disseram seus breves adeuses, pois logo estariam juntos novamente.
Theo pôs o carro em movimento e Amanda observou os pais pelo retrovisor até que a imagem deles desaparecesse de seu campo de visão. Os dois abanaram as mãos e sopraram beijos ao vento até que o carro de Theo contornasse novamente a esquina.
— Ora, ora, ora, minha bonequinha está chorando? – Theo zombou fitando-a a rir. Ele viu seus olhos marejados e Amanda instintivamente ergueu a cabeça, espantando o pranto.
— Você é muito insensível, sabia Theodoro? –Amanda disse também em tom de brincadeira secando os cantos dos olhos e mirando a rua à frente.
Theo se dirigia rumo à casa de sua irmã, Roberta. Assim como eles, ela também estava de férias do trabalho e aceitou o convite do casal para viajarem juntos. O histórico entre os irmãos não era definitivamente agradável, visto que ambos pareciam não se suportar durante a maior parte de suas vidas.
— Não consigo entender como meus pais permitiram que eu viajasse com você e sua irmã. –Amanda disse enquanto descobria a fôrma de torta que sua mãe fizera e apanhara uma fatia.
Theo teve um argumento muito plausível quando pediu aos pais de Amanda que a deixassem viajar, mas o argumento não foi revelado à jovem e ele tampouco desejava trazê-lo à tona naquele momento.
— Eu tenho meus truques. – Theo piscou se gabando.
Ao parar o carro na vaga reservada para carga e descarga do prédio onde morava Roberta, as portas da recepção se abriram e ela apareceu acompanhada de outra mulher. Elas carregavam mochilas nas costas e guloseimas e refrigerantes nas mãos. Amanda sorriu acenando para elas e demonstrando receptividade.
— Até que enfim! Pensei que iam me deixar para trás. –Roberta gracejou sentando-se no banco atrás de Theo, cumprimentando-os com beijos no rosto.
A tensão podia ser sentida no ar. E não era pelas desavenças entre os irmãos, mas sim pela presença de uma completa estranha na viagem que planejaram para três. A estranha não parecia se incomodar, estava até confortável demais, regulando o encosto de cabeça no banco atrás de Amanda.
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A casa na praia
HorrorUm grupo de amigos resolve aproveitar o final de semana de férias em uma praia completamente deserta. No caminho, tudo parece alertá-los de que não foi uma boa ideia. O aluguel baixíssimo por uma mansão de luxo esconde uma surpresa. E a surpresa vem...