Prólogo

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Londres
Inverno, 1841

ETTIE TREWLOVE ESTAVA ACOSTUMADA ao barulho de bebês chorando. Afinal, ela teve quatro, mas aquele choro devastador vinha do outro lado da porta fina de madeira. À espera da batida brusca que a chamaria, ela olhou para seus queridos meninos, alinhados na pequena cama, adormecidos, e se perguntou como iria se virar se pegasse outro bebê. As poucas moedas que deixavam em sua mão não seriam suficientes para alimentar e vestir o mais novo por muito tempo. Nunca eram. — Não mais — sussurrou ela. — Não mais.
Ela tinha que ser forte e recusar o bebê, independentemente de isso partir seu coração ou de condenar o pequeno a um destino pior.
A batida na porta nunca veio, mas o choro continuou a ressoar em seus ouvidos. Ettie se aproximou devagar da porta — o vento gélido assobiava e adentrava pelas bordas —, destrancou-a e abriu-a. Olhou para fora. Flocos de neve grandes e gordos caíam do céu, cobrindo tudo com um branco puro que logo se tornaria preto, inclusive a cesta de vime aos seus pés e o bebê de rosto rosado dentro dela, que agitava em vão os braços nus contra o frio, a injustiça e a dureza da vida.
Ela deu um passo e olhou para os dois lados da rua sombria. Não havia um único poste de luz para ajudá-la em sua busca, apenas a iluminação fraca que vinha de algumas janelas. Nenhuma alma à vista, ninguém se esgueirando. Quem quer que tivesse deixado o bebê em sua porta havia se retirado logo, o que era normal, considerando que o sentimento de humilhação quase nunca permitia que uma pessoa ficasse muito tempo em sua presença.
— Nem para deixar uns centavos... — resmungou, ao se abaixar para levantar a cesta. Levou-a com o precioso conteúdo para dentro do abrigo protetor que chamava de casa.
Colocou a cesta sobre a mesa e estudou o pequeno, que continuava a berrar em protesto.
O cobertor era muito fino para lhe dar algum tipo de proteção. Ao movê-lo para o lado, descobriu que era uma menina. A criança não usava roupa nem fralda. Pelo que parecia, devia ter nascido há poucas horas. A vida nos becos não era gentil nem segura para uma menina.

Enquanto embalava o bebê como se fosse uma porcelana delicada, Ettie Trewlove sentou-se na cadeira de balanço de frente para a lareira, onde escassos pedaços de carvão liberavam calor suficiente para aquecer o quarto. Quando se tornou viúva há pouco mais de três anos, precisou de uma tarefa para se sustentar. Uma mulher que conhecia falou muito bem do lucrativo trabalho de cuidar de bastardos vindos de famílias ricas. Orfanatos não aceitavam bebês concebidos em pecado, nascidos da vergonha. Nem abrigos de trabalhadores. O que fazer com um bebê cuja própria existência é um sinal de desgraça?
Mas ela não conseguia mais deixar os inocentes de lado como outros faziam, razão pela qual tinha quatro meninos dependentes dela. E, agora, essa menina.
Podia não ter muito conforto para oferecer à criança, mas tinha amor. Rezou para que fosse o suficiente.

Amor de um Duque - Lorraine Heath Onde histórias criam vida. Descubra agora