O Natal não está à venda.

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Dia 20/12.
Estou atendendo um casal de jovens que acaba de casar e vai passar o primeiro Natal na casa nova, e meu Deus! Eu nunca vi gente tão chata na minha vida, nada tava bom o suficiente pra eles.
Sinceramente, as vezes tenho vontade de voar no pescoço de alguém, como existem pessoas chatas no mundo, e eu não tenho a menor paciência. Só hoje já tive vontade de mandar algum cliente ir pastar umas mil vezes.
Na parte da tarde minha mãe me chama.
- Filha, vou precisar que você atenda aquela família que mencionei hoje de manhã, porque vou ter que resolver alguns probleminhas no estoque. - explica.
- Tudo bem! - respondo.
- Seja gentil! Eu sei que você já está estressada o suficiente hoje, mas essa é uma compra grande, precisamos ser o mais gentil e atenciosos possível. - ela diz.
- Tudo bem! 100% gentil e atenciosa. - coloco um largo sorriso falso no rosto e volto pra entrada da loja pra esperar a família chegar.
- Olá, querida! Você poderia me dizer onde está a dona da loja? Viemos escolher nossas decorações. - uma senhora de cabelos grisalhos se aproxima.
- Olá! A senhora deve ser a Sra. James. - sorrio. - eu sou Amélia Rose, infelizmente minha mãe teve uns probleminhas no estoque, mas eu vou ajudar vocês com todo prazer. - falo o mais gentil possível.
- Ah! Que bom então. - ela sorri e eu os acompanho até onde minha mãe havia colocado as opções de coisas que eles haviam reservado para que eles escolham.
A senhora estava acompanhada de um casal mais jovem, que provavelmente um dos dois é filho dela. Uma mulher bonita e elegante de cabelos escuros e olhos verdes, e um homem também de cabelos escuros mais com algumas mechas grisalhas, acompanhava eles também um garoto que aparenta ter a minha idade, de cabelos escuros e olhos verdes, e uma garotinha de uns 15 anos de cabelos escuros e olhos escuros.
- Bom, aqui tem tudo o que vocês pediram e mais algumas coisas, temos as decorações mais bonitas e diversas da cidade, pra vocês escolherem e fazer o Natal de vocês o melhor. - falo mostrando as decorações a eles.
- Quanta coisa bonita! - A senhora que me abordou na porta fala.
- É verdade, mamãe! - A mulher de cabelos escuros concorda.
- Olha Jasper, que legal esses pisca-piscas. - garota chama a atenção do menino.
- Legal, Olívia! - ele se aproxima dela.
- Esses piscas são o que há de mais moderno, eles são acompanhados de um controle que você pode regular a intensidade da luz, escolher entre as 8 opções de cores,  e se quer apenas iluminar ou deixar piscando, é uma maravilha! - explico mostrando as instruções na caixa.
- Uau! Que incrível! - diz a menina que agora sei que se chama Olívia.
- Ah! Oi! Amélia, não é? - A mulher chama a minha atenção.
- Sim! - me aproximo.
- O que você acha sobre essas bolas de natal? Eu e meu marido estamos em uma discussão pra decidir qual melhor. - fala.
- Bom, aqui vocês têm duas ótimas opções, as vermelhas clássicas que não pode faltar, e uma mistura de dourado e prateado. Eu acho que a minha sugestão é: pra que escolher uma se você pode escolher as duas? Eu acredito que o Natal é sobre alegria, cor, e tudo aquilo que trás coisas boas. Essa combinação de cores do vermelho brilhante, o dourado e o prata vai ficar perfeito. - uso toda a minha ginga de vendedora nata pra convencê -los a levar todas as bolas. Não é atoa que fui eleita a funcionária do mês três vezes consecutivas.
- Acho que você tem razão, levaremos todas, inclusive essas outras aqui. - ela diz.
- Maravilha! - sorrio.
- Minha filha, você acha que essas meias vão ficar bem na lareira? - A senhora se dirige a filha.
- Não sei, mamãe. O que você acha Amélia? - Me pergunta.
- Essas são muito boas, mas acho que seria mais apropriado a senhora levar essas aqui que são maiores, e dão um destaque maior. - mostro as do tamanho maior a ela.
- Você tem razão, querida! Obrigada! Vou querer cinco, uma pra mim, outra pra minha filha, pro meu genro, e pros meus netinhos. - ela fala.
- Pode deixar! - sorrio.
- Hey! Você pode me dizer se tem desses sinos pra colocar na árvore? - Jasper me chama com um sino de natal grande para colocar em portas e entradas.
- Sim! Essa caixa aqui são só sinos pequenos pra colocar em árvore. - mostro a ele os sinos.
- Obrigado! - agradece sorrindo.
Depois de um longo tempo eles escolherem tudo o que querem, que foi muita coisa por sinal, algumas coisas vão ter que ser entregues na casa deles.
Me despeço enquanto eles saem.
- Tchau, Lucy! - me despeço da senhora que insistiu que não lhe chamasse de senhora. - Tchau Ella, Thomas! - falo ao casal. - Tchauzinho, Olívia! - sorrio pra garota.
- Tchau, Amélia! Você foi muito gentil. - diz Jasper.
- Obrigada! Tchauzinho! - sorrio.
Eles vão embora e respiro aliviada, não que eles fossem chatos e exigentes muito pelo contrário, são muito legais, mas eu já estava cansada de ser legal.
O resto do dia passa como uma lesma, com muito trabalho, o que me conforta é que com muito trabalho vem muito dinheiro. No final do dia antes de fecharmos meu melhor amigo que trabalha como entregador na loja vem me chamar.
- Ei! Vamos naquele barzinho legal perto da sua casa, hoje? - pergunta Oliver.
- É sério? Logo hoje? Estou tão cansada, o dia hoje foi tão cheio pra mim. - falo.
- Pra mim também, mas se a gente for esperar um bom dia pra sair, não vamos sair nunca. - diz.
- Você fala isso porque a única coisa que você faz é dirigir até uma casa e deixar umas caixas, você nem precisa falar nada se não quiser. Eu tenho que convencer, ser legal, sorrir, e ainda aturar um monte de cliente no meu ouvido o dia inteiro e o pior de tudo, em pé. - falo quase irritada.
- Você reclama demais! Nem é tão ruim assim. - ele ri
- Quer trocar? - pergunta.
- Não! Mas qual é, vamos lá! Vai ser legal! Emma também vai, ela quer muito que você vá. - insiste.
- E ainda por cima você quer que eu segure vela? - pergunto o olhando.
- Você sabe que não, vamos! Eu não aceito "não " como resposta. - ele diz.
- Tudo bem! Eu vou! Vou passar em casa pra me arrumar e encontro vocês lá. - Me rendo e aceito o convite.
- Essa é minha garota! A gente se ver! - ele beija minha bochecha e sai.
Vou pra casa e chegando lá vou me arrumar. Tomo um banho e procuro o que vestir, escolho uma saia estampada verde, uma blusinha de aucinha preta com uma jaqueta de couro também preta, calço uma sandália alta. Faço uma maquiagem leve e deixo meus cabelos longos e pretos soltos, pego a bolsa e saio do quarto.
- Vai sair? - pergunta meu pai quando passo pela sala.
- Sim! Vou num barzinho aqui perto com o Oliver e a Emma. - falo.
- Tudo bem! Mas não chega tarde que amanhã trabalhamos cedo, você sabe nessa época do ano não podemos nos dar ao luxo de faltar ou atrasar. - ele diz.
- Eu sei, papa. Não vou chegar tarde! - jogo um beijinho pra ele e saio.
Vou andando já que são apenas alguns quarteirões de casa. Apesar de não ser muito ligada ao Natal e nem essas coisas eu tenho que admitir que as ruas ficam lindas iluminadas e decoradas, Paris já tem sua beleza natural, nessa época fica mais ainda.
Chegando lá não demoro muito pra encontrar a mesa de Oliver e Emma. Eles são um casal tão apaixonado e meloso que não é difícil encontra-los.
- Oi! - me sento.
- Oi, amiga! Você tá linda! - Emma me elogia.
- Obrigada! - a namorada do meu amigo está linda vestindo um vestido longo todo florido.
- Hey Amelinda! - meu amigo estende a mão para que eu bata. Ele me chama de Amelinda desde o ensino médio quando nos conhecemos.
- E aí, Oli! - bato na sua mão.
Pedimos alguns drinks e conversamos bastante, depois de um tempo Emma pergunta.
- E aí? Como tá sendo a melhor época do ano pra vocês? - pergunta.
- A melhor época do ano pra lucrar isso sim, você sabe que não ligo muito pra isso, a não ser pelo dinheiro que multiplica, esse ano nem era dia 20 e  já estávamos pra bater a meta do ano passado. - falo e eles riem.
- Eu juro que não entendo esse seu jeito. - Emma sorri.
- Eu só sou sincera. Por falar nisso, fiz uma venda enorme hoje, acho que alguém vai ser a funcionária do mês de novo. - sorrio convencida.
- Eu vi você atolada de coisas com uma família quando passei lá pra pegar umas entregas. - Oliver fala.
- Pois é! Era uma família muito generosa, levaram muitas coisas, e eu tive que colocar um sorriso no rosto e fingir ter um grande espírito natalino. Eles realmente acreditaram que eu era ligada ao Natal e me importava com a cor das bolas da árvore de Natal deles. - falo.
- Você não vale nada. - Oli sorri e balança a cabeça.
- Fazer o que se eu nasci assim? - também sorrio.
Depois de um tempo os dois começam a se agarrar e namorar como se eu não estivesse aqui, é sempre assim e eu ainda insisto em vir. Levanto da mesa e vou até o balcão de bebidas.
Peço um drink e depois de alguns minutos sinto alguém se aproximar.
- Então você enganou a gente direitinho? - Jasper, o menino que foi com a família mais cedo na loja, se aproxima.
- Ah! Oi! Eu não enganei ninguém, eu só fiz o meu trabalho e muito bem por sinal, sua família saiu bem satisfeita de lá. - falo. - Mas como você sabe disso? O que tá fazendo aqui? - pergunto confusa.
- Eu tô com uns amigos ali na mesa do lado. - ele aponta pra mesa onde eu estava sentada.
- Então você ouviu? - pergunto.
- Sim! Você é boa, enganou todo mundo. - diz.
- Eu só fiz o meu trabalho, e sejamos sinceros, todos os vendedores são assim só não admitem. - digo dando de ombros.
- Eu realmente achei que você fosse legal. - fala ele.
- Mas eu sou legal, só não no que diz respeito ao Natal. - explico.
- Por que? - pergunta parecendo curioso.
- Minha família nunca foi ligada as tradições natalinas. Meu pai é papai Noel no shopping e minha mãe é dona da loja que trabalho, a vida inteira foi assim, eles trabalham o tempo todo nessa época do ano e nunca tivemos tempo de comemorar, então eu meio que nunca desenvolvi um amor pelo Natal. A não ser pelo fato de ser a melhor época do ano pra se ganhar dinheiro. - conto.
- Você é filha do papai Noel? Não posso acreditar, você pode falar pra ele que sou o maior fã dele? - fala em um tom brincalhão e eu sorrio.
- Vou pensar no seu caso, ele é um homem muito ocupado. - falo ainda rindo. - Mas e você? Não parecia estar tão animado quanto sua família hoje cedo. - eu realmente percebi que ele não parecia muito animado.
- Nós também nunca fomos assim malucos pelo Natal como parecemos hoje, minha vó que sempre foi, mas desde que ela se mudou há 3 anos pra morar com a gente começamos a criar esses hábitos, ela já é muito de idade e embora pareça dura na queda sua saúde não está nada bem, então fazemos isso por ela que ama tudo isso, e também porque não sabemos quando vai ser o último dela com a gente. - ele conta.
- Isso é muito legal! - falo tocada pela situação.
- Eu também acho. - diz.
- As vezes me pergunto se é possível um dia as coisas mudarem e eu pensar de forma diferente, ou se talvez eu tivesse nascido em outras circunstâncias, quem sabe numa família mais festiva, mas são só pensamentos que vão e voltam, na verdade eu nem me importo. - digo.
- Não sei como consegue! Desde que as coisas mudaram lá em casa pela minha vó, não consigo imaginar minha vida sem isso, e nem me lembro como era antes. Acho que essa é uma chance de mudar as coisas. - ele diz.
- Como assim? - pergunto confusa.
- Vamos fazer uma aposta, nos próximos 5 dias até o Natal nós vamos mergulhar de cara nas tradições natalinas, de todas as formas, assim você vai poder tentar me convencer de que tudo isso é pelo dinheiro, e eu tento te convencer do verdadeiro sentido. No dia 25 nós vamos ver se mudamos de ideia sobre o que achamos do Natal, já que pra você é só consumismo e nada de especial. - ele propõe.
- Parece meio doido mas é interessante. E quem ganhar, qual vai ser o prêmio? - pergunto curiosa.
- Um encontro. Se eu ganhar você vai ter que sair comigo. - diz e eu não consigo evitar um sorriso.
- É sério que você inventou tudo isso só pra sair comigo? Admiro a coragem. - falo ainda sorrindo.
- Não foi só por isso, mas essa seria uma boa oportunidade. - fala com um sorriso no rosto.
- E se eu ganhar? O que eu ganho? - pergunto olhando em seus olhos.
- Você vai poder me pedir o que você quiser. - fala com um sorriso no rosto.
- O que eu quiser? - sorrio.
- Sim! - responde.
- Fechado! - estendo a mão pra ele.
- Fechado! - ele aperta minha mão.
- Me conta mais como vai ser isso? - pergunto.
- Não vai ser nada que atrapalhe seu trabalho. Podemos fazer algumas coisas quando você tiver tempo, a noite por exemplo quando você sair da loja, no bairro onde moro minha vó faz questão de sempre fazer alguns eventos natalinos com os vizinhos, e em casa sempre fazemos coisas até o dia do Natal, amanhã vamos assar biscoitos por exemplo, você pode ir. - explica.
- E qual vai ser a minha vantagem de te convencer assando biscoitos? - pergunto.
- Você pode tentar me convencer de que toda essa coisa de assar biscoitos não faz sentido, enfim, isso é com você. - diz.
- Tudo bem! - concordo com ele e sorrio.
- Nos vemos amanhã? - pergunta me olhando nos olhos e sinto aquele olhar podia enxergar a minha alma.
- Sim! Agora eu preciso ir ver meus amigos. Até! - me despeço dele e volto pra mesa.
- Quem era aquele? - Emma pergunta curiosa.
- Um amigo. - respondo ainda com um sorriso no rosto.
No dia seguinte no trabalho passo dia pensando em como convencer Jasper sobre as minhas ideias em relação ao Natal.
A noite assim que chego em casa me arrumo e vou até a casa de Jasper no endereço que ele me mandou. Antes de eu sair do bar ontem ele me parou para trocarmos de número.
- Boa noite! - falo quando ele abre a porta.
- Boa noite! Que bom que chegou, já vamos começar! - diz me dando espaço pra entrar.
- Me atrasei muito? - pergunto.
- Não! Agora que vamos começar. - diz.
Vamos até a cozinha onde todos se arrumavam pra começar.
- Gente, vocês lembram da Amélia? Que nos ajudou na loja? - ele pergunta ao entrarmos na cozinha.
- Oi! Boa noite! - sorrio.
- Oi querida! - Ella a mãe de Jasper vem me cumprimentar.
- Olá, meu bem! - diz a avó.
- Vocês nem vão acreditar, nos encontramos ontem no barzinho que fui com uns amigos, comentei com ela sobre nossas tradições e ela se ofereceu pra participar. - ele joga uma piscadela pra mim.
- Se vocês não se importarem, é claro! - falo.
- De jeito nenhum, você é muito bem-vinda! - diz Ella.
- Amiga do nosso filho é nossa amiga também. - fala Thomas.
- Obrigada! - sorrio.
Começamos a fazer os biscoitos. Logo dou um jeito de provocar uma dúvida na cabeça de Jasper.
- Você já parou pra pensar que fazer esses biscoitos e decorar tanto não faz o menor sentido? Você perde muito tempo sendo que seria muito mais prático ir a uma padaria ou supermercado e comprar. - cochicho perto dele quando não estão olhando.
- Mas esse não é o sentido, se fosse só pra comer essa realmente seria a melhor opção. O sentido real é reunir e aproximar as pessoas, o amor pelo Natal, as coisas boas que isso pode proporcionar e os momentos. Qual a outra época do ano podemos ter a desculpa de reunir todo mundo pra cozinhar e fazer bagunça? Além do mais biscoitos caseiros são muito melhores. - explica.
Olho pra ele com o olhar de rendida por seu argumento.
Voltamos a fazer os biscoitos e hora ou outra jogamos alguns argumentos no ar um pro outro, até agora acho que tá empatado.
Quando ficaram prontos Olívia fez chocolate quente para comer com os biscoitos. E sim, foram os melhores biscoitos que já comi na vida.
- Eu disse que os biscoitos caseiros são os melhores! - diz convencido quando vê que eu simplesmente amei.
Os dias seguintes que se passam continuamos com nosso acordo. Um dia chamo ele pra me observar trabalhar e ver o que eu tenho que passar para que os outros tenham um Natal "perfeito". Ele diz que eu realmente tenho que ter um estoque de paciência muito grande pra aturar o que eu aturo.
Hoje é dia 23 e Jasper me chamou pra ver o coral do seu bairro que é ensaiado por sua avó todos os anos, se apresentar.
Chego quase na hora da apresentação por conta do horário que saio da loja.
- Oi! - falo baixinho ao chegar e me sentar ao seu lado.
- Oi! Você demorou! - diz.
- Desculpe! Me enrolei pra sair da loja. - explico.
Coral começa guiado por Lucy, a avó de Jasper. Ela estava uma gracinha de vestido vermelho e laço no cabelo.
Eles cantam lindas canções de natal e quando termina Jasper me acompanha até o carro.
- Então, faltam dois dias pra nossa aposta acabar, e eu continuo com meus pensamentos intactos. Será que você não tem nada pra me dizer? - pergunta.
- Bom, eu tenho que admitir, tudo isso tem me surpreendido muito, tá sendo muito legal. - falo com um sorriso no rosto.
- Tá vendo! Eu disse! Você não pode passar a vida inteira fugindo das coisas legais da vida, tudo o que você disse sobre o dinheiro e que talvez todas essas coisas sejam invenções da sociedade capitalista pras pessoas gastarem têm seu lado de razão, mas e dai? Isso faz as pessoas felizes, fazem elas viverem de verdade. - fala.
- Eu disse que concordo que tudo isso tem sido bem legal e que estou gostando, mas não disse que tinha mudado de opinião. - digo com um sorrisinho no rosto.
- Ok! Eu ainda tenho dois dias. Amanhã é minha última chance e vai ser em grande estilo, se você não se comoveu com o coral treinado pela minha vó, com certeza você vai se comover com uma apresentação de ópera. - sugere.
- Opera? Isso é coisa de gente fresca. - sorrio.
- Não é não. - ele ri. - Eu vou te provar que não. Depois dessa é impossível você se render ao Natal. - diz.
- Tudo bem! - sorrio.
- Você fica bonita quando sorri, deveria sorrir mais. - fala e eu fico vermelha de vergonha.
- Obrigada! - sorrio sem graça. - Eu preciso ir! - me despeço dele com um beijo no rosto e entro no carro. No caminho venho pensando em todos esses dias que tenho passado com ele, tem sido realmente muito especial,  as vezes penso o porque das coisas terem sido assim, talvez fosse mais facil se eu tivesse nascido numa família como qualquer outra. Mas também penso o quanto tudo isso é injusto, existem familias que tem tudo e comemoram com o que há de melhor como a família do Jasper, e outras que não tem nada. Comemorar o nascimento de Jesus com pessoas passando fome não parece justo.
Volto a pensar o quanto tudo isso tem mudado minha cabeça, me peguei desejando "feliz Natal" pra atendente da padaria hoje de manhã, eu nunca fiz isso a não ser com os clientes da loja porque preciso ser gentil.
Chego em casa e vejo meu pai ainda na sala vendo TV.
- Oi papa! Pensei que já estava deitado. - falo me sentando ao seu lado.
- Ainda não fui, estava esperando você chegar. - diz.
- Por que? - pergunto.
- Onde você tem andado todos esses dias? - pergunta.
- Um amigo resolveu me mostrar o lado bom do Natal, que não envolve dinheiro. Tem sido muito especial. Por que? - pergunto.
- Você parece mais alegre, sensível, e até mais paciente depois disso, seja quem for está te fazendo muito bem. - fala.
- Achei que você ia dizer que tudo isso não passava de uma grande perda de tempo. - digo.
- Sabe filha, esses últimos tempos eu tenho pensado em quanto tempo eu perdi naquele shopping, eu gosto do que faço, o sorriso das crianças quando me veem é muito bom. Mas eu só pensei no que podíamos ganhar financeiramente com isso e esqueci de viver, você nunca teve uma ceia de natal com sua família. Nunca tivemos um momento em família de abrir os presentes e nem nada disso, e hoje eu me arrependo tanto porque vejo que você está se tornando uma pessoa como eu, que não se importa com as coisas boas da vida de verdade. - diz e eu fico chocada com suas palavras, eu nunca imaginei ouvir isso dele. - Durante todos esses anos eu vi coisas tão lindas naquele shopping, pedidos de crianças tão emocionantes, e no final das contas é isso que importa, as coisas boas. - termina.
- Pai! Eu nem sei o que dizer, eu jamais pensei que você pudesse falar isso, que pudesse pensar isso. - Me emociono ao ouvir.
- Esses dias tem sido muito especiais pra você mesmo, não é? - pergunta.
- Sim! - falo enxugando as lágrimas.
- Esse rapaz deve mesmo gostar de você. Pra tentar te convencer a gostar do Natal. - ele sorri.
- Na verdade a gente fez uma aposta. Se ele ganhar eu tenho que sair com ele, e se eu ganhar posso pedir o que eu quiser. - explico.
- E ele ganhou não foi? - pergunta me olhando nos olhos.
- Acho que sim! - sorrio.
- Você gosta mesmo dele não é? - pergunta.
- Acho que sim! - sorrio sem graça.
- Então você está esperando o que pra dizer isso pra ele? - pergunta.
- Não sei! - falo meio receosa.
- Se eu fosse você levantava a bunda daí e ia logo. - ele diz.
- Tudo bem! - sorrio e saio correndo de volta pra casa de Jasper.
Chegando lá bato na porta e Olívia abre.
- Você pode chamar seu irmão? - pergunto um pouco nervosa.
- Tudo bem! - ela sai e depois de alguns segundos ele volta.
- Eu sabia que você voltaria. - ele diz se aproximando e me beija.
- Mas eu nem disse nada. - falo sorrindo quando nos soltamos.
- Não precisa! Eu sei o que você vai dizer. - fala e me beija novamente.
No dia 25 minha mãe resolve fechar a loja mais cedo pela primeira vez na vida, e meu pai troca de turno mais cedo com um colega também. Jasper nos convida para passar o Natal com sua família, é realmente uma das melhores noites da minha vida, comemoramos e comemos muito. E hoje eu acho que posso dizer que agora sei o significado e importância do Natal.

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⏰ Última atualização: Jan 19, 2021 ⏰

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