Já sentiu que alguém é o seu centro de gravidade? A força na qual giram todas as suas vontades e escolhas? É exatamente assim que Type é para mim.
A verdade é que eu nunca tive dificuldades em aceitar meus próprios sentimentos, nem mesmo quando os obstáculos de me impor como um garoto gay pairaram sob a minha cabeça jovem. Eu vinha de um lar em que a maioria consideraria uma grande sorte. Estava ciente dos meus
privilégios. Meu pai e minha mãe me fizeram ser testemunha de um amor diário, extremamente sólido e altruísta.Havia também Thorn e minha doce princesa, que me ajudaram a rabiscar os primeiros esboços do que eu consideraria a felicidade — família e estabilidade.
Portanto, não era de se estranhar que eu crescesse cheio de expectativas quanto ao amor.
Contudo, as primeiras decepções vinheram ainda muito cedo.
P'San, um veterano charmoso, não chegou nem perto do príncipe que eu idealizara para a minha primeira experiência sexual. Foi uma transa bruta e carnal, e eu não poderia ter me sentindo mais usado. Naquele dia, eu chorei pela minha frustração. Questionando se minhas predileções pelo sexo masculino eram de fato corretas.
O que me levou à minha segunda decepção, sexo com mulheres. Foi repulsivo. Eu nem mesmo me permiti terminar. Soava como açoites em minha alma. Eu havia desrespeitado minha própria natureza — estava enojado.
Chorei àquela noite até ter o vislumbre dos primeiros raios de sol. Doeu ainda mais que minha experiência traumática com P'San. Me perguntava seriamente se o amor que transbordava em mim estava fadado ao fracasso.
Foi assim que decidi me dedicar às coisas mais sólidas que existiam em minha vida. Minha família, amigos, como Lhong, à quem eu tinha uma estima muito alta, e à música.
Neste ponto era algo que eu e Lhong partilhavamos, talvez daí minha amizade com ele fosse tão verdadeira como a base que nos unia.
Música foi definitivamente um ponto de alinhamento. Algo ao que eu poderia doar toda a minha adoração, meu amor, e minha intensidade. Um terreno seguro.
Mas não demoraria muito para que eu descobrisse outros prazeres.
Eu ainda lembrava.
Foi no segundo ano do ensino médio.
Um rapaz de aparência doce tocando violino nas imediações da sala de música. As feições imersas em prazer pelo torpor que as notas clássicas lhe causavam me deixaram em completa hipnose. Eu era um garoto gay, romanticamente frustrado, e aquele jovem não demoraria muito a se tornar alvo das minhas idealizações.
Começamos a sair ainda naquela semestre e eu ficaria muito feliz em descobrir que além de um um homem lindo, o violinista se sujeitaria à mim na cama. Transar com ele trouxe algumas verdades à tona.
1. Eu definitivamente gostava de garotos.
2. Transar sendo o ativo era a melhor coisa que eu havia descoberto naquele verão.
Um novo mundo se abrira. Eu tinha 16 anos e estava apaixonado.
Entretanto, não tardaria a descobrir que eu não era o único em suas paixões. E ainda que eu não sentisse que o jovem com quem dividi seis meses da minha vida fosse o homem com quem estaria até o fim dela, aquilo me feriu e feriu muito.
O amargor que o medo de terminar sozinho me causava, subiu-me novamente à garganta. E no meio de todo o furacão de emoções que meu término abrupto trazia, eu me perguntava se era mesmo por ele à quem eu devotava àquelas lágrimas, ou se as minhas idealizações, medos e necessidades compulsivas, eram os verdadeiros reflexos das minhas ilusões contrariadas. Importava mesmo que fosse ele? Ou qualquer outro que estivesse disposto a suprir minhas necessidades físicas e emocionais me apeteceriam com a mesma rapidez?