Todo processo do divórcio é estressante. Desde a decisão tomada até aos processos legais que devem ser feitos sobre isso. Não há nada de agradável para nenhuma das partes. Talvez dinheiro, quando uma delas sempre esteve interessada nisso. Mas para mim e Chloe, desde que optamos por nos separar, as coisas só são absurdamente cansativas para ambos.
E para Lucy.
Ela odeia toda essa inconsistência de morar cada semana na casa de alguém. Sempre nos pede para voltarmos a ser uma família de verdade, morando juntos. As respostas se baseiam em "papai e mamãe são mais felizes em casas separadas". Ela nunca entende muito bem, mas não nos questiona. Aceita nossas explicações, principalmente quando são seguidas de sorvete de chocolate.
Me sinto culpado por isso, as vezes. Como se não me esforçasse o suficiente. Mas eu e Chloe já não estávamos mais felizes. Há barreiras e sentimentos escondidos demais entre nós. Assuntos mal resolvidos do passado. Pessoas que não conseguimos nos desconectar.
Por isso preferimos nos divorciar agora, com poucos anos de casamento e muitos de vida pela frente, do que nos tornarmos aqueles casais que passam vinte anos juntos e infelizes. Nenhum de nós quer olhar para trás se arrependendo de tudo que fez.
- Cuidado para não derrubar nada das prateleiras, filha – chamo sua atenção enquanto passeamos pelos corredores do mercado perto de casa.
Carrego a cesta em uma das mãos, com um olho analisando os produtos e outro observando Lucy saltitar pelo chão escorregadio do local.
Prendi seu cabelo num rabo de cavalo alto antes de sairmos de casa hoje, mas alguns fios loiros já se soltaram do penteado. Ela veste um vestido rodado com estampas de morangos e sapatilhas vermelhas, combinando. Vez ou outra para perante uma prateleira e começa a olhar os produtos, fingindo que os lê. Até leva os dedos ao queixo, como se de fato os estivesse analisando.
Essa menina ainda vai me dar muita dor de cabeça, penso comigo mesmo, sorrindo.
Volto minha atenção a embalagem de molho de tomates. Pretendo preparar macarrão ao molho vermelho hoje, o preferido de Lucy. Comparo as marcas e os preços, optando por um molho de qualidade e ainda assim com um preço agradável. Tenho um trabalho que me paga muito bem e dinheiro não falta em minha vida, mas isso não significa que eu saia por aí comprando qualquer coisa sem nem ao menos saber seu valor.
Meu olhos retornam para o corredor, vendo minha filha virar para a esquerda, saindo da minha linha de visão.
- Droga – resmungo, jogando desajeitadamente o molho em minha cesta e apressando o passo para alcançá-la.
Pais e seu total de zero horas de sossego.
Vou na mesma direção na qual a vi seguir e graças a Deus minhas íris pousam prontamente nela. Não foi muito longe, afinal.
Me aproximo, vendo minha filha conversar com uma mulher agachada a sua frente. – Lucy, já te disse que não é para sair de perto de mim – esbravejo ao ficar logo atrás de seu corpo pequeno.
Ela ergue os olhos castanhos, encontrando os meus da mesma cor, culpa e arrependimento brilhando neles. – Desculpa papai – a felicidade em sua expressão cai, me deixando confuso. Usa um de seus dedinhos para apontar para a mulher a minha frente, que agora se põe de pé – Encontrei a professora Sophia.
Franzo o cenho, voltando meu olhar para a morena tímida. Conheço a professora de Lucy e com certeza seu nome não é Sophia. Sequer é parecida com essa aqui.
Passo meus olhos pela mulher, usando jeans e uma camisa social lilás simples, os botões abertos, uma regata branca por baixo. Seus cabelos e olhos são em tons bem escuros de castanho, contrastando com sua pele clara. As maças de seu rosto são proeminentes e elevadas, além das covinhas em ambas as bochechas visíveis por seu sorriso constrangido. Ela é alta, mesmo com saltos. Provavelmente da mesma altura que Chloe.
- Desculpe por isso – diz para mim, estendendo a mão – Sou Sophia Jensen. Trabalho na escola de Lucy, por isso ela me reconheceu. Mas não dou aula para ela. Não ainda – olha para minha filha e pisca em sua direção, a fazendo dar uma risadinha e se apoiar contra minhas pernas.
Verifico seu rosto mais uma vez, um pouco para analisar se está dizendo a verdade e um pouco porque uau, ela é linda. Mas a palavra divórcio logo pisca em meu cérebro, me fazendo balançar a cabeça e estender a mão, cumprimentando-a de volta.
- Jacob Jackson, pai de Lucy – sorrio de volta, tranquilizando-a.
Seus ombros relaxam. Vejo que também analisa meu rosto e corpo, suas bochechas corando após alguns segundos. Essa reação me faz sorrir mais largamente.
- É um prazer, Jacob.
- Igualmente.
Nos encaramos, a voz da minha filha logo se fazendo presente – Também gosta de chocolate, professora?
Volto o rosto automaticamente para baixo, vendo duas barras do doce na cesta de Sophia.
A morena abre um sorriso sem graça para nós, dando de ombros – Comprei para mim e meu namorado.
Namorado.
- Pai, eu posso ter um namorado? – Lucy pergunta, me encarando curiosa – Para que serve um desses?
Arregalo os olhos para ela, escutando Sophia engolir o riso a nossa frente. Respiro fundo, passando a mão pela barba por fazer.
- Talvez um dia, querida – é minha resposta, engolindo todo meu orgulho masculino para não dizer que matarei qualquer homem que chegar perto da minha garotinha. – Agora vamos, temos que nos preparar para o jantar.
Sophia nos observa sorridente, se agachando novamente quando Lucy fica na ponta dos pés para lhe dar um beijo na bochecha. – Bom jantar, querida – diz para minha filha, carinho em seu tom.
- Tchau Sophia – me despeço, esticando a mão novamente. Ela a pega, olhando tão rapidamente para minha mão esquerda que mal consigo notar.
- Tchau Jacob, bom jantar para vocês – troca a cesta de mão, afagando os cabelos de Lucy uma última vez e saindo do corredor vazio.
Observo seu corpo esguio se afastar de nós – Como você a conhece se ela não te dá aula, filha?
Lucy dá de ombros, as palmas das mãos viradas para cima – Os meninos estavam fazendo bobeiras comigo um dia e ela me ajudou.
Volto o olhar para a pequena loira ao meu lado – Que tipo de bobeiras?
- Puxavam minhas tranças.
Puxavam minhas tranças.
Uma conversa de anos atrás volta ao meu cérebro imediatamente. Não consigo me perder nela, no entanto, porque minha filha continua a falar.
- Mas professora Sophia me disse para chutar as canelas desses meninos sempre que fizessem isso – arregala os olhos, levando as duas mãozinhas a boca – Isso era segredo de meninas, papai – seu tom de voz diminui – Promete não contar a ninguém que estou fazendo isso?
Meus olhos imediatamente encaram o corredor, agora vazio, a gargalhada escapando de dentro de mim.
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HAHAHA eu adoro escrever sobre a Lucy!
Sexta feira teremos dois capítulos narrados por personagens diferentes do que estamos acostumados... apostas sobre quem sejam?
Espero que estejam gostando ❤️
M. P.
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Todos os dias deixados para trás
RomantikCinco anos após o verão que mudou suas vidas, Megan e Jacob são colocados cara a cara novamente. Anos se passaram desde que Jacob Jackson e Megan Collins tiveram suas vidas viradas de cabeça para baixo. Com carreiras estáveis e novos objetivos...