capítulo único.

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As mãozinhas de Yangyang foram ágeis ao empurrar o corpo do guarda real contra o pequeno espaço atrás do pilar, e tapar a sua boca com as mãos. Ele carregava um sorriso sapeca nos lábios bonitos, aquele que as crianças possuem quando encontram o plano perfeito para roubar doces antes do jantar. O príncipe vivia com esse sorriso sempre que estava junto ao seu guarda. 

— Fique em silêncio, Wong. Só mais um pouco – a realeza sussurrou e Kunhang percebeu, ali mesmo, observando o rosto iluminado pela luz colorida que atravessava os vitrais postos na direção dos ombros do príncipe, Liu Yangyang era o sol, a lua e as estrelas. Ele era um universo inteiro e tudo sobre ele refletia o tamanho de sua grandeza.

E, toda vez que Wong Kunhang se aproximava dessa órbita de perfeição, sorrisos lascivos e movimentos graciosos, ele se afundava um pouquinho mais. 

Wong se manteve quieto, aproveitando da sensação eufórica de estar perto do segundo herdeiro do trono, se escondendo dos outros guardas – os mais velhos, dos níveis superiores – e do rei, que conversavam sobre alguma burocracia chata da família real bem no final do corredor. Ali, porém, ele percebeu que, por mais que tentasse com todas as suas forças se afastar do príncipe de olhar profundo e uma lábia barata demais para alguém com sangue rico demais, Yangyang era impossível de não se notar. De não deixar entrar em seu coração, de não deixar que ele bagunçasse tudo ali dentro e saísse impune dessa grande confusão. Yangyang era uma confusão. Limpa, com movimentos de cintura calculados, boca suja, sorriso de fazer tremer todos os ossos de quem visse, toques singelos e beijos de tirar o fôlego. 

Kunhang percebeu que não poderia se afastar dessa areia movediça de sentimentos, porque, quanto mais ele se mexia para se livrar de tudo isso, cada vez mais, todas as sensações que o atingiam cada vez que o príncipe aparecia – o coração acelerado, os pensamentos, sorrisos bobos, vontade de sentir a pele macia e real contra a sua, a vontade de pegá-lo pelas mãos bonitas e fugir para longe e as reações de seu corpo se virando contra si mesmo, aumentavam — puxavam-lhe pelos pés, sufocavam-lhe o ar de seus pulmões e enterravam o guarda real até a boca. Da maneira que só Liu Yangyang sabia fazer. Quanto mais ele tentava se afastar – não com o real esforço de uma intenção realmente verdadeira, porém –, acabava percebendo que era em vão, e sempre seria. Todas as vezes que dizia para si mesmo o quanto não sentia nada pelo príncipe, no final, acabava se perdendo em suas próprias palavras, na boca do príncipe, no meio de suas pernas bonitas, dignas da realeza, se apaixonando de novo, de novo e de novo, pelo seu gosto, por todos os tremores, puxões de cabelo e sons bonitos e obscenos que escapavam pela garganta pintada por beijos e mordidas na pele do garoto que nascera em um berço de ouro.

Todas as marcas eram presentes, artes, feitas do guarda real do Palácio, para o seu eterno príncipe. 

Ele se deu conta de que, lutar contra isso, era inútil. Tão inútil quanto tentar empurrar o príncipe para longe, quando as suas bocas estavam coladas, as mãozinhas curiosas e bonitas de Yangyang passando pela sua nuca, puxando os fiozinhos meticulosamente arrumados e fazendo o que ele sabia de melhor: transformar tudo numa bagunça. 

Os guardas e o rei já haviam ido embora há tempos atrás. Viraram o corredor na direção oposta em que os dois garotos estavam escondidos e seguiram com passos rápidos e firmes até a grande sala de reuniões. Yangyang sempre achou que o seu pai andava como um líder e se portava como um até mesmo quando não era necessário que ele fosse um. Seu irmão mais velho, da mesma maneira. O seu olhar era tão firme e decidido quanto às suas palavras e postura. Yangyang o admirava e invejava ao mesmo tempo. Ele nunca seria daquele jeito, tinha plena certeza disso. Suas prioridades não eram as mesmas que as da família real, e isso era errado. Nenhum membro desse círculo de dinheiro, história e poder, deveria seguir por um caminho que fosse diferente dos demais. Liu seguia, em silêncio, de sua própria maneira, vivendo uma vida de agente duplo à sua própria maneira, equilibrando as vontades de uma linha de decisões, ordens, feitios e planos futuros vindos de uma hierarquia inquebrável. E as suas próprias vontades e ambições, deixadas todas muito bem escondidas ao traçar o seu caminho por lugares que a sua família real e perfeita não ousaria sonhar e, muito menos, pensar um pouco sobre. Seria assustador para eles. 

E é por isso que eles não se preocupam quando o príncipe desce pelo abdômen bonito do guarda real, mergulhando-se na textura e no cheiro de sua pele, deixando que os suspiros e toques de Kunhang sobre o seus cabelos ofuscassem todos os seus outros sentidos e preocupações. Eles não se preocupam, porquê não vêem, porquê não sabem, não têm a menor ideia. E Yangyang prefere assim. Kunhang também. O segredo dos dois, mantido escondidos às sete chaves e uma tranca fechada.

Os dois não sabem ao certo quanto tempo passou desde que eles entraram no quarto, bateram a porta em meio aos beijos, jogaram as roupas pelo piso bonito do cômodo enorme e desfizeram toda a cama, bagunçando os lençóis de seda azul escura. Eles se dão conta de que passaram bastante tempo juntos, quando o príncipe sussurra o seu último "sim, por favor" e Kunhang permite que ele se derrame sob o seu corpo, ofegante e exausto – ele gosta da maneira suja como a realeza implora –, e o sol já não está mais no céu e a luz da lua, que observa o romance proibido dos dois lá do alto, ilumina os seus corpos com o seu brilho emprestado. Ela também guarda o segredo deles, ela também teme por eles.

Yangyang é lindo enquanto dorme – é lindo o tempo todo – e Kunhang se entristece por não poder passar o resto da noite e o começo da próxima manhã ali, observando a sua expressão calma e ouvindo a respiração leve e relaxada. E quando o príncipe acorda, logo se desanima, suspira de maneira quase que decepcionada, porque, não tão no fundo, os dois sabem que isso é impossível e não pode e nem vai se tornar algo concreto. Eles dois nunca serão "eles dois", Kunhang e Yangyang nunca serão um "nós". 

Liu Yangyang e Wong Kunhang seriam, para sempre, o segundo herdeiro do trono e um simples guarda do Palácio. 

E depois de todos os toques, olhares, sensações e confusões que eles passam juntos por uma noite inteira, sempre termina com o último item da lista, logo que a manhã chega; eles notam que nunca vão ficar juntos da maneira que desejam.











oi
não sei o que dizer
amo eles
espero que tenham gostado <3
talvez eu volte :]
obggggg sz sz

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